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Juiz-forano eleito melhor árbitro da Superliga é convocado para a Liga das Nações

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O juiz-forano Anderson Caçador, 53 anos, acumula convocações em muitas das principais competições da modalidade no mundo, como em diversas edições da Liga Mundial, além de Grand Prix e do Campeonato Mundial da modalidade. Não fosse o bastante, após ser eleito o melhor árbitro da Superliga Masculina nesta temporada, o integrante do secretariado da Comissão Brasileira de Arbitragem de Voleibol e referência no quadro de arbitragem internacional, ainda irá trabalhar na Liga das Nações, também como parte da representação do Brasil no torneio.

“O reconhecimento não é fácil. É uma honra e me faz muito feliz receber essas notícias, como a de que fui nomeado à Liga das Nações”, conta à Tribuna o personal trainer e também especialista em Gastronomia, outra área de seu interesse. Formado em Educação Física pela UFJF, em 1990, Anderson, agora de carreira consolidada no voleibol, recordou o início de sua trajetória, quando ainda morador dos bairros São Mateus e Santa Luzia, Zona Sul da cidade.

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Então aluno da UFJF, Caçador teve primeiros contatos com a arbitragem nos Jogos Escolares (Foto: FIVB)

Tribuna de Minas – Como foi sua caminhada até a elite do voleibol brasileiro e mundial?

Anderson Caçador – Eu estava na aula de Educação Física e o Gilmar Quaresma, que trabalhava na Prefeitura na época, apareceu perguntando se alguém tinha interesse em apitar nos Jogos Escolares. Eu aceitei, tinha uma fase em Sete Lagoas e as finais em Juiz de Fora. Acabei apitando handebol, vôlei e basquete. A partir das finais, fizemos uma parceria para os Jogos Escolares de JF e as coisas foram crescendo. Me formei em 1990 e em 91 vim pra BH. Fiz o curso da Federação Mineira. Atuei um tempo em JF e me mudei pra BH. Aí a coisa começou a ir para outro nível, com Campeonato Mineiro e tudo. Em 1998 eu fiz curso para aspirante ao quadro nacional, em 2020 fiz o curso nacional e cinco anos depois o internacional no Sudão. Fiz um estágio em 2009 e minha carreira no exterior começou. Desde então consegui trabalhar nas principais competições pelo mundo. E ainda sou secretário da Comissão Brasileira de Arbitragem, trabalho na formação de novos profissionais.

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– Sua paixão pelo vôlei foi muito influenciada pela época de Sport e Olímpico, duas das principais equipes de JF nas décadas de 1970 e 80?

– Mais do Sport. Eu ia em todos os jogos do clube naquela época. O time foi até campeão mineiro. Aquele ambiente contribuiu muito, sem dúvida, na minha paixão pelo voleibol. Lembro que quando tinha Sport x Flamengo, por exemplo, a torcida do Fluminense ia em peso e torcia para o Sport. O mesmo acontecia quando era Sport x Fluminense, com a torcida do Flamengo.

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– Há alguma partida ao longo da sua carreira que se tornou a mais inesquecível pra você?

– A primeira final de Superliga como primeiro árbitro, que foi, curiosamente, a estreia do sistema de desafio no Brasil, na edição 2013/2014. A CBV contratou essa tecnologia da Polônia, e o jogo foi no Ginásio do Ibirapuera. Era Osasco e Rio de Janeiro. Osasco fez 2 a 0, tomou a virada em um jogo espetacular. Foram 20 pedidos de desafios e só erramos em um. E têm as partidas de Mundial. Mas a mais importante é sempre a próxima.

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– Como foi trabalhar nesta temporada em meio à pandemia? Mesmo com os protocolos, imagino que seja impossível se sentir completamente seguro.

– Confesso que com receio. Já tomo cuidado na vida cotidiana, mas nessa situação de árbitro, você pega voos, por exemplo. Tomo banhos de álcool, evito contato maior com outras pessoas, me cuido muito. Na Superliga, por exemplo, o primeiro árbitro de uma das partidas, a da eliminação do Sada Cruzeiro nas quartas de final, pegou Covid. Eu trabalhei como segundo árbitro na ocasião. Mas fiz 11 testes lá e todos deram negativo, graças a Deus. Tivemos dois profissionais de alto escalão, o Radamés Lattari, vice-presidente da CBV, e o Renan (Dal Zotto, técnico da seleção) também diagnosticados com coronavírus durante as semifinais. O Radamés tem se recuperado, ainda bem, mas o Renan ainda está na UTI (com quadro estável). Então, apesar de todos os cuidados que temos, não dá pra se sentir 100% seguro.

– A ausência da torcida e as críticas à arbitragem fizeram falta?!

– É claro que a torcida é algo muito bom para o espetáculo, mas analisando friamente, para o árbitro no jogo, é melhor sem porque tem menos barulho. O torcedor muitas vezes vai na paixão, acaba ofendendo. E tem casos até como o de uma senhora, uma vez, que ficou falando sobre apitar dois toques. Eu virei para trás e falei para ela que na primeira bola não tinha dois toques, o que a pessoa do lado dela confirmou. Por falta de informação falam que estamos errados. Claro que o árbitro erra, mas por erro de fato, e não de direito. O erro de fato é quando você não tem uma visão do que aconteceu.

– Há uma profissionalização na arbitragem do vôlei ou é similar ao cenário do futebol?

– Não tem ainda uma profissionalização. É uma prestação de serviços, não temos vínculo empregatício com as federações e confederações. Estamos para criar uma associação dos árbitros para lutar pelos direitos da arbitragem no Brasil. Lá fora estão engatinhando também.

– O quanto a tecnologia auxiliou seu trabalho e ainda pode contribuir?

– A tecnologia no vôlei veio pra ficar. Pode ser até contestável em alguns momentos porque tem a imagem da TV, em frames, enquanto a do desafio possui qualidade maior. Pode haver uma diferença, mas são poucas coisas. Mas se parece com a do tênis, em que o próprio treinador ou jogador que pede o desafio, e isso diminui as reclamações. Deixou o trabalho mais fácil. No Brasil ainda avançaram na tecnologia de invasão por cima também, mas lá fora com certeza vão adaptar com recursos melhores. Aqui, o grande detalhe, e que talvez já possa acontecer a partir da próxima temporada, é que a maioria dos jogos da Superliga tenha o desafio. Mas não há muita coisa diferente do que tem sido aplicado. Talvez colocar mais câmeras para ver toque em defensor ou na resolução das imagens, o que pode ajudar bastante pela alta velocidade enorme do jogo.

– Você possui quais metas como árbitro? Há alguma competição que almeja trabalhar ou um sonho profissional?

– A única competição que não atuei ainda é Olimpíada. Nessa de Tóquio já tem um árbitro muito competente nomeado, não tem como para mim, mas em 2024 pode ser. A regra do vôlei diz que tenho que me retirar com 55 anos. Por mais que eu não tenha essa idade para seguir mais, pode vir um convite para continuar na carreira. Mas se não for possível, estou muito satisfeito com tudo o que conquistei. Viajei pelo mundo, passei por todos os continentes pelo voleibol. Mas claro que existe esse sonho, seria uma nova enorme alegria.

Árbitro, que tem Liga Mundial, Grand Prix e Campeonato Mundial no currículo, sonha participar de uma Olímpiada (Foto: FIVB)

– Acompanha o voleibol juiz-forano? Torce pelo sucesso do JF Vôlei e de atletas da cidade, por exemplo?

– A minha torcida é a de que Juiz de Fora recupere o prestígio como celeiro de atletas, através dos excelentes técnicos e profissionais que tem, onde já passaram Tuba, Gisele, Márcia Fu, José Eduardo Bara, André Nascimento, agora o Felipe Roque. Minha torcida é para que isso volte, porque achavam que eu era louco quando eu fui morar em Belo Horizonte. Em Juiz de Fora tinha o Bom Pastor no masculino e feminino, o Sport, Granbery também. Para minha sorte e azar da cidade, infelizmente, ali o vôlei foi morrendo. Agora tem voltado, o próprio Felipe Roque é um reflexo disso, mas minha torcida é para que a cidade volte a estes tempos, porque temos muitas pessoas competentes para isso.

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