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JF tem mais de 22 mil empreendedoras à frente dos próprios negócios

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O número de mulheres que começaram a empreender aumentou em todo o país, entre os anos de 2016 e 2019. Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o empreendedorismo feminino já está se recuperando dos impactos da pandemia, desde o ano passado. De acordo com o Portal do Empreendedor, atualmente, em Juiz de Fora, 22.572 mulheres estão à frente dos negócios, ou seja, cerca de 49% do total na cidade, que é de 47.555 microempreendedores. Nos últimos meses, a cidade tem sediado diversos eventos de iniciativas que fornecem trocas de experiências, capacitação, parcerias e atuam como rede de apoio a essas empreendedoras.

A cabeleireira Luciana Miranda começou a empreender em 2013, após fazer um curso de beleza gratuito oferecido pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), mas foi durante a pandemia, quando a empresária achou que não conseguiria manter o empreendimento, que seu negócio decolou. Antes, Luciana atendia em um salão no Bairro Parque das Torres, na Zona Norte da cidade, junto com uma profissional de estética, mas, em razão das medidas de isolamento social, precisaram fechar o estabelecimento. A alternativa encontrada foi começar a receber as clientes nos fundos de sua casa, localizada no mesmo bairro, e assim surgiu o Mulheres Que Brilham. “Com os grandes salões fechados, houve um aumento na procura dos salões de casa nas periferias. Com isso, eu comecei a investir em cursos para me especializar.” Hoje, Luciana é referência na área de cabelos crespos e cacheados em Juiz de Fora.

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“Eu trabalho com mulheres da periferia, mulheres com dificuldade de reconhecimento e ajudo a resgatar a autoestima das minhas clientes, pois também passei pelo processo de transição capilar. Por isso, comecei a estudar sobre empreendedorismo, conhecer novas pessoas e fazer parcerias para expandir meu negócio”, conta Luciana, que destaca a importância da Rede Empreendedora Moinho, que desenvolve ações para apoiar o empreendedorismo feminino na Zona Norte a partir de formação, capacitação, conexão e outras estratégias que buscam o desenvolvimento da economia local. Atualmente, 80% da Rede Empreendedora Moinho é composta por mulheres, e os encontros acontecem uma vez por mês na sede localizada no Bairro Francisco Bernardino.

Por meio do movimento do Moinho, Luciana conseguiu uma parceria com um espaço de beleza que será inaugurado no Morro da Glória e fará parte da equipe de profissionais do salão. “É muito importante acontecerem esses encontros na cidade e ter a estrutura da Rede Moinho disponível, que nos faz conhecer, se conectar e comprar o serviço de outras pessoas, um ajudando o outro. Hoje eu atendo no fundo da minha casa, mas estou construindo um salão aqui no bairro mesmo e pretendo empreender na comunidade para formar outras mulheres empreendedoras”, afirma a empresária.

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A cabeleireira Luciana Miranda é referência na área de cabelos crespos e cacheados em Juiz de Fora (Foto: Giovanna Mozzato)

Busca pela autonomia financeira

De um grupo de motoqueiras que se reuniam para compartilhar a mesma paixão: andar de moto, surgiu a empresa Invocadas Express, que conecta motogirls ao mercado de delivery. A ideia partiu de Andressa Martins e foi abraçada por outras mulheres que participavam dos encontros do Invocadas Club e trabalhavam como entregadoras.  O Invocadas Express começou a rodar por Juiz de Fora, em fevereiro deste ano, e já conta com dez motogirls.

“A nossa intenção em criar o grupo era conseguir mais entregas e trabalhar de forma independente, tendo autonomia em relação ao valor que recebemos, que é 100% nosso, o que seria diferente se trabalhássemos para uma outra empresa. Além disso, nós transportamos mercadorias delicadas, que não podem quebrar, e não são todas as empresas que fazem esse tipo de transporte”, detalha Andressa.

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A logística da empresa funciona da seguinte maneira: quando chega a solicitação de serviço, a motogirl que estiver disponível no momento realiza o trabalho e fica com o valor total da entrega. Além disso, as Invocadas Express trabalham com agendamentos. “Geralmente, quando as mulheres ficam sabendo de um grupo de entregas só com mulheres, elas gostam e recomendam nossos serviços”, aponta a empresária.

Grupo de motociclistas virou empresa de delivery (Foto: Leonardo Costa)

A mulher e o trabalho

Para a psicanalista Valéria Wanda, que estuda a mulher e a sua relação com o trabalho, entender que as mulheres e os homens trabalham de forma diferente é fundamental para que as empreendedoras consigam identificar seus pontos positivos e avançar na carreira. Valéria é uma das coordenadoras do projeto Mulheres Empreendedoras Empoderadas (MEE) da Universidade Estácio Juiz de Fora, que oferece cursos e consultorias para mulheres que empreendem ou querem se posicionar no mercado de trabalho. No projeto, Valéria é responsável pelo atendimento psicológico, mas o programa também conta com um profissional da área da comunicação que ensina as empreendedoras a divulgar o trabalho, um professor da administração e outro do direito que atua na questão da violência de gênero.

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”Nos meus estudos sobre a mulher e a relação com o trabalho, tenho notado a dificuldade que a mulher tem de administrar as várias funções que exerce, porque, além do trabalho, ela tem outras mil preocupações, como a vida enquanto mulher, o casamento, filhos, estudos. O projeto vem com o objetivo de orientar essas mulheres e ensinar que elas precisam aprender a trabalhar à moda da mulher e não tentar se encaixar em um sistema de negócio pensado para o homem, porque são realidades diferentes, não é tudo igual”, argumenta Valéria.

A psicóloga acredita que uma grande alternativa são as redes de apoio para dar assistência aos desafios que essas mulheres encontram no mercado de trabalho. “As diferenças precisam ser discutidas. Nós temos que incentivar cada empreendedora a realizar o trabalho do seu jeito e não copiar o modelo unissex, porque, quando a mulher segue esse padrão, ela se violenta e não dá conta.”

A psicanalista Valéria Wanda afirma que entender que as mulheres e os homens trabalham de forma diferente é fundamental para que as empreendedoras consigam identificar seus pontos positivos e avançar na carreira (Foto: Arquivo pessoal)

Iniciativas de rede de apoio a empreendedoras em JF

Desde 2021, a Estácio Juiz de Fora promove o projeto Mulheres Empreendedoras Empoderadas (MEE), que realiza atendimentos gratuitos para mulheres de baixa renda, em especial desempregadas e estudantes, oferecendo cursos de capacitação, acompanhamento psicológico, nutricional, de educação física e jurídica. Por meio dos serviços prestados, o projeto auxilia as mulheres em situação de vulnerabilidade social a se colocarem no mercado de trabalho, cuidarem da sua saúde e até mesmo para que recebam apoio em casos de violência doméstica. Inscrições e outras informações sobre o projeto estão disponíveis no site https://mulheresempreendedoraseempoderadas.wordpress.com/.

O Sebrae, em parceria com o Sicoob Divicred, oferece em Juiz de Fora o Programa Sebrae Delas, que tem como objetivo apoiar e acelerar negócios liderados por mulheres.  O curso é ofertado uma vez por ano e, em 2022, a capacitação estava prevista para ser realizada nos meses de julho a agosto, com atendimento a 28 empreendedoras.

A analista do Sebrae, Daniela Ferreira, afirma que diante dos dados que comprovam que as mulheres são mais escolarizadas, mas faturam e inovam menos, o Sebrae Minas desenvolveu esse programa para auxiliar e direcionar as empreendedoras de pequenos negócios. “Nós elaboramos uma jornada para que as empreendedoras não apenas tenham condições de promover melhorias rápidas, de baixo custo e de alto impacto, mas também aumentem a competitividade do negócio.”

Além disso, diversas iniciativas independentes estão surgindo na cidade focadas nesse perfil, como o Café Só Delas, EmpreenDelas e a Cooperativa Empreendedora.

Um café só delas

Desde quando começou no mundo dos negócios, quatro anos atrás, Carolina Lima, que trabalha na área do marketing digital, viu em Fabíola Lhamas, uma parceria e apoio para seguir neste ramo. Mas mesmo assim as duas sentiam a necessidade de ter um contato mais próximo com outras empreendedoras. Foi quando resolveram criar o projeto Café Só Delas. “Estamos levando palestras para poder capacitar mais essas mulheres, para fortalecer o empreendedorismo e é super importante elas sentirem que tem no nosso grupo um apoio, um lugar onde possam tirar dúvidas e aprender”, diz Carolina.

No início, as reuniões aconteciam na loja de artigos de decoração da Fabíola, mas, com o tempo, mais pessoas se interessaram pela iniciativa e o Café Só Delas foi crescendo. Hoje, já são dois eventos, além do café, a dupla organiza o HappyHour Só Delas. Os encontros acontecem a cada dois meses e contam com música ao vivo e buffet. A taxa para participar do evento é de R$ 80. Já o café funciona mais como uma troca de conhecimentos por meio de palestras com o objetivo de fortalecer os negócios dessas mulheres. “Muitas parcerias estão surgindo nesses encontros, de certa forma estamos incentivando mulheres a consumirem os produtos de outras”, explica Carolina.

Carolina Lima e Fabíola Lhamas sentiam a necessidade de ter um contato mais próximo com outras empreendedoras e criaram o projeto Café Só Delas (Foto: Arquivo pessoal)

Trocas e conexões

Thalita Rianni e Marina Toledo decidiram criar o EmpreenDelas, um espaço de convivência e trocas com mulheres sobre a área empresarial (Foto: Arquivo pessoal)

Por meio de um pedido de algumas alunas, a mentora de marketing Thalita Rianni decidiu criar o EmpreenDelas, junto com a amiga Marina Toledo, que também atua na área de marketing, para ter um espaço de convivência e trocas com mulheres sobre a área empresarial. A segunda edição do evento reuniu mais de 170 mulheres e contou com palestras de empreendedoras da cidade, que dividiram a sua trajetória dentro do empreendedorismo. A próxima edição está prevista para outubro. As inscrições já estão abertas e é cobrada uma taxa de participação.

“Quando comecei a empreender em 2019 senti muita falta de ter uma rede de trocas e com a pandemia isso ficou mais evidente. Empreender já é solitário e em uma pandemia mais ainda. Eu senti muita falta de uma rede de apoio. Nós não fomos ensinadas a empreender. As pessoas não acreditam em você, acham que você está louca, acreditam que você precisa de um emprego fixo e isso faz você se sentir sozinha, e muitas mulheres acabam voltando para a CLT por não ter uma rede de apoio. E o EmpreenDelas surge para ser justamente essa rede de apoio e incentivar essas mulheres a não desistirem”, comenta Thalita.

Antes de trabalhar com marketing, Marina era maquiadora, e o networking a ajudou a crescer na profissão. Por outro lado, Thalita conta que sempre teve dificuldade para ampliar sua rede de relacionamentos no trabalho. “Eu tenho dificuldade de ir até a pessoa para trocar informações, mas quando estou em um evento com mais pessoas consigo me expressar mais.” Por isso, as duas desenvolveram o projeto que oferecesse um espaço de troca de experiências e oportunidades de fazer parcerias entre mulheres.

Cooperativa empreendedora

Antes da pandemia, a consultora de moda Camila Villas já tinha o hábito de realizar encontros com empreendedoras, chamado de “quarta-feira das mulheres”. Com o objetivo de unir mulheres para fortalecer a economia local e a atuação dessas no mercado de trabalho, Camila criou a Cooperativa Empreendedora, que realiza encontros mensais, oferecendo conteúdos de contabilidade, administração e marketing para capacitar as empreendedoras. Atualmente, o grupo conta com 160 mulheres que vendem serviços e produtos em Juiz de Fora e região.

“Para quem está começando, ter uma rede de apoio é primordial, principalmente para ter uma orientação indicando qual direção seguir, para divulgar seu produto e fazer contatos. Depois que começamos esse movimento, essas mulheres estão ganhando muito espaço para mostrar seus trabalhos”, acredita Camila. No dia 2 de julho, a cooperativa realizou sua primeira feira com os produtos das mulheres que participam do grupo. Qualquer pessoa interessada pode ingressar na cooperativa, que possui uma taxa de mensalidade.

Camila Villas criou a Cooperativa Empreendedora, que realiza encontros mensais, oferecendo conteúdos de contabilidade, administração e marketing para capacitar as empreendedoras (Foto: Arquivo pessoal)

Mulheres Ativas Empreendedoras

O grupo Mulheres Ativas Empreendedoras surgiu em 2019, mas a história começou bem antes quando, em 2015, a empreendedora Priscilla Sobrinho realizava encontros de mulheres com o grupo Gestantes e Mamães. “Lá identifiquei que muitas mulheres após a maternidade viraram empreendedoras e queriam um espaço para fazer parcerias, trocar experiências e se desenvolver profissionalmente.” Pensando em unir a experiência no ramo empresarial com a vivência da maternidade, Priscilla criou o M.Ã.E como uma rede de apoio para mulheres que são mães e empreendedoras. Desde a sua criação, mais de 40 encontros já foram realizados.

“Além de impulsionar a economia, os novos negócios e dar a mulher a oportunidade de gerar trabalho, focamos em algo que para nós é a base de tudo: fortalecer a mulher nos aspectos emocional, como mãe e como profissional, como indivíduo que precisa ter seu lugar respeitado no mercado de trabalho e nas suas aspirações”, acredita Priscilla.

Além dos encontros presenciais, o grupo também incentiva que uma participante do encontro sorteie outra para se reunir posteriormente e fortalecer o vínculo entre elas. Para quem tiver interesse basta entrar no grupo de whatsapp disponível no site www.maempreendedoras.com.br. Os encontros possuem taxa de inscrição e o próximo está marcado para o dia 09 de agosto.

M.Ã.E foi criado como uma rede de apoio para mulheres que são mães e empreendedoras (Foto: Arquivo pessoal)
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