Pedir comida em casa não é um hábito novo na vida dos juiz-foranos, no entanto, com o surgimento dos aplicativos de delivery, a ação foi simplificada. Em Juiz de Fora, atuam quatro aplicativos de entrega: o internacional Ifood, o nacional Delivery Much e os locais Mais App e Robin Food. O uso de tais plataformas tem impactado o setor alimentício no país inteiro. Segundo levantamento do Sebrae, divulgado pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), em 2017, o mercado de delivery de alimentos faturou mais de R$ 10 bilhões no Brasil. A presidente da Abrasel Zona da Mata, Carla Pires, afirma que, em Juiz de Fora, 80% dos estabelecimentos associados estão cadastrados nos aplicativos ou possuem entrega própria. Ela acredita que mais bares e restaurantes irão aderir às plataformas. “É uma tendência de forte crescimento. Os aplicativos são aliados neste momento de crise para alavancar as vendas.”
Juntas, plataformas locais faturam R$ 1 milhão
A Mais Agência Web é criadora dos aplicativos Mais App e Robin Food. O primeiro, lançado em 2013, já soma mais de 150 mil downloads nas lojas de aplicativos. O que começou como uma maneira de conseguir desconto em restaurantes e lanchonetes ganhou o serviço de delivery e foi ampliado para outros nichos, como o de estética e hospedagem. Já o Robin Food, atual produto destaque da agência, foi lançado no fim de 2016, e já soma cerca de 50 mil downloads na Apple Store e Play Store. O diferencial do serviço, que trabalha apenas com delivery de comida, é que o cliente recebe o “cashback” – a cada compra pelo app, o usuário ganha um crédito equivalente a 5% do valor final da conta, que ele poderá usar da maneira que achar melhor e no estabelecimento que desejar. Juntos, os aplicativos movimentam cerca de R$ 1 milhão por mês no ramo de delivery.
Segundo o diretor de vendas da empresa, Rafael Ribeiro de Resende, a ideia inicial era implantar o cashback no Mais App, mas avaliou que seriam muitas funções em um aplicativo só, o que poderia confundir o usuário, por isso surgiu o Robin Food. “Como temos uma base de usuários muito grande, achávamos que o cliente que vai ao estabelecimento é o mesmo que faz pedido em casa, então pensamos que seria uma funcionalidade a mais, mas nós descobrimos que são públicos distintos. O que achamos que ia acrescentar, vimos que não funcionaria, que precisava mesmo criar um produto específico”, conta Rafael. Ele explica que os comerciantes pagam um percentual sobre o valor total de cada venda para o app, no caso do Robin Food. Já no Mais App, os donos dos restaurantes e das lanchonetes arcam com uma mensalidade.
Empresa prevê crescimento de 400% em 2018
O Diretor de Marketing da Mais Agência Web, Lúcio Barros, diz que os aplicativos têm crescimento vertiginoso. “A tendência é crescer cada vez mais. De janeiro a abril deste ano, alcançamos o número de pedidos feitos em 2017. Eu imagino que, neste ano, a gente cresça de 300% a 400% com relação ao ano passado.”
Rafael e Lúcio atribuem o crescimento ao cashback. “O usuário pensa: ‘Se eu ganho dinheiro de volta dessa forma, por que vou pedir de outra forma?’ O nosso sistema é o mais prático possível. Você faz a compra e, no dia seguinte, já recebe o dinheiro de volta, e pode ser usado e distribuído como o usuário achar melhor”, avalia Rafael. “Também tem a crise, que beneficiou muito o mercado de delivery, porque fica mais barato pedir comida em casa do que você sair, pagar o estacionamento, gastar gasolina, pagar 10% do restaurante”, aponta Lúcio.
A presidente da Abrasel, Carla Pires, acredita que a popularidade dos aplicativos se deu pela comodidade que eles oferecem. “Hoje em dia você tem a Lei Seca, e você acaba não saindo de casa para não beber e dirigir, porque, às vezes, é um estabelecimento mais distante… Também tem o estacionamento, arrumar vaga pode ser difícil, ou caro, então as pessoas optam por ficar em casa. No inverno, a tendência é o serviço de delivery aumentar, e, no verão, diminuir um pouco, já que as pessoas têm mais disposição para sair de casa”
A professora da Faculdade de Economia da UFJF, Fernanda Perobelli, avalia que, para o consumidor final, as vantagens ao se usar os apps são maiores do que as desvantagens. “O único cuidado é ter certeza da idoneidade do site ou ofertante. Golpes são frequentes, e os usuários devem adotar medidas de segurança, como antivírus e acesso apenas a sites confiáveis. Para os ofertantes, o aplicativo aumenta sua capilaridade, sua capacidade de chegar de maneira diferente ao cliente. Quanto ao custo, algumas taxas são elevadas, e o comerciante deve fazer a conta de quanto ele entrega ao fornecedor do serviço versus quanto custaria manter apenas a loja física. Lembrando que, nessa conta, provavelmente o número de clientes seria mais reduzido que na primeira opção.”
Já na avaliação de Carla, o valor do serviço ainda é alto. “Os aplicativos só vêm a somar, a questão é que ainda são muito caros para o associado, as taxas são muito altas. Mas existem os clientes que estão cientes que vão pagar para ter conforto na casa dele.”
Delimitação do serviço para o consumidor
Lúcio admite que ainda há uma preocupação em delimitar para o consumidor final o que é responsabilidade dos aplicativos e o que é de responsabilidade dos restaurantes e lanchonetes. “A gente tem esse cuidado porque o usuário não sabe separar as coisas. Ele não entende que somos um serviço, que a gente só repassa o pedido para o restaurante. Tem usuário que acha que a gente faz a comida. Se há algum vacilo, ele fica bravo com a gente.”
Rafael avalia que o maior motivo de reclamação por parte dos clientes é a demora na entrega. “Quando um restaurante não tem estrutura pronta, um motoboy que seja dele, ele tem que ligar para algum serviço de entrega. O motoboy tem que se deslocar até lá, pegar o lanche e fazer a entrega. Fora que ele não está acostumado com a rotina.”
Vendas crescem após cadastramento em plataformas
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A proprietária do bar e restaurante “Birosca”, Flávia Januzzi, explica que, quando se cadastrou na rede dos quatro aplicativos disponíveis na cidade, procurava alavancar as vendas de marmitex, o que, segundo ela, funcionou. “Melhorou bastante, dobrou o número de pedidos para entrega. Acho que abrange muita gente, não conseguimos atingir a cidade toda com panfletos. Acaba que o investimento do app é baixo, você paga de acordo com o que você vende. Foi considerável a mudança”. Ela avalia que, atualmente, a proporção de venda de delivery e ponto físico é próxima, de 60% e 40%, respectivamente, com vantagem para as entregas.
Com o aumento dos pedidos, a empresária precisou contratar dois motoboys, além do funcionário que já trabalhava, para tentar trabalhar com o tempo de entrega menor. A cozinha também precisou de reforço, e uma pessoa foi contratada. O bar também mudou de local. “O espaço físico aumentou três vezes”. Flávia avalia que a entrada nos aplicativos influiu diretamente na mudança.
Rafael Ribeiro de Resende e Lúcio Barros contam que, mesmo com o crescimento dos apps de delivery, a maior parte dos pedidos em lanchonetes e restaurantes ainda é feita pelo telefone, mas, no negócio administrado por Flávia, esse quadro já é diferente. Ela diz que, no Birosca, os pedidos por telefone são poucos. “Os clientes ligam quando dá problema nos aplicativos, porque os pedidos de entrega são prioritariamente por app.”
Para alguns, delivery é mais vantajoso do que atendimento ao público
O empresário Jonathan Gravino inaugurou o restaurante Gravino’s, no Bairro Bom Jardim, em meados de 2016. Além do rodízio de hambúrguer, que ficou famoso na cidade, ele também preparava outros pratos e petiscos. No entanto, há quase três meses, o estudante de gastronomia optou por fechar o salão e trabalhar apenas com delivery e prestação de serviços em eventos. “Eu fiz o cálculo para saber se o rodízio estava sendo vantajoso ou se estava dando mais prejuízo do que lucro, e acabei percebendo que o ponto onde estava instalado o negócio não era atrativo, porque era longe do Centro, e acabou não gerando a demanda que eu precisava.”
Para não desistir do negócio, ele reestruturou o conceito da lanchonete, que agora só oferta hambúrgueres e acompanhamentos, e montou a cozinha no mesmo prédio onde fica sua casa. Quando ele iniciou a nova empreitada, já fazia parte de um aplicativo, e, depois, conseguiu cadastro em outro. “Não cheguei a fazer panfletagem, deixei que os aplicativos fizessem a minha divulgação, porque, por meio deles, a pessoa consegue ver as avaliações, as notas e os pratos. Jonathan aponta vantagens em utilizar os apps. “Os aplicativos já entregam os pedidos detalhados, acaba poupando um funcionário de ter que ficar escrevendo à mão, o que acontece nos pedidos por telefone ou WhatsApp. Dá muito mais agilidade para o processo de produção.”
O empresário avalia que, atualmente, as plataformas são responsáveis por 90% dos pedidos que recebe. Com isso, ele precisou contratar mais um motoboy e um auxiliar. Jonathan aponta que vale mais a pena trabalhar apenas com delivery do que com loja física, mas, devido à procura dos clientes, ele tem outros planos para o futuro. “Quero mesclar, ter um estabelecimento de porte pequeno, com dez a 20 mesas, focado no delivery, mas que tenha o atendimento ao público em um ponto estratégico.”
Para outros, lojas físicas são consequência de grande demanda
Para o casal de empreendedores Fabiana Costa do Amaral e Felipe Pereira Raposo, sócios no Brownie da Fabi, que começou apenas com delivery, a abertura de um ponto físico foi resultado de muito trabalho. No início da empreitada, o casal avalia que a demanda dos apps era de 90%, referentes ao total de pedidos. Após a entrada nos aplicativos, eles calculam que as vendas tenham crescido cerca de 40%.
Eles compraram uma moto após se cadastrarem no primeiro aplicativo e começaram a crescer. “Cresceu demais, a gente construiu uma cozinha industrial na nossa área no apartamento. O pessoal ia na nossa casa retirar os pedidos. Aí ficou aquele entra e sai de cliente e motoboy, e eu falei com a Fabiana: ‘Nossa casa está pequena’. Calhou que uma loja perto da nossa casa ficou disponível em agosto de 2017, e nós alugamos”, conta Felipe.
A intenção do casal era transferir a cozinha, que ficou maior que a do apartamento, e criar um ponto para que os clientes retirassem os pedidos. “A gente colocou uma mesinha do lado de fora… Deu o primeiro fim de semana, tinha gente esperando em pé”, lembra Fabiana. Três meses depois, as duas lojas vizinhas ficaram disponíveis, e eles ampliaram o negócio novamente.
Felipe estima que agora, com a loja física, os pedidos presenciais e por aplicativo estão bem próximos. “Hoje 50% dos pedidos são feitos na loja e 50% nos aplicativos.” Ele diz que muitas pessoas que pediam pelos apps estão indo à loja para conhecer, mas que isso não está influindo no número de pedidos digital. “O fluxo não caiu, pelo contrário, está aumentando cada vez mais.”
Fabiana acredita que os aplicativos possibilitaram este crescimento vertiginoso. “A visibilidade que os apps dá é muito grande. Muita gente quer ter o conforto de pegar o celular e fazer o pedido, não precisa nem ligar, às vezes, não precisa nem passar o cartão.
A grande demanda de produtos exigiu que a equipe da empresa crescesse. “Éramos só nós dois, e agora, nos fins de semana, chegamos a 12 pessoas.” Conta Felipe, que revela que, mesmo com esse número de funcionários, não tem dado conta de atender a tantos pedidos.