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Rotina cansativa dificulta continuidade dos estudos

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O setor da construção civil, quase unanimamente masculino (93%, segundo a Rais), é hoje a única fonte de renda para milhares de pais de família na cidade. Percentualmente, esta é a área com a menor escolaridade entre os setores que empregam em Juiz de Fora. Cerca de 56% destes profissionais sequer têm o ensino médio completo, patamar que, no comércio, é de 32%; no setor de serviços 26%; e, na indústria 37%. São pedreiros, pintores, carpinteiros, bombeiros hidráulicos, eletricistas e serventes que, apesar de enfrentarem dificuldades para ascender na profissão, têm em comum a vontade de trabalhar.

Retrato deste grupo é o bombeiro hidráulico Fernando José de Carvalho, 32 anos. Casado e pai de uma filha de três anos, vê na dura rotina diária o principal inimigo para buscar o aperfeiçoamento. Ele, que estudou até a quarta série do ensino fundamental, aprendeu ofícios da obra a partir das oportunidades do próprio empregador.  “Comecei como ajudante de pedreiro, aos 24, mas com 11 anos eu já trabalhava na roça, pois precisava ajudar a família. Tenho muita vontade em continuar os estudos, mas a rotina não permite.” Ele está há oito anos trabalhando em uma construtora da cidade. Situação semelhante é a do pedreiro Vicente Paulo, 45, que afirma viver história de luta diária para manter o emprego e sustentar esposa e três filhos. Ele também tem apenas a quarta série e sempre trabalhou em obras.

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Com ensino médio completo – o que pode ser considerado exceção neste grupo (37% da classe) -, está o pedreiro de acabamento Leandro de Souza, 30, cuja esposa está grávida de oito meses. Há quatro, ele concluiu o ensino médio e já fez curso de especialização de mestre de obras. “Quando comecei a trabalhar na construtora, há dez anos, só tinha o ensino fundamental. Tirei o segundo grau com muito sacrifício, pois a obra começa 6h e eu saía apenas 17h15. Ia para o João XXIII e lá ficava até as 22h. Em muitos dias, nem conseguia estudar direito, de tão cansado, acabava cochilando. Nosso serviço é pesado. Imagine, depois de toda esta rotina, chegar em casa às 23h, tomar banho, jantar e depois acordar cedo novamente? É preciso ter muita, mas muita força de vontade.”

Trabalho e estudo das 6h30 às 23h30

Embora a indústria tenha perdido o posto de maior gerador de emprego na cidade ao longo das décadas, ela ainda responde por quase 20 mil vagas no mercado, de acordo com a Rais, perdendo espaço apenas para os segmentos de serviço (74 mil) e comércio (33 mil). De origem na construção civil, mas hoje na indústria, a Tribuna encontrou a história do operador Marçal Ângelo dos Santos, 43, funcionário de uma fábrica de medicamentos. Ele trabalha em um equipamento chamado emblistadora, que embala objetos sólidos, como os comprimidos.

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Marçal Ângelo, que começou na construção civil, hoje trabalha na indústria. O curso técnico e as especializações foram diferenciais

“Consegui o emprego porque tinha curso técnico em eletrônica, que era um perfil buscado na época. Posso dizer que, ao longo da minha vida, os estudos foram abrindo as portas”, disse o trabalhador, que acorda as 4h30 diariamente, tem o ensino médio completo, o técnico e outros cursos de especializações. “Nunca foi fácil. Aos 14, trabalhava como servente de pedreiro e estudava. Saía de casa 6h30 e voltava depois das 23h30. Foram anos nesta árdua rotina. Mas sei que, sem estes sacrifícios, ainda estaria na obra”, disse o homem com orgulho de suas conquistas, casado há 16 anos e pai de dois filhos, um de 13 anos e outro de nove meses.

 

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