O setor da construção civil, quase unanimamente masculino (93%, segundo a Rais), é hoje a única fonte de renda para milhares de pais de família na cidade. Percentualmente, esta é a área com a menor escolaridade entre os setores que empregam em Juiz de Fora. Cerca de 56% destes profissionais sequer têm o ensino médio completo, patamar que, no comércio, é de 32%; no setor de serviços 26%; e, na indústria 37%. São pedreiros, pintores, carpinteiros, bombeiros hidráulicos, eletricistas e serventes que, apesar de enfrentarem dificuldades para ascender na profissão, têm em comum a vontade de trabalhar.
Com ensino médio completo – o que pode ser considerado exceção neste grupo (37% da classe) -, está o pedreiro de acabamento Leandro de Souza, 30, cuja esposa está grávida de oito meses. Há quatro, ele concluiu o ensino médio e já fez curso de especialização de mestre de obras. “Quando comecei a trabalhar na construtora, há dez anos, só tinha o ensino fundamental. Tirei o segundo grau com muito sacrifício, pois a obra começa 6h e eu saía apenas 17h15. Ia para o João XXIII e lá ficava até as 22h. Em muitos dias, nem conseguia estudar direito, de tão cansado, acabava cochilando. Nosso serviço é pesado. Imagine, depois de toda esta rotina, chegar em casa às 23h, tomar banho, jantar e depois acordar cedo novamente? É preciso ter muita, mas muita força de vontade.”
Trabalho e estudo das 6h30 às 23h30
Embora a indústria tenha perdido o posto de maior gerador de emprego na cidade ao longo das décadas, ela ainda responde por quase 20 mil vagas no mercado, de acordo com a Rais, perdendo espaço apenas para os segmentos de serviço (74 mil) e comércio (33 mil). De origem na construção civil, mas hoje na indústria, a Tribuna encontrou a história do operador Marçal Ângelo dos Santos, 43, funcionário de uma fábrica de medicamentos. Ele trabalha em um equipamento chamado emblistadora, que embala objetos sólidos, como os comprimidos.
“Consegui o emprego porque tinha curso técnico em eletrônica, que era um perfil buscado na época. Posso dizer que, ao longo da minha vida, os estudos foram abrindo as portas”, disse o trabalhador, que acorda as 4h30 diariamente, tem o ensino médio completo, o técnico e outros cursos de especializações. “Nunca foi fácil. Aos 14, trabalhava como servente de pedreiro e estudava. Saía de casa 6h30 e voltava depois das 23h30. Foram anos nesta árdua rotina. Mas sei que, sem estes sacrifícios, ainda estaria na obra”, disse o homem com orgulho de suas conquistas, casado há 16 anos e pai de dois filhos, um de 13 anos e outro de nove meses.
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