O doutor em economia aplicada Fernando Agra afirma que a realidade do mercado de trabalho em Juiz de Fora poderia ser melhor, caso políticas públicas, das três esferas de governo, incentivassem a mão de obra qualificada. “Temos uma localização privilegiada, próxima a grandes centros urbanos e metrópoles importantes. Nestes municípios, os salários são mais altos, mas é preciso ponderar que, também, o custo de vida é maior. Ou seja, precisamos relacionar o salário ao poder de compra, pois não adianta ganhar dois em Juiz de Fora e quatro no Rio de Janeiro, por exemplo.”
Mesmo assim, o especialista destaca que, diferente de muitos municípios brasileiros, Juiz de Fora tem o potencial de formar mão de obra qualificada, dado o grande e crescente número de faculdades públicas e privadas, e o desafio está em gerar empregos para manter estas pessoas na cidade. “É um ciclo vicioso que mostra uma demanda reprimida. Se temos tantas pessoas com ensino médio completo, por que elas não seguem para a formação superior? O problema é que, ganhando em média dois salários, elas usam o dinheiro para se sustentar”, comentou, destacando que, embora com avanço nas políticas públicas, ainda existe dificuldade em conquistar o financiamento estudantil ou outros programas de auxílio. “Se a maioria não consegue hoje, pior era há 15 anos. Infelizmente estamos em um momento que o governo não consegue mais ter recursos suficientes para manter estes programas.”
A “fuga de cérebros” também é destacada pelo doutor em teoria econômica Ricardo Freguglia, que entre outros assuntos, estuda mercado de trabalho e desigualdades salariais. “Apesar de ser uma cidade com um setor educacional de destaque, a qualificação de sua mão de obra é baixa. O perfil médio do trabalhador de Juiz de Fora reflete em grande medida as características dos trabalhadores pertencentes aos setores de serviços e comércio, que concentram a maior parte das contratações no município”, pontuou, acrescentando que o nível educacional acaba refletindo no salário. “Trabalhadores menos educados são menos produtivos e, portanto, possuem menores remunerações.”
Ele também salientou que a situação atual pode ser ainda pior. Isso porque os dados da Rais, de 2016, foram coletados em 2015, e desde então a crise econômica se acentuou. “É de se esperar que alguma mudança possa ocorrer nesse período. Possivelmente, com menos empregos formais e menores salários”
Estudo é o caminho
Para Agra, independente de ter ou não curso superior completo, a qualificação se faz importante. “Sou exemplo disso. Vim de uma família pobre do Nordeste brasileiro, e hoje sou doutor. Hoje tenho orgulho de ter lecionado e formado pessoas com este perfil, como o frentista que virou gerente de uma grande financeira, o funcionário que se transformou em empresário e o estudante que hoje é professor e doutor.”
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