Apesar de 2018 estar batendo à porta, o clima, nas ruas, é meio de ressaca natalina. Movimento existe, mas nada que se compare à sexta que antecedeu o Natal. A decoração com pinheiros e sinos ainda está nas vitrines, repletas de promoções. As peças multicor perderam espaço para o branco e o dourado. As sacolas nas mãos dos consumidores, em sua maioria, ainda refletem o movimento de troca de presentes. Sempre há quem aproveite para levar mais um produto para casa, mas a postura de cautela, principalmente mediante as contas típicas de início de ano, também existe nas ruas.
Nos supermercados, o movimento é mais intenso. A aposta no churrasco, regado a bebidas, é a mais certeira na virada. Para o aposentado Carlos Carelli o preço da carne está “meio salgado”, mas isso não deve desanimar os planos de “queimar” uma carne com a família enquanto espera 2018 chegar. Ele pesquisou preços e comprou fragmentado, até para evitar o tumulto característico da véspera. Entre as bebidas, optou pelo chope. Enquanto escolhia o espumante para brindar o novo ano, a dona de casa Palmira Ramos disse que o churrasco será a opção da sua família também. Ela não teve tempo para comparar preços e achou que não houve queda nos valores em função do Réveillon.
O gerente de Marketing do Bahamas, Nelson Júnior, afirma que os produtos para churrasco serão os campeões de venda nesta virada. As reuniões, observa, deixam de ter um perfil mais familiar para ganhar um caráter de festa. As aves dão lugar a carnes bovinas e suínas. Entre as bebidas, o vinho perde espaço para o espumante e as bebidas quentes, embora a cerveja seja a recordista de procura. O movimento, avalia, começou a aquecer na quinta, com expectativa de incremento na sexta e no sábado.
Para dar conta da demanda, a rede reforçou o estoque. A expectativa é que sejam vendidas 200 toneladas de contrafilé esse ano, 62,6% a mais do que o verificado em 2016. Também estão garantidos aos clientes 140 toneladas de pernil (29,6% a mais ante as vendas do ano anterior), 90 toneladas de linguiça para churrasco de um quilo (alta de 21,6%), 70 toneladas de picanha (94,4% a mais), 95 toneladas de alcatra (alta de 15,8%) e 129 toneladas de lombo, 11,1% a mais do que o comercializado na virada anterior. Entre as bebidas, a expectativa é vender 98 mil unidades de espumante, mais de 14 mi unidades de wisky e 207 mil unidades de energético.
Outro setor que comemorou o aumento da procura foi o de artigos de festa. O gerente da @Festas, Graciano Silva de Sousa, diz que, a exemplo do que aconteceu no Natal, o movimento está aquecido também para as comemorações da virada. A loja montou um modelo de mesa de Réveillon, com produtos da casa, que despertou a curiosidade dos clientes. Entre os itens mais procurados nessa época do ano pelo juiz-forano estão balões metalizados, descartáveis, taças e bebidas. Segundo o gerente, a demanda maior acontece nesta sexta. No sábado, a procura é direcionada para atender as necessidades de última hora dos consumidores.
Para o presidente do Sindicato do Comércio (Sindicomércio), Emerson Beloti, os segmentos alimentício e de vestuário devem ser os mais beneficiados no pós-Natal. Segundo ele, as vendas para a virada estão incluídas na expectativa de alta de 3% ante igual período de 2016. Na sua opinião, o índice, no entanto, não é motivo de comemoração, já que ainda há uma massa de desempregados – no país e na cidade – sem poder de consumo. O aquecimento neste final de ano, diz, não é suficiente para compensar as perdas acumuladas no ano pelo setor. “Ainda não conseguimos subir nem o primeiro degrau da nossa queda livre, vista nos últimos três anos. A subida é mais lenta.” Para Beloti, a empregabilidade precisa aumentar, para movimentar toda a cadeia. “Sem emprego, não há consumo.”
Gastos da virada podem chegar a R$ 282
Os gastos para comemorar a virada podem ser altos. Pesquisa realizada por Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) revela que a pretensão de gastos com viagens, ingresso para clubes, ceia e roupas novas deve ser de R$ 282,20, valor 72% acima da intenção de consumo em 2016, que era de R$ 263,06. A pesquisa ainda mostra que 49% dos que vão comemorar a data pretendem comprar roupas, calçados e acessórios para usar na passagem de ano, uma queda de oito pontos percentuais ante ao ano passado (57%).
A balconista Maria Orlene está na contramão da pesquisa. Após o Natal, ela fez as contas e decidiu não gastar na virada. Nesta sexta, a balconista olhava vitrines, mas não pretendia se deixar levar pelos inúmeros anúncios de promoção oferecidos pelo comércio. “A crise está ai. Não dá para ficar esbanjando”, justifica.
Na mesma linha, o educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli, alerta para a importância de controlar o orçamento, ainda mais considerando a proximidade com o Natal, que terminou de ser comemorado. “O Réveillon acontece logo na sequência do Natal, e as pessoas já terão investido na celebração, seja na ceia ou na compra dos presentes. Então, é importante planejar as despesas e fazer as contas para saber o limite dos gastos. Afinal, não tem sentido comemorar a chegada do ano endividado ou com as finanças desequilibradas.”