O cenário já não é mais novidade para nenhum juiz-forano: a gasolina está, cada vez mais, esvaziando o bolso dos motoristas. O crescimento notado em 2021, no entanto, se mostrou ainda mais agressivo nos postos do município. De acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o valor médio do combustível em Juiz de Fora saltou de R$ 4,95, em janeiro, para R$ 7,25, em dezembro. O crescimento de 46% no custo tem origem, segundo economista ouvido pela Tribuna, na variação do valor do dólar e, no próximo ano, ainda há riscos que podem travar recuos significativos no preço da gasolina.
Pelos dados da ANP, a gasolina comum fechou janeiro custando, em média, R$ 4,95 em Juiz de Fora. Os aumentos se mostraram sucessivos durante todo o primeiro semestre, alcançando R$ 6,21 em junho. Os dados apontam, ainda, para um recuo no valor médio para R$ 6,18 em agosto, após permanecer estável no mês anterior. Entretanto, o que poderia ser sinal de estabilização, apenas antecipou crescimentos significativos nos preços médios nos meses seguintes.
Em setembro, outubro e novembro, os valores médios foram, respectivamente: R$ 6,45, R$ 6,88 e R$ 7,36. O período foi marcado por reajustes determinados pela Petrobras no preço cobrado pelo combustível nas refinarias. Em Juiz de Fora, aliás, o preço médio da gasolina chegou a ser o mais caro praticado em toda Minas Gerais no mês de dezembro. Em dezembro, por outro lado, o valor teve pequeno recuo, mas ainda permanece em patamar elevado: R$ 7,25.
Chama a atenção o alto custo mesmo quando o recorte é o preço mínimo observado pela ANP nos postos juiz-foranos. Em janeiro, a gasolina era encontrada a R$ 4,93 no município, mas, após crescimentos consecutivos ao longo de todo o ano, o combustível custa, ao menos, R$ 6,99 em Juiz de Fora em dezembro, maior valor da série histórica. O pico no preço máximo, por sua vez, foi observado ainda em novembro, quando a gasolina chegou a custar R$ 7,37.
Protestos não vingaram
Os seguidos aumentos no valor do combustível geraram insatisfação, sobretudo, na categoria dos transportadores, que iniciou movimentos grevistas ou ameaçou paralisações constantemente ao longo do ano em razão do aumento do preço do diesel, que também sofreu com fortes oscilações em 2021. Em fevereiro, manifestação contra o Governo de Minas Gerais chegou a afetar o abastecimento em Juiz de Fora, causando um princípio de corrida aos postos do município. Após dois dias, entretanto, os caminhoneiros interromperam a paralisação e o movimento nos postos foi normalizado.
Em setembro, a categoria voltou a deflagrar greve em Minas Gerais. A data escolhida para o início do movimento foi o feriado de 7 de setembro, dia em que tanqueiros de outros estados brasileiros também ensaiaram uma paralisação. Diversos vídeos circularam nas redes sociais com ameaças de um movimento amplo, mas, no dia seguinte, os caminhoneiros voltaram a circular normalmente pelas rodovias do estado.
A categoria voltou a ameaçar uma paralisação no dia 9 de setembro, anunciando redução pela metade na distribuição de combustível em Minas Gerais. A ameaça aconteceu menos de uma semana antes de reunião de representantes da categoria com o governador Romeu Zema (Novo), mas não chegou a afetar o estoque dos postos de combustível de Juiz de Fora.
Por fim, em outubro, nova manifestação voltou a colocar em risco o abastecimento em postos mineiros. Cerca de 800 transportadores de combustíveis paralisaram, sobretudo na região de Betim (MG), nas proximidades de Belo Horizonte. O movimento gerou efeito imediato nos postos de combustível da capital, entretanto, pouco interferiu nos estabelecimentos de Juiz de Fora. Após 40 horas de paralisação, a categoria voltou a atuar normalmente e a situação foi normalizada em todo o estado.
No caso do óleo diesel, o crescimento no custo do litro foi ligeiramente menor, mas ainda relevante. Entre janeiro e dezembro, o valor médio cobrado nos postos da cidade saltou de R$ 3,89 para R$ 5,35, conforme a ANP. O aumento de R$ 1,46 representa 37,5% de alta no acumulado de 2021.
Ano eleitoral preocupa
Os aumentos agressivos no valor do combustível, segundo o professor da Faculdade de Economia da UFJF, Wilson Rotatori, se devem a dois fatores fundamentais: o crescimento no preço do barril de petróleo, que é comercializado internacionalmente, e a desvalorização do real frente ao dólar. “Temos que lembrar que o petróleo é cotado em dólar, ou seja, o preço do barril é em dólar. Nesse caso, temos um ponto interno nosso, que é a desvalorização da nossa moeda”, explica o especialista.
O valor do barril de petróleo, por sua vez, teve recuo em 2020 por conta da eclosão da pandemia de coronavírus, que gerou menos demanda do setor produtivo. Naquele ano, o preço médio da gasolina, em Juiz de Fora, chegou a custar R$ 3,65, embora não seja possível fazer comparativo dos 12 meses, pois a ANP interrompeu as pesquisas nos postos da cidade entre setembro e dezembro.
Os estímulos para a retomada econômica, em 2021, resultaram em alta no valor do barril. “Associando a variação cambial ao aumento do preço internacional dos combustíveis e a política da Petrobras de repasse de todos os reajustes de forma praticamente imediata, faz com que você jogue lenha na fogueira em uma série de reajustes de preços em cadeia, já que praticamente tudo está associado ao valor do combustível”, afirma Lourival Batista, que também é professor da Faculdade de Economia da UFJF.
Nas últimas semanas de 2021, por outro lado, o valor do barril de petróleo apresenta sinais de estabilidade e, até mesmo, quedas sensíveis que podem criar um cenário de tranquilidade também no valor do combustível para o consumidor final. Entretanto, por se tratar de um ano eleitoral no Brasil, a variação cambial oferece risco. “Nós temos uma eleição complicada, que pode ser polarizada, e isso pode afetar o dólar. Na medida em que afetar o dólar, mesmo que o preço do barril caia lá fora, nós podemos não ter uma redução aqui (no Brasil)”, projeta o economista Wilson Rotatori.