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Com gasolina mais cara do estado, motoristas juiz-foranos optam pelo GNV

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O motorista juiz-forano caminha para o fim do mês pagando até R$ 7,57 pelo litro da gasolina comum. O valor foi observado pela Tribuna na tarde desta quarta-feira (24), a partir de levantamento feito nos postos da cidade. De acordo com a pesquisa semanal divulgada pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) na segunda-feira, que avaliou o custo do combustível em 41 cidades, Juiz de Fora possui a gasolina mais cara de todo o estado de Minas Gerais, cobrando, em média, R$ 7,43 pelo litro. Pressionados pelos reajustes acumulados de 50% na gasolina comum e de 39,58% no diesel desde janeiro, alguns motoristas passaram a optar por alternativas mais baratas, como o Gás Natural Veicular (GNV) que, no mesmo período, registrou aumento menos acentuado, de 13%.

Gás natural teve um aumento de 13% em Juiz de Fora desde janeiro e foi de R$ 3,84 para R$4,34 (Foto: Leonardo Costa)

Em Juiz de Fora, de janeiro a outubro, 298 motoristas fizeram a conversão do veículo para GNV, segundo a Companhia de Gás de Minas Gerais (Gasmig). O número de novos veículos adaptados na cidade, nos primeiros dez meses deste ano, representa um incremento de 8% na frota convertida até o final de 2020, quando 3.725 motoristas utilizavam o combustível em Juiz de Fora. O aumento, segundo a Gasmig, foi verificado após a oferta do bônus de R$ 2 mil para aqueles que fizessem a instalação.

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As empresas autorizadas a realizar a instalação do “kit gás” identificaram aumento da procura, principalmente nos últimos meses, após os constantes reajustes no valor da gasolina e do diesel. Alessandro de Souza, responsável técnico da Top Gás, só se recorda de um aquecimento nesta proporção em 2018, com a greve dos caminhoneiros. “Desde o início de 2021, já estávamos verificando um aumento na procura, pois já tínhamos um preço do GNV diferenciado em relação aos outros combustíveis. Com o início da promoção da Gasmig, em meados de abril, a procura dobrou. Com a elevação consecutiva dos valores nos postos, em julho tivemos um ‘boom’. A procura aumentou cerca de 400%, telefone tocando, orçamento por e-mail, whatsapp e Instagram, e vem permanecendo até agora.”

O número de novos automóveis adaptados na cidade representa incremento de 8% na frota convertida até o final de 2020, quando 3.725 motoristas utilizavam o combustível em Juiz de Fora (Foto: Leonardo Costa)

Outra empresa que também constatou elevação na demanda foi a Fullgás, na cidade de Três Rios, a cerca de 60 quilômetros de Juiz de Fora. O proprietário, Lucas de Azevedo Silva, disse que, apesar da distância entre os municípios, metade dos motoristas que atende são juiz-foranos. Segundo ele, o aumento na demanda foi ocasionado principalmente por esses clientes. “Esse crescimento foi percebido na procura pela instalação, mas também na manutenção de veículos que já tinham o kit, não utilizavam mais e resolveram voltar para o GNV. A procura maior pelo gás natural sempre foi de motoristas de aplicativo e serviços de entrega, mas agora também passou a ser de motoristas de passeio e trabalhadores que andam 100 quilômetros por semana, por exemplo.”

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Reajuste em 2021

Levantamento feito pela Tribuna, com os dados disponibilizado pela ANP, mostra que, desde o início do ano, o gás natural foi o combustível que menos registrou aumento nos preços em Juiz de Fora. O etanol foi o que mais subiu, com aumento de 64,78% entre janeiro e novembro. O valor médio do litro saltou de R$ 3,55 para R$ 5,85. Em segundo lugar, está a gasolina comum, que passou a custar, em média, R$ 7,43. Em janeiro, os postos cobravam R$ 4,95 pelo litro do combustível, reajuste de 50%. O diesel, que custava R$ 3,89 em janeiro de 2021, passou a valer R$ 5,43, registrando um aumento de 39,58%. O gás natural teve um aumento de 13% e foi de R$ 3,84 para R$4,34.

‘É uma economia de R$ 2.130 por mês’

A maior estabilidade no preço do GNV tem motivado muitos motoristas a optarem pela substituição da gasolina e do diesel. Foi o que aconteceu com Adriano Alvim, motorista de aplicativo em Juiz de Fora. “Passei a utilizar o GNV há duas semanas por causa do aumento absurdo dos combustíveis. Eu estava tendo uma queda nos lucros de 50%, ou seja, eu estava pagando para trabalhar.” Para fazer a conversão do veículo foi necessário um investimento de cerca de R$ 4 mil, mas, segundo ele, já foi possível sentir a diferença no bolso no mesmo dia após a instalação. “Na hora de trabalhar o faturamento foi, em média, 40% maior do que com a gasolina.”

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O motorista de aplicativo Sóstenes de Souza utiliza o gás natural há quatro anos e estima que a economia mensal supere R$ 2 mil. “Se eu rodar 5 mil quilômetros em um mês, por exemplo, eu gasto R$ 1.662 com GNV, levando em conta que esse combustível hoje custa, em média, R$ 4,39 por metro cúbico. Com o etanol custando R$ 5,69 em Juiz de Fora, para percorrer a mesma quantidade eu gastaria R$ 3.793. É uma economia de R$ 2.130 por mês e R$ 25.565 por ano. Quase o valor de um carro.”

Sóstenes tem economia anual de mais de R$20 mil utilizando o GNV (Foto: Leonardo Costa)

Sóstenes também passou a perceber que, nos últimos meses, muitos motoristas passaram a aderir à mudança. “Antigamente, quando vinha no posto abastecer, era raro ter outra pessoa querendo abastecer com gás. Hoje o que eu tenho visto é que os postos estão cheios.”

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Alto custo para investimento inicial é um empecilho

Apesar da economia, alguns motoristas ainda são resistentes a essa mudança devido ao alto custo necessário para o investimento inicial no equipamento. Segundo José Moreira, presidente do Sindicato dos Taxistas em Juiz de Fora (SindiTaxi-JF), o número de taxistas que estão convertendo seus veículos para o gás natural ainda é pequeno. “Em torno de 10% a 15% estão mudando para o GNV, por causa da situação financeira delicada da categoria provocada pela pandemia de Covid-19.”

O valor médio para a instalação do kit é de R$ 4 mil a R$ 4.500, podendo variar de acordo com o modelo do veículo e o ano de fabricação. Além disso, é necessário que o condutor realize manutenções periódicas para não correr o risco de danificar o motor do carro. Entretanto, mesmo com esses custos, o responsável técnico da Top Gás Alessandro de Souza garante que o investimento é recuperado rapidamente para quem utiliza muito o veículo. “Em média, se o condutor gastar em torno de R$ 2 mil em combustível por mês, ele vai recuperar o investimento em quatro ou cinco meses.”

Ele ainda reforça que o GNV não causa dano ao veículo, mas que, para assegurar isso, é necessário realizar manutenção regular. “Alguns carros costumam apresentar defeitos ocultos e isso reflete muito no gás natural. Temos diversos automóveis com longa utilização do GNV que nunca fizeram reparos de motor ou grandes manutenções. Temos um pouco de perda de potência no carro, afinal é uma adaptação. Mas, com o aumento da tecnologia empregada nos kits e a evolução dos motores, temos conseguido reduzir muito a perda de potência. Em alguns carros é imperceptível.”

Congelamento dos preços por 90 dias

Desde o dia º1 de novembro, a Gasmig congelou a tarifa do gás natural veicular por 90 dias. Segundo a companhia, esta iniciativa visa a beneficiar os consumidores, além de estimular os proprietários de veículos, que estão enfrentando consecutivos aumentos dos combustíveis, a utilizarem o gás como uma opção mais econômica. Entretanto, a companhia informa que o congelamento não garante que o preço nos postos não sofrerá mudanças, já que segundo a Lei 9.478/1997, os estabelecimentos possuem liberdade na precificação do produto.

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