Apesar de nem todos os juiz-foranos terem percebido, a cesta de produtos natalinos está, em média, 7,68% mais barata do que a de 2016. O levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre) aplica-se à realidade local e mostra que a inflação dos itens que complementam a ceia ficou abaixo da inflação média registrada pelo IPC-10 no período de janeiro a dezembro, que foi de 3,24%. Entre os produtos que apresentaram maior queda de preço estão as frutas (-13,86%) e a farinha de trigo (-12,83%). O bacalhau, um dos principais pratos do Natal, registrou deflação de 12,31% e não deve salgar o bolso do consumidor. Já os itens que apresentaram variação maior que a inflação média são lombo suíno (6,58%), cebola (5,60%) e vinho (5,11%).
No cenário juiz-forano, a cesta básica regional acompanha o movimento de queda e apresenta retração de 5,59% em relação ao mesmo período do ano anterior. Na pesquisa realizada na última quinta (21), a cesta custava R$ 314,98. Em pesquisa equivalente do ano anterior (22 de dezembro), o custo chegava a R$ 333,66. Dentre os 22 produtos mapeados pela Secretaria de Agropecuária e Abastecimento (SAA), a maioria (13) apresentou redução de preços de um ano para o outro. No topo da lista, estão alimentos comuns na mesa do consumidor, como feijão preto (-40,70%), banana prata (-29,69%) e açúcar cristal (-29,31%).
A dona de casa Inês Gonçalves Souza percebeu uma pequena redução dos preços dos produtos às vésperas deste Natal. Mas, para que o impacto fosse realmente sentido no bolso, lançou mão da tradicional pesquisa de preços. Ela e a família decidiram fazer um churrasco para comemorar a data. Na fila das carnes, a dona de casa foi cuidadosa: estava preocupada com a qualidade, mas também com o custo benefício. No carrinho, estavam também cerveja e refrigerante. Para sobremesa, itens para fazer bolo e um sorvete. “Os preços melhoraram um pouco em relação aos do ano passado, mas é preciso pesquisar, sempre.”
A overloquista Vera Lúcia Camilo dos Santos também também optou pelo churrasco. Ela ficou responsável pelas compras, mas vai dividir a despesa com parentes e amigos que costumam comemorar juntos a data. Vera Lúcia dedicou a manhã de sexta (22) para pesquisar preços. Foi a mercadinhos e grandes redes de Juiz de Fora e de Santa Bárbara do Monte Verde. Optou por fazer a compra fragmentada. Segundo a overloquista, alguns itens estão mais caros ante 2016, exigindo uma comparação de preços mais atenta. Já a cuidadora Swian Gonçalves da Silva, que não dispensa a ceia tradicional, considera que os preços estão bem semelhantes aos de 2016, fazendo com que a pesquisa de preços faça a diferença.
Para o economista do FGV IBRE e coordenador do IPC, André Braz, este ano, o clima favoreceu a agricultura. “Com o aumento da oferta de alimentos, os preços recuaram e devolveram parte do aumento registrado em 2016. Desse modo, frutas, arroz e farinha de trigo registraram queda expressiva.” Levantamento realizado por Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) também identifica a desaceleração dos preços dos alimentos que compõem a cesta de Natal. O Departamento de Economia do SPC Brasil mostra que, enquanto a inflação medida pelo IBGE através do IPCA estava em 2,80% em novembro deste ano, a inflação dos alimentos que são consumidos na ceia era de 4,83% no acumulado em 12 meses. No mesmo período do ano passado, enquanto a inflação geral estava em 6,99%, a inflação dos itens natalinos era ainda maior e atingia 11,18%.
Presentes e prudência
Para o economista da FGV, com a ceia menos onerosa, vai sobrar mais dinheiro para comprar os presentes, que registraram aumento médio de apenas 0,67%. Na lista de 19 produtos monitorados pela fundação, aqueles cujos preços mais recuaram foram: aparelho telefônico celular (-6,57%), forno elétrico e de micro-ondas (-4,16%) e aparelho de TV (-2,77%). Em contrapartida, bijuterias (7,07%), calçados infantis (5,67%) e jogos para recreação (4,49%) subiram mais que a inflação.
Para Braz, mesmo com os preços de alguns produtos mais baixos, o melhor é evitar o endividamento. “Ainda estamos com a economia muito desaquecida. O desemprego elevado reduziu muito o orçamento familiar. Aqueles que acumularam recursos ao longo do tempo podem aproveitar a oportunidade e comprar. No entanto, apesar da aparente reação da atividade econômica, não aconselho que as famílias comprometam seus recursos na aquisição de bens só para aproveitar os preços. Promoções ocorrem com frequência e não há necessidade de antecipar o consumo. O momento ainda é de prudência.”
Variação de preços chega a 398% às vésperas do Natal em JF
Às vésperas do Natal, a pesquisa de preços torna-se ainda mais importante. O último levantamento do Guia do Consumidor Natal, divulgado pela SAA, aponta que a variação de preços de um mesmo produto chega a 398% de acordo com o estabelecimento de Juiz de Fora. O quilo da manga Hadden é o que tem a maior oscilação e pode ser encontrado por R$ 2,99 a R$ 14,89. No grupo das frutas, o melão também tem variação expressiva (313,8%), sendo encontrado por R$ 2,17 a R$ 8,98 o quilo.
Entre as bebidas, o espumante, de marca mais barata, apresenta a maior diferença (279,5%), seguido pelo uísque Johnie Walkers/black (137,7%). Entre as carnes, o lombinho canadense apresenta oscilação de preços de 116,1%, seguido pelo peito de peru sem osso (56,7%). Dentre os enlatados, o pêssego em caldas (43,8%) e o azeite extra virgem (25,2%) apresentam as maiores variações. Na categoria outros, as frutas cristalizadas lideram a lista de maiores oscilações (246,6%), seguidas pelas passas sem caroço (escura), com oscilação de 81,8% nos preços. A pesquisa foi divulgada nesta sexta (22) pela SAA.
Intenção de gasto com ceia reduz quase 20%
Para garantir uma ceia farta, o consumidor deve desembolsar, em média, R$ 136,52 com os preparativos da ceia ou do almoço de Natal. A cifra demonstra um comportamento mais cauteloso, uma vez que, no Natal passado, a intenção de gasto era de R$ 167,90, uma redução de 20%. Este é o resultado de levantamento realizado em todas as capitais pelo SPC Brasil e pela CNDL.
O estudo aponta, ainda, que sete em cada dez (73%) entrevistados pretende dividir as despesas com a família, compartilhando os custos (37%) ou estipulando que cada membro leve um tipo de prato ou bebida diferente (36%). Por outro lado, 15% garantem que apenas uma pessoa deverá arcar com todas as despesas dos festejos, sejam eles mesmos (9%) ou outro anfitrião (6%).
O educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli, destaca a importância cultural da celebração do Natal, mas lembra que o aspecto emocional não pode ser o único a pesar nas decisões de consumo. “Para evitar que uma data tão importante se transforme em dor de cabeça, é preciso planejar os gastos com todos os envolvidos nessa comemoração. A divisão de despesas é uma excelente estratégia, pois permite que as famílias contribuam, impedindo que o gasto sobrecarregue o bolso de uma única pessoa. Além disso, vale pesquisas preços e planejar as compras. O ideal é sair de casa com uma lista para o consumidor não se perder entre tantas opções e acabar cedendo às compras impulsivas”, orienta.
Supermercadistas esperam crescimento real de 0,27%
Apesar da corrida aos supermercados às vésperas da data, o supermercadista está cauteloso, e a perspectiva é de incremento nas vendas de 8,34% neste final de ano, uma queda de 1,22% em relação ao ano anterior, quando a perspectiva era de 9,56%. Em termos reais, a estimativa é de estabilidade nas vendas. Os dados são da Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
“O momento político e econômico ainda gera incertezas na população, que segue cautelosa em relação ao consumo, priorizando produtos mais baratos e de menor valor agregado. A retomada do crescimento não veio como gostaríamos em 2017, mas a expectativa é positiva. O Natal e o Reveillon são períodos de grande movimento, e é importante nos prepararmos para receber da melhor maneira possível nossos clientes”, ressalta o presidente da Abras, João Sanzovo Neto.
Comemorando o crescimento de 2,31% nas vendas no acumulado do ano até novembro, o superintende da Associação Mineira de Supermercados (Amis), Antônio Claret Nametala, avalia que o bom desempenho também é esperado para o Natal, cuja perspectiva é de alta de 2% ante 2016. “Nós estamos aprendendo a trabalhar com preços ajustados, temos uma deflação dos alimentos e uma inflação sob controle. O consumidor tem contribuído muito em relação a isso, porque não há fidelidade a marcas, nem a locais, fazendo com que os preços fiquem estáveis.” Nametala espera vendas acentuadas de aves (tendo o frango como destaque) e carne suína, embora outros produtos também estejam sendo procurados, em proporção bem menor ante a do ano passado.
“Os preços de vários produtos estão bem abaixo do que os do ano passado”, avalia o gerente de Marketing do Grupo Bahamas, Nelson Júnior. Ele diz que as aves sazonais são um exemplo, tanto que a indústria, segundo ele, ofertou volume menor ante o Natal passado. A rede trabalha com perspectiva de alta entre 16% e 17% na comparação com o Natal anterior. Conforme o gerente de Marketing, a procura tem crescido desde quinta-feira, com a expectativa de pico neste sábado, quando as lojas da rede funcionam até as 23h.
Para quem deixar para a última hora, o funcionamento segue até as 19h no domingo. Conforme Nelson Júnior, a tradição alimenta a expectativa pelas vendas das aves especiais, como chester e peru, embora a escolha pelo churrasco para comemorar a data seja uma crescente.
Em relação a outros produtos que eram considerados sazonais, como frutas cristalizadas, a avaliação é que o consumo se diluiu durante o ano, mas ainda há um destaque, em especial em relação à polêmica uva passa. Apesar de o vinho ser o ser mais citado na ceia, a cerveja é a recordista de venda.