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Importações de pequeno valor crescem mais de 150 vezes no Brasil

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O volume de importações de produtos de pequenos valores aumentou mais de 150 vezes nos últimos dez anos no Brasil. O levantamento, feito pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais (Fecomércio-MG) a partir de dados do Banco Central, mostra que, apenas durante a pandemia, este número mais que dobrou. O crescimento foi puxado, especialmente, por plataformas como Shopee, Shein e Ali Express, que estão entre as mais utilizadas pelos consumidores e têm ganhado popularidade entre os juiz-foranos por conta da diversidade de produtos e preços mais baixos.

Em 2012, o volume de importações de pequeno valor registrado no país foi de cerca de US$ 60 milhões o que correspondia a 0,03% das importações de bens. Já em 2022, apenas de janeiro a outubro, o volume totalizou US$ 9,945 bilhões, aumentando a participação para 4,01%.

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A popularização das plataformas internacionais aconteceu paralelamente ao processo de digitalização impulsionado pela pandemia da Covid-19, de acordo com o coordenador do Núcleo de Mercado e Consumo da Fecomércio-MG, Marcelo Silveira. Com o regime de isolamento social, muitas pessoas optaram pelas compras pela internet, o que se demonstrou oportuno para as plataformas de comércio on-line. Assim, o crescimento mais significativo no volume de pequenas importações ocorreu a partir de 2020. Naquele ano, o valor foi de US$ 3,47 bilhões. Este fator, somado ao preço baixo e a melhora na eficiência das entregas – com prazos cada vez menores -, criou uma condição interessante para os consumidores, o que elevou o volume de pequenas importações para os patamares observados no ano passado.

Isenção de taxas para baixos valores

No Brasil, a Receita Federal concede isenção em remessas que tenham valor máximo de US$ 50. Sendo assim, a importação de produtos de baixo valor agregado não sofre taxação, contribuindo para o aumento da aquisição destes itens em plataformas internacionais, de acordo com o professor de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Weslem Faria. Além disso, há fatores como qualidade semelhante a dos produtos vendidos no Brasil, maior variedade e popularização destes sites por meio de influenciadores digitais, que avaliam e dão dicas de como comprar nessas lojas on-lines. “O consumidor tem muito mais opções de compras, principalmente de eletrônicos e itens de baixo valor agregado, como peças, utensílios, coisas de eletrodoméstico”, exemplifica.

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Por outro lado, conforme Marcelo Silveira, representante da Fecomércio-MG, por não haver recolhimento de tributos, o volume expressivo de importações de pequeno valor registrado no país deixa de circular no mercado brasileiro. Desta forma, este comércio afetaria empregos, renda e crescimento das empresas locais.

“Você tem um empresário mineiro que paga seus funcionários e impostos em dia, que tem que concorrer em uma situação onde não tem isonomia, uma situação sem equilíbrio com esse varejista asiático que entra, vende sem pagar imposto e contrata uma mão de obra precarizada para trabalhar”, aponta Silveira.

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A estudante Larissa Monaquezi começou a usar plataformas de compras on-line no início da pandemia, por indicação de amigos e familiares (Foto: Felipe Couri)

Plataformas ganham popularidade entre juiz-foranos

A estudante Larissa Monaquezi começou a usar plataformas como Shopee, Shein e Ali Express no início da pandemia, por indicação de amigos e familiares. Com o hábito de comprar roupas e acessórios, ela acredita que tais espaços contam com o benefício de oferecer diversas opções de produtos por preços mais baixos. “Eu costumo dar preferência para essas lojas quando vejo que o produto está mais barato do que em loja física e quando tenho indicação de amigos também”, conta.

Por outro lado, a incerteza quanto ao tempo de entrega é um fator negativo das compras internacionais, avalia. “Às vezes, pode chegar em até duas semanas, mas há casos em que a espera passa de três meses”, diz. “Ou pode ser travado pela alfândega e você perder os seus produtos. Isso nunca aconteceu comigo, mas já vi acontecer com outras pessoas.”

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Além do preço mais em conta, a tatuadora Quimera Couto procura usar os sites internacionais de e-commerce para adquirir produtos que não encontra em Juiz de Fora. As compras são feitas também quando não há urgência em adquirir o item desejado, já que o tempo de entrega pode ser maior, durando algumas semanas ou até meses. Um ponto positivo dessas plataformas, de acordo com Quimera, é a avaliação dos produtos feita pelos próprios usuários. Em casos como Shopee ou Shein, se um consumidor compra um item, ele pode tecer comentários a respeito e até postar fotos e vídeos do que lhe foi entregue. “A galera avalia de uma forma bem sincera. Então dá pra saber muito bem o que esperar além do anúncio.” Além disso, esses sites sempre disponibilizam cupons de descontos e de frete grátis, o que funciona como um incentivo a mais para concluir as compras. “Muitas lojas são do Brasil mesmo e, acima de R$ 40, o frete é grátis”, exemplifica Quimera a respeito da Shopee.

Uma consumidora, que optou por ter a identidade preservada, relatou que já havia realizado compras esporádicas no AliExpress, mas acabou intensificando o uso dessas plataformas virtuais durante a pandemia. “Comecei testando peças de roupas mais simples, acessórios, itens mais baratos, para perder o ‘medo’ de comprar altos valores. Hoje, que tenho confiança na plataforma e aprendi como buscar bons produtos, compro itens de decoração e organização, produtos para casa, vestuário, sapatos, maquiagem, acessórios e óculos.”

Atualmente, ela afirma só ir ao comércio local para comprar itens com urgência, sendo que a maior parte de suas compras é feita apenas de forma on-line. De acordo com a consumidora, há, entretanto, um receio quanto a não saber, de fato, a procedência dos itens que adquire por meio das plataformas internacionais, porém, para ela, este é um problema que afeta o comércio como um todo. “Considero isso uma desvantagem geral do comércio de vestuário em si, porque diversas empresas consolidadas, marcas conhecidas ou até mesmo de luxo também mascaram a origem de suas produções”, diz. “Se eu for no Centro da cidade hoje e comprar um vestido, a vendedora não vai conseguir repassar essas informações precisas, até porque grande parte compra peças em São Paulo para revender aqui”, exemplifica.

Mercado local

Conforme o presidente do Sindicato do Comércio de Juiz de Fora (Sindicomércio-JF), Emerson Beloti, a nível municipal, o que se percebe é que, de fato, as pequenas importações de pequeno valor ocorrem quando os itens não estão disponíveis no comércio local. “Acredito que as pessoas estão comprando nesse movimento e, como são pequenos valores, acaba valendo o risco.”

Porém, como destacado por Beloti, a venda virtual acaba impactando nos estabelecimentos, seja por plataformas internacionais ou brasileiras, mas podem também servir como espaço de oportunidade. “Cerca de 90% de quem trabalha em vendas virtuais são pequenos negócios que estão iniciando”, aponta. “São pequenos empresários que vendem produtos diferenciados, então, nesse sentido, os pequenos empresários de Juiz de Fora podem participar desse processo.”

Comércio defende isonomia

Para Marcelo Silveira, o ideal é que houvesse isonomia nas condições dos comerciantes internacionais e dos brasileiros. Como não há possibilidade de zerar os impostos do comércio local, a tributação dos produtos adquiridos por essas plataformas seria o caminho mais indicado para uma competição na mesma situação de igualdade. “Existe um crescimento da preocupação da sociedade como um todo com as práticas ligadas a sustentabilidade, mas você vai na contramão disso quando aceita comprar um produto que foi produzido em uma situação de trabalho precária e quando retira a renda aqui do país”, explica o representante da Fecomércio-MG.

Oportunidade de negócio

Por outro lado, muitos consumidores acabaram encontrando oportunidades de negócio nessas plataformas, especialmente durante a pandemia da Covid-19, de acordo com o professor de Economia da UFJF, Weslem Faria. No caso, brasileiros fazem a importação de determinados produtos e revendem no país, colocando uma margem de lucro. “Algumas pessoas não conhecem ou, por alguma dificuldade, não conseguem acessar a plataforma ou acreditam ser inseguro e acabam comprando de algum fornecedor aqui do Brasil, que faz a importação via essas plataformas.”

Como lembrado pelo especialista, no ano passado, um grupo de empresários liderados por Luciano Hang, dono da Havan, e por Alexandre Ostrowiecki, presidente da Multilaser, pressionaram o Governo federal para taxar todos os produtos comprados por plataformas como Shein, Shopee e AliExpress. “Uma implementação, por exemplo, de uma fiscalização, de uma mudança tributária ou fazer tributação na fonte da compra – como estavam sugerindo -, era, de certa forma, fazer com que a compra não fosse mais viável e isso acabaria afetando muitos brasileiros que, hoje, dependem desse tipo de comércio para viver”, aponta Faria.

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