A notícia é boa para os motoristas que usam o gás natural veicular (GNV) em seus automóveis. A partir deste mês, o combustível terá um desconto de até 30% comparado com outros. Em Juiz de Fora, essa redução já pode ser sentida no bolso pelos mais de 4.599 consumidores que possuem veículos movidos a GNV, número que garante à cidade o maior percentual do estado, de acordo com a Companhia de Gás de Minas Gerais (Gasmig).
Em termos do preço do produto, entretanto, a cidade fica na 38ª posição de mais barata, das 111 cidades do Brasil que constam na tabela da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O GNV, que já possuía um valor inferior ao da gasolina e do etanol, com a redução de 9,19% do preço, ficou ainda mais vantajoso. A diminuição no preço repassado aos postos veio justamente para tornar o produto mais atrativo e incentivar os motoristas a investirem na conversão do automóvel. Na prática, o desconto que chega para o consumidor final é de cerca de 7%, de acordo com os valores que estão em circulação em Juiz de Fora. Segundo o presidente da Gasmig, Gilberto Valle, em comunicado distribuído à imprensa, “o motorista está pagando menos e rodando muito mais com o gás natural”.
Em busca de mais clientes
A expectativa é que a diminuição do preço do gás natural atraia novos consumidores em Minas Gerais. Em Juiz de Fora, que tem sete postos revendedores, a esperança é que o número de adeptos do GNV cresça. Essa possibilidade vem sendo a meta tanto da Gasmig, que espera agregar 3 mil veículos convertidos em 2023, quanto a de comerciantes como Josué Sostenes, gerente comercial de uma empresa especializada em adaptação de carros movidos a gasolina para o GNV. Ele aguarda ansiosamente as demandas pela instalação. Essa perspectiva é uma alternativa contra a recessão no setor que, de acordo com o comerciante, vem apresentando queda nas vendas de conversão, apesar do aumento no consumo do combustível. A projeção é que, a partir de março, elas voltem a subir.
Um panorama sobre o mercado
Juiz de Fora atualmente possui duas oficinas convertedoras homologadas pelo InMetro. Uma delas é a que Josué trabalha. Ele conta que atualmente os interessados em fazer a conversão estão escolhendo, em sua grande maioria, o cilindro de quinta geração, a um custo médio de R$ 4.500.
Segundo o portal da Gasmig, esse tipo de cilindro traz benefícios. Quando usado como combustível principal, proporciona uma economia de até 60% ao usuário. Além disso, o sistema de injeção eletrônica de gás natural minimiza a perda de potência quando alterna entre GNV, gasolina, etanol ou diesel. As vantagens podem ser vistas também, segundo a Gasmig, para o meio ambiente, como a redução média de 20% nas emissões de CO2 na atmosfera.
Antes dos seguidos aumentos dos preços de outros combustíveis, especialmente a partir dos últimos dois anos, Isaac Izo, que é motorista de Uber, já sofria com os aumentos da gasolina. Isso fez com que ele enxergasse no GNV uma economia e, sem perder tempo, em dezembro de 2021, Isaac fez a conversão. Mesmo com vantagens e com o atual preço desse combustível em queda, Josué revela que as instalações de GNV em automóveis ainda não superaram o mesmo período do ano passado. Isso porque em fevereiro de 2022 a gasolina estava em alta, cenário que se estendeu por quase todo o ano.
Dobro de vendas
A Gasmig, por meio de nota enviada à Tribuna, destaca que o volume de venda de GNV em Juiz de Fora quase dobrou em 2022. Foram muitos os fatores que tornaram essa alta possível, do aumento da gasolina e implantação de uma nova oficina convertedora às promoções de incentivo da empresa pública. Houve um crescimento de 91% no consumo na comparação entre novembro de 2021 e novembro de 2022. O crescimento do mercado total do GNV foi de 26% em Minas Gerais.
O motorista Isaac Izo, ao explicar sua escolha pelo gás natural, enfatiza que aderiu ao uso desse combustível e nunca se arrependeu, mas conhece profissionais que ainda são hesitantes. “Muitos ainda relutam devido ao preço de instalação. Outros acham que danifica o carro, que não tem incentivo do Governo… Mas os que convertem não abrem mais mão, assim como eu”, conclui.
Indo na contramão da opinião de Isaac, o motorista de táxi Luis Nunes revela um outro lado. Ele conta que já teve dois carros movidos a GNV, mas os problemas decorrentes desta escolha falaram mais alto. “Para mim, nem de graça eu quero, isso é só ilusão”. A taxa anual de revisão do gás e as manutenções foram os aspectos indicados por ele como desfavoráveis.
Mas, afinal, GNV é o melhor combustível?
O professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Washington Orlando Irrazabal Bohorquez, especialista em combustão, explica que não existe um melhor ou pior combustível. Mas que cada motor foi projetado para um tipo de combustível, seja ele gasolina, etanol ou diesel. Neste caso, esses motores vão alcançar eficiência máxima (força do motor) a partir do tipo para o qual foram projetados. Ao converter o carro para GNV, em um motor que inicialmente seria a gasolina, por exemplo, o veículo vai perder um pouco de torque (força).
O especialista esclarece o motivo disso acontecer com o gás natural. “Com GNV existe perda de potência do motor porque o motor de combustão interna (MCI) foi projetado para que o processo de combustão alcance sua maior eficiência trabalhando com os combustíveis líquidos já mencionados anteriormente”, diz o professor. Ele acrescenta que, nesta situação, é necessário realizar adaptações no sistema de combustão do GNV para que o desempenho do motor não seja afetado.
Por fim, a melhor escolha vai partir da ponderação da finalidade de utilização do automotor e se, em cada caso, em particular, compensa financeiramente para o consumidor. Ou seja, se o custo benefício de GNV frente a outros combustíveis é mais rentável do que a conversão para GNV e os custos de manutenção.