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Estética Brazilcore: vendas de camisas do Brasil movimentam comércio popular em JF

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No Centro de Juiz de Fora, as camisas verde e amarela estão por todos os lados – seja nas grandes lojas de esquina, nos pequenos comércios, nos ambulantes regularizados e até nas vendas informais. São diferentes modelos, para agradar a todo tipo de cliente. Poucos meses antes do início da Copa do Mundo de 2022, a população já está se preparando de vez para a torcida. Para acompanhar essa tendência, o mercado tem investido cada vez mais em produtos que seguem a estética “abrasileirada”, sendo perceptível, no comércio, o crescimento das vendas e da procura dos clientes por estes produtos. As camisas, hoje, podem ser encontradas entre R$ 60 e R$359,99, variando entre as informais e as oficiais da Seleção.

A ambulante Camila Menezes tem vendido camisas de times nacionais e internacionais. Ela conta que, em média, saem pelo menos três camisas do Brasil por dia. Nesse momento, seu principal investimento é no modelo da Seleção, tanto nas cores verde e amarela quanto azul. Camila conta que a procura acontece desde o início do ano. A expectativa dela é que o movimento se intensifique até a Copa do Mundo, que começa em novembro. O estudante Matheus Carvalho, 23, que passava em frente à barraca, conta que estava procurando opções “mais acessíveis que as camisas oficiais”.

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Optar por produtos que sejam mais baratos, ainda que não sejam oficiais, tem sido uma tendência que os vendedores têm percebido, atribuída principalmente ao alto custo das camisas. A vendedora Valquiria Martins identifica que as ruas já estão tomadas por produtos em verde e amarelo e, em alguns casos, já é necessário repor os estoques, para suprir a demanda. “A camisa azul está saindo mais do que eu imaginava, mas a verde-amarela, simples, é a que tem maior procura. A demanda está até maior em relação a 2018”, diz. Para ela, este ano, as pessoas têm tido “mais esperança de que o Brasil possa vencer” e, por isso, a procura está aumentando.

Como a demanda está realmente elevada, até lojas não segmentadas resolveram investir no ramo. Na Elegância, também localizada no Centro, os produtos de beleza e os acessórios agora dividem espaço com os artigos abrasileirados. Para a vendedora Tamires Policarpo, tem sido importante oferecer opções principalmente que “atendessem mais às mulheres, com tamanhos e modelos para elas”. Uma das clientes que passavam por lá, Vanessa Schneider, 34, conta que resolveu comprar um modelo para a filha, de 10 anos. “Acho que é a primeira Copa da qual ela vai realmente se lembrar. Quero que aproveite bastante, e que entre no clima da seleção”, diz.

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Demanda está aquecida antes mesmo da Copa, exigindo reposição dos estoques, para atender a procura, seja ela política ou futebolística (Foto: Elisabetta Mazocoli)

Copa ou política?

A camisa verde-amarela, além de ser o símbolo da Seleção de futebol, também passou a ser associada, nos últimos anos, aos “times” da política. É por isso que muitos comerciantes também resolveram disponibilizar os produtos antes mesmo de a Copa começar. “No dia 7 de setembro, na manifestação, por exemplo, foi um dos dias em que eu mais vendi essas camisas”, conta Valquíria Martins.

Além das camisas tradicionais, é possível conferir blusas em verde e amarelo com o slogan do atual presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), com a inscrição “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. Antônio Carlos Rodrigues trabalha com diversos produtos que, de acordo com ele, “mostram que o presidente é um patriota”. Um dos modelos disponíveis, vendidos por ele, conta inclusive com uma foto de Bolsonaro. Antônio pretende continuar vendendo camisas do Brasil o ano inteiro. “Tem gente que até passa e xinga. É igual torcida mesmo”, diz.

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A suposta “apropriação” de símbolos do país por movimentos políticos, no entanto, não é novidade. Para o cientista político e professor Paulo Roberto Leal, esse, inclusive, não é um movimento exclusivamente brasileiro, já visto em outros locais do mundo e em outras épocas. “É muito comum que algumas forças políticas, sobretudo aquelas que se revestem de narrativas de recuperação de movimento patriótico, tentem se apropriar de símbolos que não são só deles”, diz.

Copa e política se misturam nos artigos vendidos em JF (Foto: Elisabetta Mazocoli)

Estética ‘brazilcore’

A estética “brazilcore” está viralizando nas redes sociais, sendo utilizada por diversos artistas brasileiros para celebrar e ressignificar os símbolos nacionais, especialmente os de cor verde e amarela. O movimento é motivado pela proximidade da Copa e pelo esforço em fazer com que os símbolos nacionais possam ser usados por todos, sem associação com partidos ou candidatos. Foi justamente o que Isabela Aguiar, 24, estudante, estava buscando ao escolher sua camisa. “Tenho visto muitas pessoas usando as cores, criando ‘looks’ com elas. Até a Anitta no Coachella. Não pode ser mais sobre política”, diz.

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“É muito importante que outras percepções de mundo que não estão sendo representadas por essa fração política façam um esforço coletivo para, em alguma medida, reivindicar a sua parcela de pertencimento ao quinhão dos símbolos nacionais, que, na prática, deveriam ser de todos”, diz Paulo Roberto. Esse movimento de recuperação dos símbolos nacionais também já aconteceu anteriormente.

Como explica o cientista político, durante a ditadura militar no Brasil, houve a busca por parte da ditadura de se apropriar da simbologia e dos grandes elementos identificadores da nação, enquanto nas Diretas Já, em 1984, a população tentou recuperar o uso de verde e amarelo desfazendo essa associação. “Essas manifestações colocam em disputa a associação que se produziu entre símbolos pátrios e forças políticas que tentam se apropriar dele”, diz.

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