A empresa júnior da Faculdade de Economia e Administração da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Campe Consultoria Jr., completa 30 anos de atuação neste mês de abril. Ao longo desse período, incontáveis universitários tiveram sua formação impactada pelas atividades realizadas na empresa, seja em função da troca de experiência entre a equipe ou com contato com os clientes, podendo experimentar uma realidade de mercado de trabalho, ainda na graduação.
O conceito de empresa júnior é relativamente novo no Brasil, chegando ao país no final da década de 1980. Em Juiz de Fora, a Campe foi uma das pioneiras, fundada em 15 de abril de 1992. No início, era chamada de Consultoria e Assessoria Universitária a Médias e Pequenas Empresas. Danilo Oliveira Sampaio, hoje professor na Faculdade de Administração da UFJF, foi um dos membros fundadores e conta que o contato inicial com o termo empresa júnior se deu durante o Encontro Nacional de Estudantes de Administração (Enead), realizado na Universidade Federal de Viçosa em 1992.
“O curso de Administração ainda era muito novo na universidade, então a minha turma acabou ajudando a fundar tudo, o Diretório Acadêmico e a própria Campe. Quando fomos ao Enead, os alunos da FGV (Fundação Getúlio Vargas) contaram um pouco sobre a experiência deles com a empresa júnior lá em São Paulo, e eu e meus colegas logo nos interessamos. Quando voltamos para Juiz de Fora, começamos a pesquisar formas para elaborar um estatuto que permitisse implementar a mesma lógica aqui na UFJF.”
A proposta inicial de criação de uma empresa júnior na então Faculdade de Economia e Administração foi inicialmente vetada pela Reitoria da UFJF sob o argumento de que a estrutura de uma universidade federal não comportava juridicamente uma empresa com estas características. No entanto, devido à persistência dos alunos e com o apoio de entidades e personalidades influentes da época, o estatuto necessário para fundação da Campe foi aceito após muita negociação.
O início não foi fácil, os alunos não possuíam contato com a realidade empresarial e o mercado também não estava familiarizado com o conceito de empresa júnior, ainda muito recente à época. A Campe ocupava um espaço de cerca de quatro metros quadrados, com uma mesa, uma máquina de escrever, um telefone e uma cadeira. “Com o tempo, apesar da resistência inicial, os alunos foram aceitando e entendendo o que era a Campe. Nós realizamos muitas visitas em salas de aula, para explicar todo o conceito. Com isso, mais e mais pessoas se juntaram a nós, como os alunos da Economia e, posteriormente, os das Ciências Contábeis”, relembra Sampaio.
Da dificuldade ao recorde no faturamento
A Campe possui hoje 21 integrantes, atende 40 clientes das mais diversas regiões do país, tendo registrado faturamento anual de R$ 308 mil em 2021. Os serviços prestados são diversos, com foco em pesquisa de mercado, marketing de vendas, finanças, entre outros. A atual presidente da empresa, Maria Clara Senna, argumenta que o sucesso da atuação ocorre porque os membros buscam “entender a dor do cliente”, e pensar em soluções eficientes para solucionar os problemas apresentados. “Nosso foco total é no cliente, pensando em estratégias que envolvem o que há de mais novo no mercado e que podem atender a demanda particular de cada um.”
Para além do sucesso profissional, a Campe também é marcante para todos os alunos que têm a oportunidade de fazer parte da equipe. “A Campe mudou quem eu sou”, conta Maria Clara. “A gente costuma dizer, no movimento empresa júnior, que nós somos uma pessoa quando entramos e nos transformamos completamente depois que saímos.” Ela faz parte do time desde 2020 e viveu grande parte da experiência com os colegas durante a pandemia, no entanto, justamente neste período, foi que a Campe teve o seu maior faturamento.
“Apesar das dificuldades do on-line, nós aproveitamos esse tempo para realizar mudanças que já precisavam ser feitas na empresa há muito tempo. Em 2021, nós batemos recorde de faturamento, e acredito que muito dessas modificações que fizemos, de reorganização dos nossos membros, ampliação da nossa área de atuação e adoção de novas estratégias, nos permitiram atender com maior foco os nossos clientes.”
Atuação em um mercado diversificado
No início de sua história, a Campe tinha como foco o trabalho com pequenas empresas de Juiz de Fora, mas atualmente conta com ampla gama de clientes, principalmente no Sudeste, com parcerias no Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo, além de cidades do Sul do Brasil.
Na cidade, a Campe atua para a Cesama,desde abril de 2021. Juliane Nogueira, gestora de riscos e controles internos da companhia, afirma que a companhia está muito satisfeita com o trabalho realizado pelos alunos, que fazem o mapeamento de processos da empresa. “Eu fiz parte do movimento empresa júnior à época da minha graduação, então já sabia da seriedade e qualidade dos projetos desenvolvidos. Eles têm até nos surpreendido em relação às ferramentas utilizadas. Tenho aprendido bastante com eles, principalmente por ainda estarem na universidade, trazendo muita coisa nova para o mercado. Estão sempre muito motivados e prontos para nos ouvir e aprender o que for possível, é uma troca muito boa.”
Para Maria Clara, essa confiança nas empresas juniores de forma geral, ocorre devido à força do movimento, que tem gerado resultados no Brasil. “Temos grandes empresas que investem em projetos com empresas juniores, como a Ambev e o Bradesco. Então isso passa uma confiança maior para que outros investidores confiem no nosso trabalho.”
Para o fundador da Campe, Danilo Sampaio, o caminho pela frente é promissor. “Principalmente nessa era digital, o campo de atuação da Campe se expandiu muito. Eu vejo a Campe também como um papel social, de ajuda às pequenas empresas para se desenvolverem no Brasil, um país que apresenta tanta dificuldade para esses empreendedores. Sinto muito orgulho e um carinho enorme de ver o que a Campe se tornou, principalmente por pensar que esse é um trabalho conjunto, realizado por todos os membros e todas as gestões até aqui.”
Preparo para o mercado de trabalho
“A experiência que tenho na Campe influencia 100% a minha trajetória profissional, todos os dias”, afirma Rafael Penha, que foi membro da empresa durante a graduação e atualmente é analista de planejamento e processos na Getnet Brasil em São Paulo. “O networking que criei me possibilitou passar pelas empresas que já passei. Quando olho para funções que exerço no meu dia a dia, vejo que tem coisas que aprendi lá atrás, quando estava na Campe.”
Rafael conta que tem muito orgulho ao saber que pôde fazer parte de uma história que já está completando 30 anos. “Orgulho, felicidade e gratidão são os sentimentos que sinto ao refletir sobre isso. Orgulho de pensar que a ideia de algumas poucas pessoas, 30 anos atrás, chegou aonde chegou e vai continuar indo para frente por muitos anos. Gratidão por todo o aprendizado que tive lá e as amizades que fiz ali. E felicidade de ver que a empresa está conseguindo se perpetuar e ainda existem pessoas lá dentro que querem que a Campe complete mais 30, 60, 90 anos, enfim, muitos anos.”