Após o Comitê de Política Monetária (Copom) elevar a taxa básica de juros (Selic) para 9,25% ao ano, o cálculo do rendimento da caderneta de poupança retorna à antiga regra de até abril de 2012, mas, ainda assim, permanece abaixo da inflação, que está acima dos 10%, no acumulado dos últimos 12 meses. Com a decisão tomada na última quarta-feira (9) pelo Copom, a rentabilidade da aplicação popular passa a ser de 0,5% ao mês + TR (Taxa Referencial calculada pelo Banco Central, que está em zero, mas que deve voltar a subir com a alta da Selic), ou 6,17% ao ano. A isenção de imposto de renda e a liquidez imediata, que caracterizam a caderneta, continuam valendo.
Antes do aumento recente da Selic, que estava em 7,75% ao ano, o retorno da poupança “nova” era de 0,44% ao mês, ou de 5,43% ao ano. A mudança nos cálculos acontece desta vez porque, desde 2012, a caderneta conta com dois tipos de remuneração, dependendo diretamente da Selic. Quando a taxa é de até 8,5%, os rendimentos para os depósitos feitos desde maio daquele ano são referentes à soma de 70% da Selic e da TR. Já quando o índice ultrapassa os 8,5%, como aconteceu desta vez, a conta passa a ser feita da mesma forma que para a chamada “poupança antiga”: rendimento fixo de 0,5% ao mês + TR, ou 6,17% ao ano. Com isso, todas as aplicações nessa modalidade, independentemente da data, contam com a mesma correção, como acontecia antes das alterações realizadas em 2012.
O economista e professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) – Campus Três Rios, Paulo Saraiva, enfatiza que, como a regra antiga passa a valer a partir da Selic acima de 8,5%, a remuneração é melhor. Mas ele pondera que, como a inflação oficial (IPCA) medida para os últimos 12 meses, por exemplo, foi de 10,25%, a taxa de juros da poupança não deve superar esse valor. “O resultado tende a perder para a inflação. As opções concorrentes de renda fixa, como Tesouro direto e fundos de investimentos, remuneram melhor a aplicação.”
Redução do nível de atividade econômica
Questionado sobre a tentativa do Copom de frear a inflação e os impactos econômicos dessa medida para a população em geral, o economista pontua que, segundo o Banco Central, a elevação de juros desestimula o consumo de bens que, via de regra, são financiados – como veículos, geladeiras e máquinas de lavar -, além do investimento empresarial. “Entretanto, as causas da inflação são muito variadas, tais como produtos importados (sobre os quais o câmbio influencia), bem como de custos. Um exemplo é a elevação do petróleo, que provoca aumento dos fretes e transportes.” Dessa forma, portanto, segundo ele, só a elevação dos juros não resolve a inflação alta. “Os impactos são queda de consumo das famílias e de investimento das empresas, reduzindo o nível de atividade econômica.”
Como essa é a primeira vez, desde a mudança das regras em 2012, em que a poupança volta a ser calculada pela maneira antiga, mesmo para os depósitos feitos a partir daquele ano, Saraiva considera que isso, em parte, significa que a inflação está forte, e o Governo, por sua vez, está tendo dificuldade em baixá-la.
Sobre quais outros investimentos passam a ter melhor rendimento com a alta da Selic, o economista cita títulos públicos, CDBs (Certificado de Depósito Bancário) e CDIs (Certificados de Depósito Interbancário). “Vivemos uma fase muito difícil em várias dimensões e, na área econômica, o Governo não tem conseguido resolver dois problemas: inflação e desemprego. Logo, a renda gerada pelo trabalho cai, assim como o poder de compra dos empregados. Uma triste tempestade de chuva e muitos ventos”, conclui.