Considerada o termômetro da economia pela capacidade de promover impactos em toda a cadeia produtiva, a construção civil é o primeiro setor a detalhar o que espera para este ano. O principal segmento da indústria juiz-forana é responsável por empregar mais de seis mil trabalhadores e movimentar em torno de R$ 13 milhões em salários por mês. “A nossa expectativa é aumentar o nível de emprego. O setor tem um papel importante para a retomada econômica”, diz o presidente do Sindicato da Construção Civil de Juiz de Fora (Sinduscon-JF) e da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) da regional Zona da Mata, Aurélio Marangon. Para além da relevância econômica, ele destaca a importância social de manter a atividade aquecida para promover redução do déficit habitacional e melhorias em infraestrutura.
A aposta do empresariado local é que a queda da taxa de juros (Selic), que chegou ao menor patamar histórico (4,5%) no final do ano passado, facilite o acesso ao crédito e impulsione o consumo. Também há otimismo em relação às reformas da Previdência e tributária. O anseio por uma melhora consistente na economia é grande, mas há o consenso de que “a mudança deve acontecer aos poucos”, e que “o primeiro passo já foi dado”.
Retrospectiva
O ano passado não foi como a construção civil esperava. A expectativa era que a retomada do crescimento aconteceria, e 2019 se consagraria como “o ano da virada”, mas isto não ocorreu. “Infelizmente, o primeiro semestre não foi bom. Ainda pairava muita incerteza, e a indústria, de forma geral, continuou sentindo os impactos da crise. Na construção civil, não foi diferente”, avalia Marangon.
No segundo semestre, o setor esboçou reação. “A redução dos juros tornou o financiamento para a compra de imóveis mais acessível. Além disso, a inflação sob controle e a liberação dos saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) contribuíram para melhorar o nível de consumo. Tudo isso criou um clima mais otimista para os empresários, que ficaram mais dispostos a investir e contratar.”
Entre janeiro e novembro, a construção civil de Juiz de Fora teve saldo positivo na criação de empregos, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pela Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia. No total, foram 104 novos postos de trabalho, resultado entre as admissões e demissões feitas no período. O número ainda é bem inferior ao registrado em 2010, quando o setor viveu um período de aquecimento que culminou na geração de 1.050 empregos, mas trouxe fôlego após seis anos consecutivos de redução da empregabilidade.
Cidade deve ganhar novos projetos
Apesar das dificuldades econômicas vividas ao longo do ano passado, os lançamentos imobiliários continuaram acontecendo. “Ao que tudo indica, este ano será ainda melhor. Os empresários seguem confiantes, e isto faz com que os projetos que foram paralisados saiam do papel”, analisa o presidente do Sinduscon-JF e da Fiemg regional Zona da Mata, Aurélio Marangon.
A Construtora GMM realizou, no ano passado, dois lançamentos, um no Bairro São Mateus, na Zona Sul, e outro em Santa Helena, na região central. Para este ano, a empresa estuda a viabilização de três novos projetos. O diretor Eduardo Mendes acredita que o mercado imobiliário irá viver um momento de crescimento da demanda a partir de agora. “Ainda em 2019, pudemos perceber o reaquecimento do setor. A queda de juros fez com que muitos investidores buscassem novas alternativas, incluindo imóveis. Além disso, facilitou o financiamento em um período de preços represados. Para este ano, as expectativas são as melhores possíveis.”
Estimando aumentar as vendas em até 30% em comparação com o ano passado, Mendes avalia que o crescimento impõe desafios. “É preciso se preparar para o aumento da demanda. Isto exige organização e, também, uma leitura eficiente do mercado para que possamos oferecer ao consumidor o que ele busca. A nossa preocupação é entregar projetos que valorizem a cidade e contribuam para o desenvolvimento econômico da região em que estão localizados.”
De acordo com o Grupo Rezato, o ano passado começou com expectativas positivas, mas as vendas não aconteceram no patamar esperado. Apesar disso, as projeções para 2020 são otimistas. “Esperamos aumento das vendas. Manteremos o ritmo acelerado das obras dos dois residenciais que estamos construindo nos bairros São Mateus e Alto dos Passos”, informou via assessoria. “Os juros básicos tiveram uma queda expressiva, reduzindo o custo da dívida pública e mantendo baixa a inflação. Estes fatores melhoram significativamente o ambiente de negócios.”
Setor espera criar até 200 mil vagas no país
O otimismo dos empresários não se restringe a Juiz de Fora. As expectativas positivas também são confirmadas nos âmbitos nacional e estadual. O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, acredita que a construção civil deve crescer 3% até dezembro, o que representa um potencial para criação de até 200 mil empregos formais. A perspectiva de expansão também é justificada pelo cenário de juros baixos e inflação controlada.
Para o Sindicato da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG), o setor pode alavancar a recuperação da economia nacional. “Em todas as análises comparativas, o setor cresceu, impulsionando o investimento e contribuindo positivamente para os resultados do PIB. Nos primeiros nove meses de 2019, em relação a igual período do ano anterior, o setor registrou alta de 1,7%. A melhora do ambiente macroeconômico e da confiança dos empresários contribuiu para esse resultado”, declarou em nota. “O balanço geral do setor em 2019 é claro: a construção saiu do fundo do poço e mudou a rota. Deixou de cair para começar a trilhar o caminho do crescimento. Agora é essencial dar sustentabilidade a essa recuperação em todas as suas esferas de atuação.”
Minha Casa, Minha Vida é o principal desafio
A incerteza sobre o futuro do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida é um dos principais desafios a serem enfrentados pela construção civil este ano. Em 2019, quando completou dez anos de existência, enfrentou atrasos na liberação de recursos e a dúvida sobre a sua continuidade, sobretudo do atendimento à chamada faixa 1, direcionada a famílias de baixa renda, que não recebeu nenhum novo projeto. O orçamento deste ano prevê apenas a continuidade dos contratos já existentes. “A indústria da construção se preocupa com a situação do programa”, afirmou o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins.
De acordo com informações do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), a ausência de novos investimentos se deu por conta da restrição fiscal. “Diante deste cenário, os esforços da União foram no sentido de honrar o que já estava em andamento”, declarou o ministro Gustavo Canuto, em nota.
O texto confirma que a proposta é realizar uma reformulação do Minha Casa, Minha Vida. “Equipes técnicas do Governo – Ministério do Desenvolvimento Regional, Ministério da Economia, Casa Civil e Caixa Econômica Federal – estudam a reformulação do Programa de Habitação de Interesse Social. A expectativa é apresentar a nova proposta no primeiro semestre.”
Próxima edição
Na próxima matéria da série, serão apresentados os principais acontecimentos para a indústria da transformação de Juiz de Fora em 2019, as expectativas e os desafios para este ano.