A chegada da conta de água nas residências tem causado dor de cabeça a dezenas de juiz-foranos, que identificaram aumento elevado nos valores cobrados. A Tribuna recebeu várias reclamações, todas com uma característica em comum: a recente troca do hidrômetro pela Cesama. Segundo a companhia, a substituição, rotineira, é motivada pelo fato de o desgaste do equipamento promover leitura a menor. Com o novo equipamento, informa a companhia, seria possível mensurar o consumo de forma mais precisa, além de assegurar maior sensibilidade na identificação de “vazamentos invisíveis”, o que impactaria o custo final. Só em fevereiro, foram substituídos mais de três mil aparelhos na cidade. A orientação da companhia é, mediante dúvida sobre o valor cobrado, procurar a central de atendimento ao cliente e, se preciso, questionar o consumo, solicitando a aferição do equipamento.
Com duas contas em mãos, a técnica de enfermagem Cleide Ramos engrossou o grupo que compareceu à unidade nesta sexta-feira para questionar a cobrança. Na fatura de fevereiro, o valor cobrado foi de R$ 71,60. Na de março, R$ 701,98, quase dez vezes a mais. Em um primeiro momento, Cleide achou que fosse erro na digitação, mas foi orientada a buscar por “vazamentos invisíveis” na residência. “Nem que desse banho em uma baleia, todos os dias, a minha conta chegaria a esse valor”, desaba, sem esconder o inconformismo. A sua casa está localizada no Bairro Ipiranga. Segundo ela, houve troca recente do hidrômetro, não acompanhada por alteração nos hábitos de consumo que justifique o aumento, considerado “absurdo”.
O psicólogo Raphael Oliveira mora no Bairro Jardim Gaúcho e, a exemplo de outros vizinhos, surpreendeu-se com o valor elevado da conta, que mais que dobrou. Em janeiro, comenta, a companhia realizou a troca do equipamento. “A partir dessa troca, as contas começaram a chegar com valor absurdo, não condizente com a rotina e o gasto de água da minha residência.” Segundo o psicólogo, o valor passou de R$ 31 para R$ 65 em dois meses, “sendo que não houve alteração na rotina da casa e nem aumento no consumo de água”, defende. Segundo ele, alguns vizinhos chegaram a receber faturas acima de R$ 600. O consumidor compareceu à agência na quinta-feira, que, segundo ele, estava repleta de clientes na mesma situação. A orientação recebida foi a mesma: verificar se há vazamentos. Como não é um caso isolado, ele cobra providências por parte da companhia.
O maquinista Christian Ribeiro enfrenta o mesmo problema. De acordo com ele, a média de gasto na sua residência era de R$ 35, o equivalente a oito metros cúbicos (m³). “Em janeiro, todos da minha casa ficaram fora em férias por 15 dias.” A troca do hidrômetro, afirma, foi feita nesse período e, diz, só percebida pela numeração diferente no equipamento. Na conta seguinte, a cifra passou de R$ 70, com consumo de 14 m³. Conforme Christian, este mês, o aumento foi ainda maior e chegou a R$ 117, o equivalente a 20m³ de gasto de água. “É um absurdo para um consumo de três pessoas que nem ficam em casa – todas trabalham o dia todo”. Segundo Christian, no seu caso, a justificativa de que o aumento seria provocado por vazamentos não procede, já que ele teria realizado os testes recomendados, sem identificar anormalidades. O consumidor chegou a trocar os registros das descargas principais e garante que o problema não está em sua casa. “Tem alguma coisa errada e não é aqui.”
Para Cesama, é preciso analisar caso a caso
Segundo o diretor de Desenvolvimento e Expansão da Cesama, Marcelo Mello do Amaral, é preciso analisar caso a caso, mas aumentos muito elevados, como o de Cleide, indicam algum “fato diferente” além da troca do hidrômetro, como possibilidades de consumo “exagerado” ou existência de vazamentos. Conforme Marcelo, o programa de troca de hidrômetros é contínuo, realizado anualmente, com o objetivo de manter o parque com idade inferior a cinco anos. Um particularidade, porém, foi que, com a revisão tarifária realizada em 2016, a Arsae, agência reguladora, incentivou a redução da idade média dos equipamentos, em busca de ganhos em eficiência, estimulando um “programa de troca mais intenso”. Este ano, explica o diretor, o volume de troca foi um pouco maior, variando entre 3.500 e quatro mil equipamentos por mês. A Cesama mantém 143 mil ligações na cidade.
A companhia não considera a possibilidade de problemas nos novos hidrômetros, mas esclarece que o consumidor pode reivindicar – e até acompanhar – a aferição do equipamento, realizada por uma banca regulamentada pelo Inmetro. Há custo a ser pago pelo consumidor, caso não sejam identificados problemas. “Os resultados demonstram que 100% dos hidrômetros trocados não têm problemas de aferição.” Ao contrário, garante, os aparelhos antigos, na maioria das vezes, apresentam submedição. O diretor reforça que a companhia está aberta a receber qualquer tipo de reclamação, havendo, inclusive, previsão de abatimento na conta em caso de elevação de gastos motivada por vazamentos (até então) ocultos ao consumidor.