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Escalada do dólar pressiona preços em Juiz de Fora

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Em virtude da oscilação da moeda, houve redução do prazo em orçamentos realizados para o consumidor no setor de próteses ortopédicas (Foto: Fernando Priamo)

Os juiz-foranos já sentem no bolso os efeitos da alta do dólar. Nas últimas duas semanas, a moeda disparou e atingiu a máxima histórica do Plano Real. O ápice para a cotação foi no dia 27 de novembro, quando chegou aos R$ 4,25. Agora está em R$ 4,19, segundo dado divulgado pelo Banco Central na quarta-feira (4), e a instabilidade continua. O aumento do dólar é responsável por desencadear a elevação de preços de diferentes produtos e serviços, em curto, médio e longo prazos. De acordo com especialistas, a moeda deve se manter acima de R$ 4 também no primeiro semestre de 2020, o que aumenta a preocupação sobre os reflexos na economia nacional.

Quem planejou viajar ao exterior nestas férias deve estar preparado para o encarecimento dos custos. “Essa volatilidade do dólar afeta de forma diferente cada setor. No turismo, acontece de forma imediata. Viagens internacionais ficam mais caras porque a moeda está custando mais”, explica o economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais (Fecomércio), Guilherme Almeida. Diante disso, os destinos brasileiros tendem a ser mais procurados pelos turistas, situação que, se for mantida por mais tempo, pode contribuir para que as viagens nacionais também encareçam.

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O agente de viagens Jorge Carneiro diz que a variação do dólar ocasionou queda na demanda dos juiz-foranos por destinos fora do país. “Desde 2015, começamos a observar a diminuição da procura por pacotes internacionais, devido ao aumento do câmbio. Houve um período de estabilidade, ainda longe do ideal, mas esta recente ascensão da moeda voltou a interferir na busca por estas viagens.”

Adequação
Segundo Jorge, quem não abre mão das viagens internacionais acaba por se readequar à realidade da alta do dólar. “Estes consumidores procuram datas com melhores preço das passagens aéreas ou diminuem o tempo da estadia, na tentativa de reduzir o custo final.” Entre aqueles que preferem mudar de planos e passar as férias no Brasil, a preferência é pelas capitais do Nordeste e cidades que têm praia.

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Ele confirma que há a possibilidade de as viagens nacionais encarecerem por conta do aumento da demanda. “Infelizmente, isto pode ocorrer justamente com o preço das passagens aéreas, que acaba sendo o item mais caro de uma viagem.”

Setores enfrentam aumento de insumos

O impacto da alta do dólar no comércio é sentido, primeiramente, pelos empresários, que percebem o aumento de preços de produtos e insumos importados. “O repasse de custos ao consumidor é mais demorado, principalmente, neste momento em que a retomada da economia ainda não aconteceu e as empresas não estão podendo perder as vendas”, analisa o economista da Fecomércio-MG, Guilherme Almeida.

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De acordo com o especialista, em curto prazo, o efeito para o consumidor pode ser a falta de produtos. “A princípio, o empresário pode optar por não abastecer o estoque. Mas se a alta de preços perpetuar por mais tempo, aí o repasse dos valores é inevitável.” Guilherme ressalta que vários itens sofrem interferência da variação do dólar. “É uma lista extensa entre produtos que são importados ou que possuem algum componente importado na etapa de produção. Estamos falando de alimentos como o tradicional pão francês e outros a base de trigo; de eletrônicos; e produtos da área da saúde, dentre outros.”

A proprietária da loja Odonto Cirúrgica, Elizângela Garcia, comenta como a oscilação da moeda afeta o dia a dia da empresa. “Trabalhamos com muitos materiais que são importados ou que têm a matéria-prima importada, como luvas e máscaras cirúrgicas. Por isso, precisamos estar sempre atentos e adaptando a quantidade de produtos que compramos para poder equilibrar as contas.” Ela afirma que se surpreendeu com a recente escalada do dólar. “Foi um aumento brusco e inesperado. O orçamento que tínhamos no início de novembro mudou no final do mesmo mês. Não precisamos repassar custos aos consumidores, mas é uma situação que exige maior atenção da nossa equipe de trabalho.”

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O diretor administrativo da OrtoJuf, Ronaldo Carnot, diz que o primeiro impacto no negócio foi a redução do prazo dos orçamentos realizados para o consumidor. “Nós trabalhamos com próteses ortopédicas. Algumas são importadas, outras possuem algum componente de fora do país”, explica. “Os nossos pedidos são por demanda e, neste momento de instabilidade do dólar, os orçamentos dos importados mudam muito rápido. Por isso, aconselhamos os clientes a não demorarem muito na aprovação para não correrem o risco de os valores modificarem.”

Logística
A empresa de logística internacional, exportação e importação Interfreight verificou aumento de custos das operações neste período. “As nossas despesas são em dólar. Além disso, quanto mais alto o valor da moeda, mais os nossos clientes estudam a possibilidade de comprar produtos no mercado interno”, informa o especialista em gestão de comércio exterior e sócio da empresa, Leonardo Schmidt. Ele esclarece que, embora o cenário seja favorável às exportações, este é um trabalho que exige tempo. “Não dá para uma empresa que nunca exportou começar este tipo de operação porque o dólar está em alta. Para exportar é preciso estar estruturado, pois há muitas diferenças culturais e de negócios.”

As causas e os reflexos na cadeia

A economista e professora da UFJF Fernanda Finotti avalia que a instabilidade internacional é o principal motivo para afastar investidores e contribuir para a alta do dólar. “Muitos atribuíram esta escalada da moeda à declaração do ministro Paulo Guedes de que a Selic vai continuar caindo. No entanto, isto não seria suficiente para causar este efeito, uma vez que a nossa taxa de juros está em 5%, percentual muito superior à taxa americana, que é de 1,75%”, compara. “O que acontece é que os investidores enxergam o Brasil dentro do bloco América Latina e não de forma isolada. E estamos passando por momentos turbulentos em vários países.”

Segundo Fernanda, neste primeiro momento, os impactos aos consumidores serão mais brandos. “A preocupação é com relação a quanto tempo vai perdurar a alta do dólar. O petróleo, por exemplo, é cotado nesta moeda e isso pode desencadear aumento de custos dos combustíveis. Como transportamos tudo por meio rodoviário, este é um impacto que pode prejudicar ainda mais a nossa economia. Com ela fraca, se tivermos uma alta generalizada de preços, as pessoas vão ficar mais pobres.” A especialista orienta que os consumidores continuem pesquisando preços e priorizando produtos locais. “Isso ajuda no bolso e, também, dinamiza a economia.”

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