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Escolas de samba movimentam economia juiz-forana

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Carnavalesco Júlio Meurer cresceu dentro da quadra e hoje cria fantasias que são vendidas para todo o país (Foto: Felipe Couri)

Quando fala-se de carnaval, os primeiros pensamentos para muitos brasileiros remetem aos desfiles das escolas de samba, que reúnem milhares de pessoas, de diferentes grupos, para contar histórias ao longo da passarela. Nos dias da festividade, o público acompanha um trabalho que foi construído ao longo de meses que antecedem a folia de Momo. Nesse tempo, muitas pessoas trabalham nos bastidores para dar forma e cor aos enredos. Entre contratações de profissionais, como costureiras, pintores e alegoristas, e compras de mercadorias no comércio local, as escolas de samba de Juiz de Fora contribuem para movimentar a economia não apenas das comunidades envolvidas, mas da cidade como um todo.

Além de dar oportunidade de trabalho temporário, o período que antecede o carnaval também movimenta diferentes setores da economia, já que as escolas de samba precisam de diversos tipos de materiais para ganhar a avenida, desde tecidos e itens de artesanato até materiais metálicos e tintas, de acordo com o presidente de honra da Mocidade Alegre, Marcos Tadeu Batista Soares.”É preciso comprar o ferro pra fazer o carro alegórico, pagar o soldador para soldar o carro alegórico. Além disso, é preciso ir nas lojas da cidade para comprar o material, então acaba que o carnaval movimenta a economia da cidade toda.”

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Paralelamente aos preparativos para os desfiles, conforme Marcos Tadeu, há também a mobilização dos setores de turismo, alimentação e hotelaria durante a folia, além do próprio setor cultural, pela contratação de artistas musicais para realização de shows.

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“Estas são, portanto, evidências que comprovam a importância do carnaval como meio vital na geração de emprego temporário e renda para uma grande parcela de brasileiros, além da arrecadação de impostos para os Governos municipais, estaduais e Federal, através do incremento do turismo durante os festejos carnavalescos.”

Os trabalhos na Mocidade Alegre, por exemplo, tiveram início em agosto do ano passado e, segundo seu presidente, a escola de samba busca priorizar o comércio do Bairro Santa Cecília, Zona Sul de Juiz de Fora, onde se localiza o barracão. Isso acontece desde a padaria do bairro, para fornecer lanches para os trabalhadores da escola, à cabeleireira, que embeleza a equipe em dias de eventos.

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“A gente prefere comprar tudo aqui. Só compra lá embaixo (no Centro) o que não tiver aqui, como por exemplo material de carnaval”, diz. “A gente procura gastar e fazer esse dinheiro girar em torno da comunidade.”

Oportunidade de trabalho

Há mais de 20 anos, Rozeli Aparecida, de 58 anos, trabalha para escolas de samba em Juiz de Fora no período que antecede a festa de Momo. Atualmente, ela está desempregada, mas tem atuado como costureira para a Feliz Lembrança e a Vale do Paraibuna como forma de complementar a renda da família. “Costumo pegar serviços de costura, mas também vou no barracão ajudar.”

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Rozeli também realiza serviços extras de consertos de peças nas horas vagas, mas, no período de carnaval, acaba ficando por conta de fazer as fantasias para as escolas de samba. O trabalho todo é feito em sua própria residência. “Eu me sinto muito honrada em trabalhar nas escolas de samba. Sempre gostei de carnaval”, comenta.

Aos 64 anos, Luiz Carlos Monteiro também tem uma relação de longa data com a festa em Juiz de Fora. Na Feliz Lembrança, sua função é de decorador dos carros alegóricos, em um trabalho que envolve diversas atividades, desde fazer o assoalho a consertar algo que seja necessário.

Morando próximo à quadra, localizada no Bairro Barbosa Lage, ele acaba auxiliando a equipe também no que for necessário. “Aqui eu trabalho quando começa [o preparativo para] o carnaval, sempre venho ajudar”, conta. “A gente vem e decora, pinta, reforma os carros, vai fazendo de tudo.”

Recursos escassos

O último desfile competitivo das escolas de samba aconteceu em 2017, sendo que, em 2018, a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesjuf) alegou que não havia recursos suficientes para a realização. O mesmo se repetiu em 2019 e 2020. Em 2021 e 2002, o motivo da não realização foi a alta de casos de Covid-19.

O ano de 2023 será especial pela retomada dos desfiles na cidade, entretanto, os recursos estão mais escassos. Nesta edição, as escolas do primeiro grupo receberam R$ 77 mil, enquanto as do segundo, R$ 40 mil cada uma, de acordo com Marcos Tadeu, presidente da Mocidade Alegre. Este valor seria o mesmo disponibilizado no último carnaval que contou com desfiles, em 2017. “Hoje, a gente está se desdobrando. Nós não vamos fazer aquele belíssimo carnaval, mas vamos fazer para dar aquela retomada, para acender a chama de novo”, conta.

Ainda de acordo com Marcos Tadeu, a escola de samba está contando com o trabalho de cerca de 20 pessoas da comunidade, com ajuda de custo de cerca de R$ 500 para cada uma, dando preferência para as que estão desempregadas. As contratações incluem costureira, serralheiro, aderecista e responsáveis por desenhar e elaborar o enredo. Para driblar as questões financeiras, a Mocidade Alegre conta também com o trabalho voluntário da vizinhança. “Estamos usando mão de obra de pessoas que desfilam na escola, porque o dinheiro não é muita coisa.”

Há mais de 20 anos, Rozeli trabalha nos barracões. Hoje costura para duas escolas, por paixão e para complementar a renda da família. “Pego serviços de costura, mas também vou ao barracão ajudar” (Foto: Felipe Couri)

Feliz Lembrança contrata 30 profissionais

Para o carnaval de 2023, a Feliz Lembrança contratou cerca de 30 pessoas para atuarem nos preparativos para o desfile, como costureira, alegorista e eletricista. A média de trabalhadores mobilizados é a mesma dos eventos anteriores, porém, conforme destacado pelo presidente da Feliz Lembrança, Jair de Castro Silva, o recurso é o mesmo, mas os materiais estão mais caros do que há seis anos.

“A equipe permanece a mesma, só que o custo subiu três vezes”, diz. “Preciso comprar uma folha de madeirite. Custava R$ 9,50, hoje é R$ 34”, exemplifica. A Feliz Lembrança enfrenta outra dificuldade em relação aos ensaios, já que a quadra está descoberta desde 2018, após um forte temporal que atingiu Juiz de Fora.

Apesar dos empecilhos, a agremiação tem se esforçado para retomar a festa este ano, remunerando as pessoas que trabalham conforme as possibilidades do orçamento. “Todo dia vem uma pessoa ajudar. A gente dá uma gratificação para cada um, dentro do limite da escola.” À reportagem, Jair reforça o pedido para a população desfilar e aproveitar a retomada dos desfiles em Juiz de Fora. “As fantasias já estão prontas e dia 21 (de fevereiro) vamos dar a resposta que o povo está merecendo.”

Funalfa destaca profissionalização da folia

A Tribuna questionou a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) sobre os recursos disponibilizados serem os mesmos de 2017. A Funalfa, por meio de sua assessoria, informou que, conforme os registros encontrados, “essa informação não procede”. Em nota, a entidade destacou que este ano será a retomada após cinco anos de interrupção dos desfiles, com diretrizes de execução inéditas na profissionalização do carnaval.

“Isso se dá através da contratação de uma produtora de eventos que se responsabilizará pela execução dos serviços do carnaval, pela dinâmica de apoio ao carnaval de rua em todo o território de Juiz de Fora, pela construção coletiva junto aos fazedores e fazedoras do carnaval e as forças de segurança, fato inédito na história da cidade e que demanda investimento da Prefeitura”, diz no texto.

JF comercializa fantasias para outros municípios

Desde a adolescência, o carnavalesco Júlio Meurer tem forte envolvimento com as escolas de samba e a festividade do carnaval em si. Hoje, aos 64 anos, cria fantasias que são vendidas para todo o Brasil pela loja Cidade das Fantasias, localizada na Vila Ideal, em Juiz de Fora. “Eu fazia parte do Real Grandeza. Meu pai é um dos fundadores, era diretor, então cresci dentro da quadra, praticamente. Fui desenvolvendo e aí virou profissão.”

Júlio idealiza e atua na produção de grande parte das fantasias vendidas pelo estabelecimento, que soma 30 anos de atuação. Só para o carnaval de 2023, a loja estima a confecção de mais de 20 mil peças, que são vendidas não apenas para as escolas de samba de Juiz de Fora, mas para de municípios da região, como Guarani e Ubá, e até mesmo de outros estados, como Vitória, Macaé e Cabo Frio, entre outras cidades do interior de São Paulo e Rio de Janeiro.

“Quando pegamos um trabalho de escola de samba, normalmente eles apresentam o enredo, e a gente vai desenvolvendo dentro da proposta que foi apresentada”, diz. Para além das encomendas, ele cria outras peças que não seguem, necessariamente, um enredo, mas costumam ser voltadas para vendas espontâneas. “O cara está precisando de fantasia de, por exemplo, indígena, aí já fica pronto e, se encaixar no enredo dele, ele vai levar.”

Além das produções próprias, o estabelecimento também revende itens usados em carnavais anteriores por outras escolas, inclusive as dos grupos principais de Rio de Janeiro e São Paulo. A produção, entretanto, não se limita apenas ao período do carnaval e dura o ano todo. Mesmo durante a pandemia, em que não houve a tradicional festividade, o estabelecimento manteve a produção das fantasias e as guardou até que houvesse a retomada. “A procura, normalmente, é de setembro pra frente, mas a gente trabalha o ano todo. O carnaval acaba agora em fevereiro, mas já em março estamos trabalhando fazendo as peças para 2024”, conta o proprietário da Cidade das Fantasias, Carlos Alberto de Souza Novaes (Betinho).

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