Ao se pensar em fronteiras, podemos imaginar a palavra dentro de alguns de seus significados na língua portuguesa: limite, divisão, fim. Sendo mais otimista, um ponto de unificação. Mas fronteira também pode ser vista como a certeza de que existe algo do outro lado, talvez desconhecido, um novo universo a ser descoberto, explorado. E é sob esse ponto de vista que podemos analisar e ouvir “Fronteiras”, quarto álbum do compositor, instrumentista e cantor Rafa Castro, lançado de forma independente na última semana. O sucessor de “Teias” (2015, parceria com Túlio Mourão) mira exatamente nessa busca por novos caminhos e possibilidades, com maior liberdade de criação nas canções.
O álbum, produzido com a ajuda de uma campanha de financiamento coletivo (crowdfunding), é resultado de um processo de criação que durou cerca de dois anos, com um deles dedicado essencialmente aos ensaios. As gravações foram realizadas no estúdio Gargolândia, numa fazenda localizada do interior de São Paulo, durante quatro dias de outubro do ano passado. As dez músicas do álbum foram gravadas ao vivo, no esquema de quarteto (piano, guitarra, bateria e contrabaixo), com produção de Luiz Ribeiro, também responsável pela captação de áudio e mixagem. As gravações adicionais (quartetos de cordas e convidados) foram feitas no Casa Aberta Estúdio, na capital paulista. O trabalho pode ser adquirido no formato físico, ouvido por meio dos serviços de streaming e também no YouTube, além de estar disponível para download.
Com design gráfico de Lorena Dini, em que o encarte é formato por cards que podem ser montados, “Fronteiras” reúne composições de Rafa Castro em parceiras com Kadu Mauad, Thomaz Panza, Bernardo Maranhão, Renato da Lapa, Vinicius Steinbach, Caetano Brasil e Pablo Bertola. O objetivo do artista é estabelecer um diálogo entre a música instrumental e a canção; por isso o disco conta com instrumentais feitas para os filmes “Sansão”, “Modorra” e “Cacos de Vitral”, e outras cinco em que Rafa mostra o seu lado cantor.
“O ‘Fronteiras’ diz muito das minhas raízes mineiras. É a reunião de várias coisas que me instigam a criar, e o conceito do álbum é a reflexão sobre uma coisa que o homem estipula, que são as fronteiras. Podem ser sobre países, estados, que são coisas criadas por nós, que não existem”, diz Rafa Castro.
“Fiz essa analogia para reunir coisas que são muito bonitas para mim, mas que são vistas como distintas para outros. Sou apaixonado por música erudita, instrumental, pela música mineira; então, por que não juntar tudo isso?”, acrescenta.
Um álbum ‘cinematográfico’
Sobre o trabalho para encaixar essas três facetas, Rafa Castro diz que pensou o álbum com a mesma estrutura de um filme. “Procuro contar uma história com início, meio e fim, algo que muitas pessoas perceberam ao ouvir o disco sem que eu comentasse sobre essa ideia. E meu estilo de composição é baseado na minha voz. Componho sempre cantarolando, mesmo as instrumentais acabam ligadas às canções”, acredita. “Esse álbum é muito importante na minha carreira, pois acho que consegui de fato me expressar como artista, como recebo minhas influências e as transformo em música. Todo artista busca sua linguagem e que as pessoas identifiquem o seu som quando o ouvem, e acredito que consegui expressar minha verdade.”
Rumo ao Oriente
Rafa Castro tem mais motivos para comemorar em relação a “Fronteiras”, e um deles é o lançamento do álbum no Japão por meio de uma distribuidora do país asiático. “Descobri que tenho muitos fãs no Japão, e por isso uma grande distribuidora japonesa realizará a circulação de minha música por todo o país. Ainda é uma loucura para mim, mas bom saber que minha arte é universal e consigo tocar o coração das pessoas e derrubar as barreiras de diferentes culturas. A arte tem esse poder, né?”, comemora. “Queriam até fazer uma edição especial a ser lançada por lá, mas demoraria para readequar o projeto, e preferimos distribuir o trabalho original.”
Com a descoberta dos fãs lá do Oriente, Rafa Castro já está com negociações adiantadas para se apresentar no Japão em 2018. A data ainda não está definida, pois ele espera que seu disco chegue até alguns produtores de festivais para viabilizar de uma forma mais rápida a turnê japonesa. Até lá, o músico já se mobiliza para a turnê pelo Brasil e Europa, continente em que já se apresentou anteriormente, incluindo países como Itália, Portugal, França, Alemanha e Noruega. “Devemos começar em novembro com a minha banda (Igor Pimenta, contrabaixo; Gabriel Alterio, bateria; e Vinicius Gomes, guitarra e violão) e estender por todo o ano de 2018. Gostaria muito de levar esse trabalho para Juiz de Fora, que é um cidade muito importante na minha vida e que tanto influenciou minha maneira de ver a vida e construir minha música. Espero que isso seja viável em breve.”
Participações e homenagens
Além do seu novo trabalho solo, Rafa Castro também faz participações especiais em discos de outros artistas, incluindo aí homenagens aos amigos ausentes. “Acabamos de lançar um disco que foi feito em homenagem a um grande compositor e amigo que faleceu de câncer no ano passado, o Danilo Shcultz. Ele tinha 35 anos e era um grande músico, mas não teve a oportunidade de registrar em vida suas composições. Fizemos um trabalho de imersão na sua obra e gravamos o disco ‘O futuro já existe’. Toquei piano, acordeom e cantei uma das canções no disco. Foi para esse grande amigo que compus ‘O barqueiro da noite’ (uma das canções de ‘Fronteiras’), dizendo da sua entrega nos últimos dias de vida, e na qual tive a honra de ter a Mônica Salmaso interpretando comigo”, conta. “Gravei também os pianos e acordeons do disco de um grande parceiro chamado Thomaz Panza (parceiro de Rafa em duas músicas do seu novo álbum) no disco ‘O curva’. E recentemente gravei os pianos do disco do César Lacerda, ‘Tudo tudo tudo tudo’.”