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DJ Mazzei dribla a surdez e promove sua primeira música

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Com a ajuda da família, DJ Mazzei passou a contar com uma mesa profissional de DJ para criar suas mixagens e músicas (Foto: Leonardo Costa)

Vamos ser sinceros: essa história de que para realizar um sonho basta acreditar, se dedicar, não desistir, correr atrás, não se abater pelos obstáculos e dificuldades, não funciona o tempo todo. Já cantava o Pato Fu há mais de 20 anos: “Quem crê diz que tudo consegue / E em tudo aquilo que cri / Eu cri até que desisti / Desisti porque não consegui”. Pois é, nem todo mundo vai realizar o sonho de ser astronauta, jogador de futebol, jornalista, atriz, cientista, astrônomo, pai/mãe. Porém, é muito bom ver quando isso acontece.

É o caso de Eduardo Mazzei, jovem que estuda sistemas da informação na Faculdade Granbery. Mas não é este o principal sonho do rapaz. Deficiente auditivo desde o nascimento, com surdez profunda no ouvido direito e severa no esquerdo, já no início da adolescência ele sonhava ser DJ. E ele conseguiu. Além de apresentar seus sets em festas particulares, ele já tem na internet o seu primeiro trabalho: a música “I love you”, lançada em dezembro de 2017 em parceria com o cantor Edie Alves, que pode ser conferida tanto em seu canal no YouTube quanto no Spotify.

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“A história de Mazzei me inspirou na letra da nossa música ‘I love you’, que diz: ‘Quanta coisa eu e você passamos pra chegar aqui. Cruzei um deserto pra dizer I love you’. De cara eles, adoraram, e aí produzimos à distância: eu no meu estudio no Rio de Janeiro, e ele em Juiz de Fora. O resultado ficou tão incrível que ele decidiu rodar o clipe. E assim ele vai vencendo todos os obtsáculos. Ele faz das dificuldades trampolim para conquistar seus sonhos. E isso é inspirador”, comenta Edie Alves.

Mas Mazzei quer mais. O plano, agora, é ter sua música tocada nas rádios de Norte a Sul, e por conta disso ele e seu pai, Alexandre Mazzei, lançam em setembro nas redes sociais as campanhas #TocaMazzei e #TocaILoveYou, a fim de mobilizar a galera a ligar para as emissoras e pedir a canção do jovem DJ juiz-forano. Além da campanha, pai e filho esperam concluir o mais breve possível o videoclipe oficial da canção, para o qual faltam apenas duas cenas a serem gravadas – uma delas com a presença de cerca de 50 figurantes.

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Paixão precoce pela música

A música tem histórias de artistas com deficiências visuais ou auditivas que conseguiram mostrar sua arte para o mundo, e o caso do DJ Mazzei é prova de que é necessário, às vezes, ter muita perseverança, apoio da família, amigos e gente do meio com disposição sincera de dar aquela força. Alexandre lembra que, já na infância, Eduardo gostava de ficar colado às caixas de som para sentir as vibrações das músicas, algo que ele relembrou ao digitalizar antigas fitas VHS. Por isso, não chegou a ser surpreendente quando Dudu, há cerca de dez anos, decidiu que queria ser DJ ao ganhar um DVD com uma apresentação ao vivo do mega star Fatboy Slim. “O DVD tinha legendas em português, o que ajudou a entender o que rolava, e com toda a vibração da galera no vídeo ele decidiu que queria ter a mesma sensação”, relembra Alexandre.

DJ Mazzei: “Sempre quis mostrar que um surdo pode tocar e consegui “(Foto: Leonardo Costa)

Decisão tomada, o caminho foi longo e difícil, mas foi questão de persistir e contar com a providencial ajuda. “Nós passamos por uma loja e vi uma mesa de DJ portátil, e pedi para comprarem. Foi nela que fiz minhas primeiras batidas, sentindo a música pelo alto-falante”, conta o DJ, que desenvolveu a capacidade de leitura labial e consegue se comunicar oralmente. Esta é, aliás, uma das formas que ele pode sentir a música, por meio das vibrações sonoras nas caixas de som, além do que ele consegue captar graças ao aparelho auditivo que utiliza (mesmo assim com a música em volume muito alto) ou de forma visual, por meio de gráficos.

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Com ajuda dos DJs

Se a família foi a responsável pelos primeiros passos de Mazzei na música, depois foi a vez de alguns dos DJs que ele tanto admira, pois ele também curte ir até as boates para dançar, sentir as batidas e ver toda a agitação do povo. “E também tem muita menina bonita (risos)”, afirma. “Tudo isso ajudou a desenvolver suas habilidades de comunicação, aumentar a autoestima e também aprender que as pessoas oferecem muito, mas na maioria das vezes só dão migalhas”, revela Alexandre a respeito de artistas que fizeram muitas promessas mas sem cumpri-las.

Mas nem sempre é assim. Gustavo Bravetti, que conheceu na primeira rave em que foi, é um dos que deram força ao então jovem aprendiz de DJ, que também aproveita o YouTube para aprender as técnicas do mestre. Tudo nas vibrações e no visual. Nesse momento, aliás, já havia aposentado a mesa portátil e usava o notebook e uma mesa com mais recursos para fazer suas mixagens – um avanço e tanto, pois então já contava com gráficos para visualizar suas criações.

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Outros que foram fundamentais na jornada são os DJs Alok e Moa, que doaram equipamentos para Dudu. Alok, inclusive, pagou todos os custos do curso de DJ que ele fez na sede de Campinas (SP) da Academia Internacional de Música Eletrônica (Aimec). Foram 15 dias na cidade paulista em julho de 2015, quando Eduardo, acompanhado da mãe Joyce, teve não só o curso pago pelo DJ, mas também os custos com avião, hotel etc.

Com mais segurança no ofício, DJ Mazzei queria não só ficar nas mixagens, mas também fazer música. Depois de alguns “nãos”, ele recebeu o sinal positivo de Edie Silva, que topou escrever uma letra e cantá-la. Foi assim que surgiu “I love you”, baseada na experiência de vida de Eduardo. “Procuramos alguns compositores, mas foi o Edie quem topou. Três dias depois de falarmos com ele já chegou com a letra”, conta Alexandre. Perfeccionista como poucos, foram dez versões da música até o DJ Mazzei encontrou a batida que considerava perfeita.

Agora, além da música, Mazzei espera ter em breve o videoclipe oficial de “I love you”, que contará com espaço no canto inferior da tela para a interpretação em Libras. “O deficiente auditivo também precisa do visual, o movimento, para saber se a música é agitada ou não. E o recurso de Libras ajudaria muito, mas os artistas não fazem o videoclipe pensando nisso. Espero poder servir de exemplo. Sempre pergunto a outros surdos como eles ouvem e assistem música, e eles destacam o visual, a movimentação e as letras”, diz Eduardo, fã de artistas como Legião Urbana, Lionel Ritchie, Marvin Gaye, Rod Stewart e Queen. “Ele adora toda aquela interpretação dramática do Freddie Mercury”, destaca o pai.

Mostrando o talento

A vida de Eduardo Mazzei não foi fácil desde a barriga da mãe, Joyce, que contraiu rubéola quando ainda sequer sabia que estava grávida – para piorar, no início tratou a doença como se fosse uma alergia. Um médico chegou a sugerir um aborto, mas o casal decidiu seguir em frente. Dentre as sequelas, além da surdez, teve que enfrentar sérios problemas cardíacos no primeiro ano de vida, entre outros. Encontrar escola foi outra dificuldade nos anos vindouros, por conta da falta de vontade e interesse das instituições em se adequarem às suas necessidades, o que foi conseguido apenas com o Granbery. A incompreensão dos colegas de sala era outro drama particular.

Equipamento de DJ Mazzei vai com ele para as festas (Foto: Leonardo Costa)

Foi no mundo da música, diz Alexandre, que o filho encontrou muita ajuda para seguir em frente, incluindo aí a força dos artistas que conheceu. Vendo o seu amor pela arte, a família foi juntando economias para que ele ganhasse no seu mais recente aniversário, em abril, uma mesa de DJ profissional – que já vem com uma tela acoplada para que acompanhe e aprimore seu trabalho também com o visual dos gráficos. Foi graças a esse trabalho e apoio contínuos que o DJ Mazzei foi convidado a tocar seus sets em pequenas festas particulares e, mais recentemente, ser o DJ em uma festa da turma de medicina da faculdade Suprema, que aconteceu em agosto. Com 500 pessoas, foi o maior público que já encarou.

“Recebi o convite uma três semanas antes da festa. Passei uma semana preparando o set, mostrando para o meu pai e meu irmão, mas não fiquei nervoso em nenhum momento. Na hora mesmo estava focado, achei muito legal ver a galera dançando. Fiquei muito feliz. Sempre quis mostrar que um surdo pode tocar, e consegui “, comemora o DJ.

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