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História de amor entre faxineira muda e criatura anfíbia concorre a 13 Oscars

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Sally Hawkins foi indicada ao Oscar de melhor atriz ao interpretar personagem muda que se apaixona por criatura fantástica (Doug Jones)

O mundo de Guillermo del Toro sempre foi marcado por monstros, histórias fantásticas, sobrenaturais, ocultismo, terror. Foi graças a esses interesses incomuns, consumidos durante a infância no ultracatólico México, que o cineasta produziu obras com assinaturas únicas, passando pelo terror (“A espinha do Diabo”, “A colina escarlate”), fantasia (“O labirinto do fauno”, suas duas versões para o personagem de quadrinhos Hellboy) e que entregam a influência das séries japonesas de kaijus (um subgênero do tokusatsu), caso de “Círculo de Fogo”. Agora, o cineasta nascido em Guadalajara volta ao mundo da fantasia em “A forma da água”, que estreia no Brasil nesta quinta-feira. Em Juiz de Fora, depois de ser anunciada pela rede UCI, a produção foi tirada da agenda nesta quarta (31).

A produção da Fox Searchlight é a que recebeu o maior número de indicações para o Oscar deste ano, num total de 13 categorias – entre elas melhor filme, diretor, roteiro original (para del Toro e Vanessa Taylor), atriz (Sally Hawkins), fotografia, atriz coadjuvante (Octavia Spencer) e ator coadjuvante (Richard Jenkins). A princípio, o longa desponta como favorito por ter vencido o prêmio do Sindicato dos Produtores de Hollywood, principal termômetro quando o assunto é melhor filme, mas ao mesmo tempo sofre a concorrência de “Três anúncios para um crime” e uma acusação de plágio: segundo o escritor norte-americano David Zindel, “A forma da água” teria copiado boa parte da trama de “Let me hear you”, peça escrita em 1969 por seu pai, o dramaturgo Paul Zindel.

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Guillermo del Toro negou a acusação e afirmou por meio da Fox Searchlight que sempre foi muito transparente quanto às influências presentes na sua filmografia. No caso de “A forma da água”, por exemplo, ele já confirmou a influência de “O Monstro da Lagoa Negra”, clássico filme B de 1954 – tanto que num momento da história é comentado que a criatura do seu longa foi capturada na Floresta Amazônica, assim como o monstro de seis décadas atrás.

Doug Jones volta a trabalhar com Guillermo del Toro; ele interpreta criatura inspirada em ‘O Monstro da Lagoa Negra’.

A história de “A forma da água” é situada no início da década de 1960, durante a Guerra Fria. A personagem principal é Elisa Esposito (Sally Hawkins), uma faxineira muda que trabalha em uma laboratório secreto do governo americano, localizado em Baltimore. Seus únicos amigos são um vizinho, o desenhista desempregado Giles (Richard Jenkins), e a companheira de trabalho Zelda (Octavia Spencer). A vida solitária da moça dá uma reviravolta quando o laboratório recebe uma criatura anfíbia (papel de Doug Jones, o alienígena Saru de “Star Trek: Discovery” e que trabalhou com del Toro em “O labirinto do fauno” e “Hellboy”). Os dois logo iniciam uma relação que vai além da amizade, e Elisa decide libertar a criatura de seu cativeiro ao descobrir os planos do coronel Richard Strickland (Michael Shannon), ao mesmo tempo em que os soviéticos demonstram interesse em roubar o suposto monstro de seus rivais.

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Dramas reais em meio à fantasia

Em pouco mais de duas horas de filme, Guillermo del Toro aproveita para fazer de “A forma da água” uma produção que lida com temas dos mais diversos, mas sem perder o foco e conquistando o espectador. Estão ali o sentimentos de solidão, representados tanto por Elisa e a criatura quanto por Giles, um homossexual enrustido em uma América conservadora, e Zelda, cujo marido raramente lhe dirige a palavra, e também o de exclusão (a faxineira muda que se comunica apenas com a colega de trabalho, o vizinho e, depois, a criatura anfíbia).

Marcam presença, ainda, o erotismo e o desejo latentes de Elisa, mostrados logo no início do filme e que se tornam ainda mais fortes com a chegada do ser híbrido, numa relação que o cineasta não tem medo de mostrar; o machismo, o racismo, o assédio sexual e a homofobia tão presentes nos Estados Unidos do pós-guerra; a crueldade, a arrogância e a ignorância daqueles que detém o poder, mostrados por meio do personagem de Michael Shannon; e o amor, claro, mesmo que este seja entre duas criaturas tão diferentes entre si.

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E não se pode ignorar o esmero de Guillermo del Toro em todos os detalhes da produção, que vão da fidelidade à reprodução da América dos anos 60 em sua arquitetura, moda, veículos, influências culturais (há espaço até para Carmen Miranda na TV), à fotografia marcante de Dan Laustsen, e cenários que remetem aos filmes B da época, mas com o orçamento que entrega o melhor que Hollywood pode oferecer. Do universo fantástico que aprendeu a amar, o diretor mexicano consegue fazer de “A forma da água” uma história que lida com temas que são muito mais que uma fábula de amor em tempos modernos.

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