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Retrospectiva e perspectiva na cena cultural de Juiz de Fora

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1968 foi o ano que não terminou, e seus 50 anos ressoaram em 2018, ano que, por sua vez, parece sequer ter começado. A um passo de 2019, a balança da cultura parece ter pendido mais para o vermelho do que para o azul. Em Juiz de Fora, cortes orçamentários prejudicaram substancialmente as iniciativas públicas, principais propulsoras da cena nas últimas décadas. Tanto verbas de incentivo quanto eventos fixos saíram prejudicados. Em contrapartida, artistas independentes se fortaleceram e desenharam outros rumos para a cultura local. Novas casas, novos grupos e novas práticas insurgiram em defesa da arte e em nome da resistência ao açoite do setor. Refletindo o cenário nacional, a cidade também presenciou a crise do mercado editorial, com o enfraquecimento das grandes companhias e redes de livrarias. Mas não perderam o vigor as originais iniciativas, como as dos pequenos editores. A crise, que de tão falada parece íntima, apresentou-se como desafio que o próximo ano parece inspirar. Se numa retrospectiva 2018 é retrato dolorido, numa perspectiva, 2019 é imagem sem foco. O que esperar quando não está esperando? A Tribuna revisa expectativas que ainda estão em tempo de serem realizadas nos próximos 365 dias.

Incentivo à cultura

Nem 2017, nem 2018. Aguardada ao longo do ano, a Lei Murilo Mendes foi, ainda em 2017, anunciada para março deste ano e, mais tarde, projetada para dezembro. Com o decreto assinado em maio pelo Prefeito Antônio Almas, o mecanismo de incentivo cultural já teve seu valor total demarcado em R$ 850 mil e alterações explanadas, como a possibilidade de inscrição virtual e a ampliação do teto dos projetos em R$ 35 mil (anteriormente era R$ 28). Gerando grande impacto na cena cultural local, o hiato ainda deve ressoar pelos próximos meses, já que após o edital ser publicado levarão alguns meses até que os produtos comecem a ser produzidos. Suspenso desde 2016, os patrocínios culturais também não retornaram em 2018, e não há previsão de que voltem no próximo ano, ainda que também se mostre fundamental para a arte local e nacional.

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Cine-Theatro Central (Foto: Fernando Priamo)

Espaços culturais

Já lendário, o antigo prédio onde funcionava o DCE, na esquina da Rua Floriano Peixoto com a Avenida Getúlio Vargas, teve sua obra de revitalização concluída ainda em 2017 e, ironicamente, assiste o surgimento de pequenas avarias em sua fachada sem ter se aberto ao público como o espaço cultural prometido pela UFJF. De acordo com a pró-reitora de Cultura da universidade Valéria Faria, o lugar já sedia o Centro de Conservação da Memória/CECOM e o Museu Dinâmico, mas aguarda a conclusão dos estudos para uma nova expografia, o que pode ser feito em 2019. Fechado para reformas nos últimos 12 meses, com esparsas e pontuais aberturas, o Centro Cultural Pró-Música ainda aguarda a revitalização de seu corredor de entrada e demais espaços. Segundo Valéria, a prioridade está em atender as exigências do Corpo de Bombeiros, como também ocorre com o Cine-Theatro Central, cujos segundo e terceiro andares passaram os últimos 365 dias fechados ao público. A previsão da universidade, proprietária do local, é que a maior casa de espetáculos da cidade passe por reformas de adaptação já em janeiro e fevereiro, reabrindo integralmente para as comemorações de seus 90 anos em março. Já o Centro Cultural Bernardo Mascarenhas, na Avenida Getúlio Vargas, propriedade municipal, também aguarda, há mais de dois anos, que seus pavimentos superiores sejam liberados da restrição de uso sugerida pelo Corpo de Bombeiros. Em 2018, o espaço cultural teve seu primeiro andar liberado, o que deve ser garantido em 2019, mas a Prefeitura não possui a previsão de que o mesmo ocorra no segundo e terceiro andares, onde estão a cinemateca e a agigantada galeria Arlindo Daibert. Há alguns anos subutilizada, a Casa de Cultura da UFJF, no número 3.396 da Avenida Rio Branco, diante da Santa Casa de Misericórdia, espera, conforme aponta a pró-reitora de Cultura, ser aberta como sede da Escola de Artes Pró-Música/UFJF.

CCBN (Foto: Fernando Priamo)

Eventos

Tradicionais na cidade, os festivais de fotografia (JFFoto) e de teatro foram alguns do eventos que não viram 2018 passar. Em compensação, tanto as exposições fotográficas quanto as encenações de artes cênicas foram substituídas por iniciativas independentes, o JF Fotográfico e o Ato de Rebeldia, respectivamente. Ainda não confirmados, tais eventos são aguardados, tanto os produzidos pela Prefeitura, quanto os feitos por coletivos e grupos de artistas. Interrompido após casos de violência, o Som Aberto, que tomou o campus da universidade ao longo de 2017 e não apareceu em 2018, ainda não tem previsão de ser retomado. Segundo a pró-reitora de cultura Valéria Faria, o evento foi encerrado por questões de segurança e pode não retornar na agenda do juiz-forano.

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Teatro Paschoal Carlos Magno (Foto: Marcelo Ribeiro)

Linguagens artísticas

Inaugurado em março deste ano, um dos maiores presentes para a cultura de Juiz de Fora em 2018, o Teatro Paschoal Carlos Magno chega a 2019 somando algumas indefinições, como a presença de uma administração direta e de um café no local, além de uma agenda fixa. Demanda da classe, a presença de um equipado palco italiano deve gerar prometidas novas experiências artísticas na cidade, o que ainda não se deu em 2018, ainda que ocupações distintas do complexo já tenham sido feitas, com sucesso. Com mais salas de cinema do que no início dessa década, a cidade também não alcançou a diversidade em sua oferta cinematográfica. Baseada em blockbusters, a agenda na cidade é comum aos diferentes espaços, distinguindo-se, apenas, pelos horários. Voltada para o público cinéfilo, a Sessão Vitrine Petrobras, com exibição no Cinemais do Alameda Shopping, foi a responsável por trazer à cidade produções nacionais prestigiadas, como o recente “Tinta bruta”. Em 2019, o programa leva às telonas, já em janeiro, o elogiado “Temporada”, filme que segundo a revista norte-americana Variety “mostra um Brasil além dos estereótipos”.

Museu Mariano Procópio (Foto: Olavo Prazeres)

Museus

A imagem do Museu Nacional no Rio de Janeiro, em chamas, que chocou 2018 e voltou os olhos do mundo para os muitos museus que se espalham pelo globo também fez voltarem as atenções dos juiz-foranos para o Museu Mariano Procópio, que neste ano não teve nenhuma nova área aberta, mas variou a exposição das peças na Galeria Maria Amália, dando dinamismo ao local que também recebeu, em novembro, uma apresentação da Orquestra Acadêmica da UFJF ao lado das esculturas e objetos históricos. Anunciada pelo Prefeito Antônio Almas em novembro, a reforma administrativa que poderá fundir o museu à Funalfa deve ser colocada em votação na Câmara Municipal logo nos próximos meses. A fusão, no entanto, ainda não está confirmada. E após o pedido de demissão de Antônio Carlos Duarte, superintendente da Fundação Museu Mariano Procópio, e sua desistência da decisão num prazo de duas semanas pode sinalizar a alteração de perspectiva para a principal museu da cidade, com um dos mais importantes acervos sobre o Brasil Império no país.

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Bloco do Pintinho de Ouro, no carnaval juiz-forano (Foto: Marcelo Ribeiro)

Festas

O carnaval é certo, a comemoração, nem tanto. O cancelamento dos desfiles de escolas de samba em 2018 pode se repetir em 2019. Segundo a Liga Independente das Escolas de Samba de Juiz de Fora, não há saídas. A Funalfa, no entanto, ainda não se pronunciou sobre o assunto, mas confirmou a realização do Corredor da Folia, que inclui blocos, festas e shows na cidade. Proposto em 2018, o edital de incentivo à requalificação das escolas de samba ainda não saiu do papel. Anunciado, em fevereiro passado pelo então superintendente da Funalfa Rômulo Veiga, substituído por Zezinho Mancini em maio, o documento previa a distribuição de R$ 150 mil para que as agremiações retomassem suas potências sociais e culturais na cidade. Na ocasião, o gestor afirmou que o modelo para o edital seria debatido com os presidentes das escolas de samba.

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