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Anthony Hopkins brilha no excepcional e doloroso “Meu pai”

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Personagem de Anthony Hopkins tem a filha (Olivia Colman) como apoio no doloroso ocaso de sua vida (Foto: Divulgação)

Usamos, muitas vezes, a palavra “demência” como sinônimo de doença, sendo que ela, na verdade, agrupa uma série de sintomas de distúrbios que afetam funções do cérebro. Independentemente da forma correta ou não de sua utilização, porém, ela indica uma das piores coisas que podem acontecer ao ser humano: perder progressivamente os traços que nos definem como indivíduos e nossa personalidade, colocando a pessoa num curso irreversível de “desaparecimento”.

É este o drama que acompanhamos no doloroso e magistral “Meu pai”, que está disponível sob demanda nas plataformas Google Play, Belas Artes à La Carte, Now, iTunes, Looke e YouTube. O longa foi premiado em duas categorias do Oscar: roteiro adaptado e ator, dando a segunda estatueta na categoria para Anthony Hopkins, que aos 83 anos se tornou o mais velho ator a receber o prêmio.

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O longa é adaptação da peça do francês Florian Zeller, que escreveu o roteiro ao lado Christopher Hampton e também assumiu a direção. Na história, Anthony Hopkins interpreta um engenheiro que vive sozinho em seu apartamento, em Londres, já apresentando os primeiros sinais de demência. Apesar disso, ele consegue fazer com que todas as cuidadoras escolhidas pela filha Anne (Olivia Colman) desistam do emprego.

O espectador passa, então, a acompanhar a história a partir das percepções de Anthony, e é praticamente impossível saber o que é realidade, delírio ou lembranças do passado mescladas ao presente ou à mente fragilizada do protagonista. Florian Zeller faz a escolha certeira de mostrar praticamente toda a história sob o ponto de vista de seu protagonista, que vai se perdendo cada vez mais nas armadilhas de sua memória, sem saber se aquele apartamento é o seu, de sua filha, até quem são as pessoas com quem está falando.

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Geralmente, produções do tipo contam a história a partir do ponto de vista das pessoas que estão ao redor, e “Meu pai” coloca o público ao lado do protagonista e com toda a provação pela qual ele passa, de saber que algo está errado mas não compreender exatamente o quê _ inclusive, contrariando a crença difundida de que a pessoa que sofre de demência se descola totalmente da realidade e não tem ideia do que se passa ao redor.

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Anthony Hopkins perfeito

“Meu pai” já seria um filme interessante graças ao seu roteiro e direção, sem esquecer da direção de arte e da edição que levam o público ao mesmo labirinto de seu protagonista. Olivia Colman está excepcional como Anne, em seu sofrimento contido, assim como o restante do elenco (Rufus Sewell, Imogen Poots, Mark Gatiss) em suas participações.

Porém, o longa não teria o mesmo impacto se o protagonista fosse outro que não Anthony Hopkins. O ator tem uma de suas melhores atuações na carreira _ se não for a melhor _ ao interpretar um personagem que tem momentos de confusão, dor, desconfiança, crueldade, teimosia, fúria, constrangimento, negação e, principalmente, fragilidade.

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É uma fragilidade dolorosa de se ver em tela, de uma pessoa que está não apenas no crepúsculo de sua vida, mas que tem sua personalidade e memórias progressivamente apagadas. A cena final, inclusive, é de fazer o público chorar com o coração e reavaliar a relação com entes queridos que possam sofrer do mesmo mal. É uma experiência cinematográfica dolorosa, porém magnífica em sua execução e capacidade de provocar empatia _ por isso mesmo, essencial para quem ama cinema.

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