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Documentário sobre o cantor Andre Matos tem exibição neste sábado em JF

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Andre Matos foi um dos maiores expoentes do heavy metal brasileiro (Foto: Divulgação)

Se o metal produzido no Brasil tornou-se referência mundial, muito disso se deve ao cantor e compositor Andre Matos. Nascido em São Paulo, o artista fez parte – entre outros projetos – de três das maiores bandas do gênero no Brasil: Viper, Angra e Shaman. Sua morte, em 2019, aos 47 anos, foi inesperada e deixou muitos fãs com o sentimento de perda irreparável.
Porém, parte dessa saudade pode ser remediada graças ao documentário “Andre Matos – Maestro do rock”, dirigido por Anderson Bellini e que estreou em 14 de setembro (quando Andre completaria 50 anos) no Theatro Municipal de São para uma plateia de 350 fãs, que esgotaram os ingressos, em quantidade reduzida devido à pandemia, que impedia o espaço de receber sua capacidade total.
Desde então, Anderson tem rodado o país realizando exibições pontuais em diversas cidades, como Niterói (RJ), Curitiba, Piedade (SP) e novamente São Paulo, em que vai pessoalmente para fazer uma apresentação do filme antes de sua exibição e, depois, conversar com o público sobre o documentário. Além disso, já conseguiu emplacar o longa no circuito comercial em diversas salas em território nacional.
Outras cidades já estão no roteiro de Anderson, como Santa Bárbara D’Ooeste e Bragança Paulista (SP), Rio de Janeiro, Recife (PE), Rio Verde (GO), Vitória (ES), Brasília, Palmas (TO) e Belém (PA). A próxima parada será Juiz de Fora, onde “Andre Matos – Maestro do rock” será exibido neste sábado, às 17h30 e 20h, na sala 4 do Cinemais Jardim Norte, com a presença do diretor.
O diretor conversou com a Tribuna na manhã desta sexta-feira (29), diretamente de Niterói, antes de embarcar para Juiz de Fora. Em pouco mais de uma hora de conversa, ele falou sobre a responsabilidade de produzir o documentário sobre um artista querido por tantos fãs, o apoio desses fãs para realização do longa por meio do crowdfunding (que segua na ativa pelo link vaka.me/1498538) e também o aval da família, que cedeu dezenas de fitas e fotos da privacidade em família de Andre Matos para que fosse possível mostrar o perfil mais abrangente do cantor – tão abrangente que Anderson Bellini vai lançar, até setembro de 2022, nada menos que quatro filmes para contar a história mais completa e fiel possível sobre um dos ícones do metal brasileiro das últimas quatro décadas.

Tribuna – Os fãs de metal são muito exigentes não apenas em relação à própria obra do artista, mas também quando ele é personagem de reportagem, documentário, cinebiografia etc. Como tem sido a reação dos fãs, seja nas salas de exibição, fora dos cinemas ou pela internet?
Anderson Bellini – Você está totalmente certo nessa questão. Os fãs de metal são muito exigentes, eles criam expectativas muito grandes em um disco, filme, DVD, show. Foi um desafio que tive quando comecei o projeto, de entregar uma produção com a qualidade que todos os fãs esperam e exigiriam, ainda mais que seria o primeiro documentário sobre o Andre Matos. E tinha a própria exigência que viria do Andre, que era uma pessoa muito detalhista. E ainda fizemos a primeira exibição no Theatro Municipal de São Paulo, o que foi uma grande responsabilidade, pois é meu primeiro filme e sou um diretor desconhecido. Mas a primeira reação que tive dos 350 fãs que estavam lá foi deles aplaudirem de pé. Essa é a maior resposta que poderíamos ter. Estamos no começo dessa turnê de divulgação do documentário, indo aonde o povo está e tendo esse contato com os fãs, e o que vemos é muita gente emocionada, chorando, e isso em todas as cidades por onde passei, com as pessoas me abordando para comentar o fato de termos abordado a vida do Andre da forma mais pura e verdadeira possível. Isso tem sido gratificante, é um retorno que jamais teria se apenas estivesse exibindo o filme sem estar presente.

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Já existia a ideia de se fazer o documentário quando entrevistou o Andre?
Eu tive a ideia, em 2018, de fazer um documentário voltado para a área da música, que é o que curto mais, pois fui músico e estudei música. E queria fazer sobre uma banda que conhecesse muito. Como eu era fã do Angra a ponto de viajar pelo país para assistir a shows deles, de conhecer muitas histórias, ter lido várias entrevistas, queria fazer algo não apenas com as histórias que todos conheciam, mas com riqueza de detalhes. Porém, quando começamos a filmar e já tínhamos entrevistado entre dez e quinze pessoas, começamos a ter dificuldades com a burocracia, membros que não queriam participar – até mesmo o Andre não estava muito disposto. Então o Patrick, cinegrafista que filmou boa parte da vida do Andre, sugeriu fazer um documentário apenas sobre a vida dele. Disse que tinha muito material, mas que não conseguiria editar, e me ofereceu essas gravações e sugeriu falar com o Andre. Tentei contatar a assessora dele na época, pois estava difícil entrar em contato diretamente com ele em seus dois últimos anos de vida. Não tive resposta dela, e semanas depois ele faleceu, então não consegui conversar sobre o documentário, e nem sei se ele ficou sabendo de alguma forma. Esperamos de dois a três meses depois da morte para saber o que fazer, pois fiquei muito abalado com a notícia, e aí entrei em contato a família dele, que me autorizou a continuar com o projeto. Eles me cederam fitas, fotos. Por isso, surgiu na época essa confusão, pois o documentário só foi anunciado depois do falecimento do Andre, mas a mudança da produção sobre o foco do documentário já havia sido decidida. Inclusive, o Andre já havia revelado na entrevista que fizemos que tinha o desejo de produzir um documentário sobre sua trajetória, e comentei que poderíamos trabalhar nele depois que terminasse o filme sobre o Angra.

Você já tinha decidido sugerir ao Andre Matos que o documentário passasse a ser sobre sua vida e carreira. O quanto a morte do Andre influenciou os rumos do projeto que já tomaria? E por que fazer quatro documentários ao invés de um?
Como disse, a gente já tinha entrevistado várias pessoas antes de mudar o foco do documentário, e por sorte o Andre era a figura principal do Angra, então era impossível as pessoas não falarem da importância dele para o grupo; deu para aproveitar muito material dali por causa disso, perdemos basicamente nada. E como queríamos fazer um filme muito detalhista, não dava para desperdiçar o material, temos mais de cem pessoas entrevistadas, entre músicos que tocaram com ele, produtores, empresários, jornalistas, membros de bandas influenciadas por ele ou que viajaram com suas bandas em turnês com os grupos dos quais ele fez parte. Quando começamos a montar o filme em ordem cronológica, vimos que ele começou a ficar muito grande, eram quase dez horas e só havíamos chegado a 2006, seria impossível reduzir para 90 ou 120 minutos. Pensamos em como resolver, inicialmente trabalhamos com a ideia de fazer uma série, mas o primo dele, o Eco Moliterno, disse que seria inviável comercialmente. Decidimos então fazer quatro filmes, pois acreditamos que seria comercialmente vantajoso “vender” um de cada vez, o que não deixa de ser um desafio. A gente brinca que seria “O senhor dos anéis” do Andre Matos, só que dividido em quatro episódios.

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Planeja condensar futuramente os quatro filmes em apenas um, ou desmembrá-los para oferecer como uma série documental?
Pensamos em fazer uma versão condensada de 90 minutos, contando o básico, que seria comercialmente bom para as plataformas de streaming. Elas assistiram ao filme e disseram que o que acaba empacando comercialmente é a quantidade de detalhes, pois 90% do público não é fã de metal, e que um condensado de 90 minutos contando mais a vida do Andre, o sucesso, as polêmicas, seria mais viável. A proposta deles foi fazer o condensado primeiro e depois o material completo, mas queremos fazer o inverso, até porque iria contra os fãs que nos ajudaram. Decidimos lançar primeiro os filmes para os fãs, e depois fazer a versão condensada para então despertar o interesse do público em geral. Mas isso só vai acontecer depois da exibição do último filme, em setembro de 2022.

Por mais que o Andre seja um dos maiores nomes do metal no Brasil, documentários sobre artistas nem sempre encontram facilidades para financiamento. No caso do metal, ainda pode existir o preconceito, a crença de ser uma produção voltada para um público bem específico, apesar dos fãs serem fiéis, “vestirem a camisa preta” e consumirem tudo que existe sobre seus artistas favoritos. Foi complicado conseguir financiamento?
Começamos de forma totalmente independente, tirei dinheiro do meu próprio bolso. Mas tive ajuda de alguns amigos no início. O jornalista Thiago Rahal fez o trabalho de pesquisa, apurou várias histórias, e o Renato Viliegas, que tem uma produtora, ajudou com a parte de iluminação, câmera, microfone, foi praticamente tudo de graça. O problema que tivemos foi a pandemia. Estávamos com a agenda lotada de entrevistas para gravar e foi preciso cancelar tudo. Inclusive entrevistas no exterior. À medida que as coisas foram melhorando, conseguimos gravar lá fora, mas como não podíamos sair do país, foi preciso contratar gente de lá. Decidimos então lançar um crowdfinding para financiar essas gravações, e os fãs que vestem a camisa do artista nos apoiaram. Até apareceram empresas e empresários dispostos a ajudar, mas decidimos não atrelar o projeto a eles. Nem editais como o da Lei Rouanet procuramos. Pode ter sido cabeça dura da minha parte, mas só saiu desse jeito porque não tivemos envolvimento externo, nem a família do Andre interferiu.
Costumo dizer que nossos patrocinadores foram os fãs, só fizemos essas entrevistas graças ao crowdfunding, que ajuda com toda a parte burocrática. Sem a ajuda dos fãs o filme não teria saído, e são mais de mil que contribuíram e aparecem nos agradecimentos quando rolam os créditos. É o mínimo que podemos fazer, até porque eles continuam contribuindo para que possamos concluir a pós-produção e os trâmites burocráticos dos filmes que restam.

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E como foi ter o apoio da família no projeto?
Quando o Andre faleceu, a gente decidiu dar uma parada para refletir sobre o que fazer. A princípio não quis seguir, pois havia me tornado amigo dele e fiquei mal coma notícia da morte. Achei que não teria cabeça para seguir, até porque a ideia era fazer o filme com a supervisão. Mas muita gente disse que seria besteira desistir, jogar aquelas cinco horas de entrevista no lixo. Falaram “dá seu tempo, se decidir não fazer repassa para alguém continuar”. Pensei sobre o que fazer durante alguns meses, e caí na real que seria um desperdício. Lembrei que o Andre chegou para mim, antes da gravação, e disse que estava fazendo aquilo por minha causa, pois acompanhava a carreira dele desde a época do Viper. Isso me deixou emocionado, pois percebi que ele havia confiado esse projeto a mim. Mas não poderia fazer sem a aprovação da família. Liguei para o irmão dele, o Daniel, que conhecia por termos estudado na mesma faculdade, e ele pediu para entrar em contato com o Eco, pois tudo era muito recente para a família. O Eco perguntou se tinha algum contrato do Andre liberando imagem, e minutos depois enviei um vídeo gravado em celular em que ele dizia que autorizava verbalmente. Então ele disse: ‘quem sou eu para dizer não?’, e enviou mais de 70 fitas com gravações familiares para digitalizar e vermos o que poderia ser utilizado, depois enviou várias fotos. Só pediu muito cuidado, porque o Andre era muito discreto quanto a expor a família. Eles abraçaram a causa muito rápido, o que me deu força para continuar num momento em que estava fragilizado. Desde então o Eco está sempre envolvido comigo, acompanhando as edições, é um apoio essencial para mim.

O documentário tem o desafio de mostrar não apenas a carreira musical do Andre Matos, mas também o fato de que ele era uma pessoa que buscava ser discreto em sua vida fora dos palcos e estúdios. Como é ter a oportunidade de mostrar aos fãs esse lado menos conhecido do artista?
É algo que os fãs mais buscam no filme. As histórias das bandas, conhecem quase todas. Mas o Andre nunca falava da família dele, e pouco falava da carreira para a família. Fizemos ontem (quinta-feira) uma exibição em Niterói em que estava boa parte da família do pai dele, e eles diziam que o Andre chegava e não ficava contando onde a banda tocou, quantos discos vendeu, se tinha música estourada no Japão ou em trilha sonora de novela, cantava com o Bruce Dickinson (vocalista do Iron Maiden). Eles achavam que ele tocava música em bar (risos). Dizemos que existiam dois Andres: o Matos, que era da banda, e o Coelho, que era da família e se fantasiava de Papai Noel no Natal, que era apenas mais um ali. Esses momentos do Andre na intimidade, com a família, eram os que os fãs mais esperavam. Eles ficaram felizes por poder entrar naquelas reuniões de família, e isso é o mais legal do filme porque ninguém sabia da vida pessoal dele. E isso tem tocado até pessoas que não são fãs mas que foram acompanhar filhos e esposas, que eram os fãs, e ficaram apaixonadas pela história. Para eles, o Andre no palco com o Bruce é só mais uma história no palco, o que veem é um cara que não era o estereótipo do roqueiro, que usa drogas e fica louco, ou o rocskstar rodeado de mulheres. Eles acabam cativados por ele, e isso é legal porque conseguimos satisfazer todos os públicos.

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