Site icon Tribuna de Minas

Diretor fala sobre “O jardim secreto de Mariana”, estrelado por Andréia Horta

PUBLICIDADE

Qual o maior instinto: o amor ou a reprodução? No encontro que une dois mundos distintos, os contrastes dão a forma do novo filme de Sérgio Rezende, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (30). “O jardim secreto de Mariana” transita pelo universo da botânica e traz consigo o questionamento sobre a finalidade de toda forma viva: a reprodução. “Na natureza não há moral, não há bons costumes, as plantas se reproduzem, a vida se reproduz com naturalidade. Com nós, seres humanos, a questão é mais complexa, entram outros instintos que conflituam com esse”, afirma Rezende em entrevista à Tribuna.

A trama se passa em Brumadinho, município do interior de Minas Gerais, e tem, em seus melhores momentos, o cenário de Inhotim. “E em contraste com aquele paraíso está a cidade de Brumadinho, poucos meses depois da tragédia, com toda brutalidade, uma coisa mais seca, mais árida, que também reflete a trama do filme. Eles se encontram nos jardins, mas a vida se passa ali, em Brumadinho.” O filme foi rodado em três semanas, no final de 2019, dez meses depois do rompimento da barragem da mineradora Vale, em janeiro do mesmo ano. “As marcas ainda estavam muito vivas, as obras de recuperação estavam longe de ficarem prontas, então o filme capturou aquele período, caminhões passando o tempo todo, a poeira, aquela coisa turbulenta de Brumadinho.”

PUBLICIDADE

O enredo acompanha o casal de protagonistas Mariana (Andréia Horta) e João (Gustavo Vaz), que se reencontra após cinco anos desenterrando dramas do passado. O desejo de Mariana, botânica especialista em reprodução de flores, de se tornar mãe, conduz a narrativa que se torna conflito no momento em que João descobre ser infértil. Abordando os sonhos e frustrações do casal, o filme lida com um drama real e questionamentos contemporâneos sobre a felicidade e o propósito da vida.

No entanto, conforme Sérgio Rezende, o roteiro não é de hoje, há mais de dez anos ele esperou na gaveta até ser filmado. E a espera foi proveitosa, o toque de delicadeza e feminilidade aos traços da protagonista vieram da poeta, montadora e filha de Sérgio, Maria Rezende. É o primeiro roteiro que pai e filha produzem juntos. “Na reta final, essas questões mais femininas, um olhar feminino para o problema da gravidez, da maternidade, a Maria foi fundamental nesse processo. E depois ela continuou a parceria fazendo a montagem do filme.”

PUBLICIDADE
Filme é protagonizado por Andréia Horta e Gustavo Vaz (Foto: Divulgação)

‘Como um passeio no jardim’

Conforme o diretor, o filme traz uma delicadeza que contrasta com o atual momento cultural e social que o Brasil vive. Diferente de seus grandes sucessos não ficcionais como “O Paciente”, que aborda os últimos dias de Tancredo Neves, ou “Zuzu Angel”, “O jardim secreto de Mariana” traça uma história mais sutil. “Acho que essa brutalidade que invadiu o mundo e o Brasil com a política, com as relações sociais, é de uma tamanha boçalidade, que a gente procurou fazer um filme mais delicado, com outra pegada. Eu quero que as pessoas assistam a esse filme como quem vai visitar um jardim. Que é um lugar calmo, reflexivo, onde você pode pensar, sentir as coisas, refletir, ter uma outra aproximação com a vida. Esse filme traz uma conversa mais no pé do ouvido, uma conversa mais sensível.”

Escolher o elenco também foi um processo quase natural. Andréia Horta, atriz que carrega a sensibilidade do filme, deu vida a Mariana não apenas graças ao talento. “Eu já tinha uma admiração pela Andréia, mineira de Juiz de Fora, mas eu não a conhecia pessoalmente. Depois que eu lancei ‘O Paciente’ e fui ao programa dela na TV Brasil, eu fiquei admirado, não pelo talento, mas pela pessoa dela, a inteligência, o preparo, a cultura. Depois disso não pensei em outra pessoa.” E foi Andréia que lançou o nome de Gustavo Vaz para dar o contraposto masculino ao filme.

PUBLICIDADE

Em entrevista coletiva sobre o filme, Andréia afirma o caráter colaborativo da construção do roteiro, com liberdade para conversar e mudar o que achavam necessário. “Pra mim o que ficou desse convite foi essa leveza, a conexão com a natureza e seus tempos, o tempo das coisas. Foi uma experiência tão leve e tão rica, mesmo falando de amor, que nem sempre é leve, mas é sempre rico. Foi maravilhoso.”

Já o companheiro de cena, Gustavo Vaz, ressaltou o privilégio de trabalhar com Sérgio Rezende e toda a equipe. “Quando assisti ao filme pela primeira vez eu chorei copiosamente. Eu chorei do início ao fim. É uma história muito bonita de encontro, e um encontro entre a gente também. A ansiedade de ver o filme acontecendo é uma ansiedade muito positiva e eu também estou muito curioso para ver a gente grandão na tela do cinema, principalmente depois de todo esse tempo que a gente ficou afastado.”

PUBLICIDADE
Questões sobre a maternidade tiveram o olhar feminino de Maria Rezende, filha do diretor (Foto: Divulgação)

Frutos dos jardins de Brumadinho

“O jardim secreto de Mariana” e a cidade de Brumadinho carregam ainda uma fatídica coincidência: ambos remetem à história de uma das maiores tragédias naturais do país, o rompimento da barragem de Mariana, em 5 de novembro de 2015. Pouco mais de três anos depois, ocorreria um novo desastre, o rompimento da barragem de Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019. O filme não aborda explicitamente a tragédia, mas foi solo fértil para que Sérgio elaborasse um novo roteiro.

“Durante as gravações do filme, enquanto eu estava conversando com as pessoas da cidade, tudo ainda era muito chocante. Foi aí que eu bolei o filme e o escrevi durante a pandemia. Ele vai se chamar ‘O rompimento’ e se passa em Brumadinho na semana posterior ao desastre. E se Deus quiser eu volto a filmar lá ano que vem.”

“O jardim secreto de Mariana” tem produção da Arpoador Audiovisual e da Morena Filmes, e coprodução da Globo Filmes. A distribuição é da H2O Films. O filme ainda não tem previsão de estreia em Juiz de Fora.

 

Exit mobile version