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“Cruella” apresenta a origem da vilã de “101 dálmatas”

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Emma Stone (à frente) interpreta uma das mais famosas vilãs da Disney em “Cruella”, que conta a origem da personagem (Foto: Divulgação)

A Disney descobriu na década de 1990 que poderia faturar um caminhão de dólares com a reciclagem de suas propriedades em remakes em live-action de suas animações clássicas, e há bom tempo temos pelo menos uma produção do tipo por ano. E o filão aumentou ainda mais quando se percebeu que filmes com as origens das vilãs, explicando por que elas são tão más assim, também teriam um público que curte mais as malvadas que as mocinhas. Depois das boas bilheterias com os dois filmes protagonizados por Malévola, a bola da vez foi “Cruella”, que chegou ao Disney+ depois de uma breve temporada nos cinemas e conta como Cruella de Vil se tornou a pessoa que todos amaram odiar em “101 dálmatas” – seja na animação ou no longa live-action de 1996.

O filme de Craig Gillespie (“Eu, Tonya”), porém, está mais para uma história de origem levemente inspirada no original, e por vários motivos. A começar pela trama: Estella (Emma Stone) é uma jovem inglesa que chama atenção, pois nasceu com metade do cabelo preto e a outra metade branca (deixando explícita uma dualidade entre o bem e mal). Desde cedo ela se mostra uma pessoa que não segue as regras e não leva desaforo para casa. Por causa disso, ela e a mãe seguem em direção a Londres em meados dos anos 1960, mas uma tragédia no meio do caminho deixa a menina órfã, e ela terá que sobreviver na capital inglesa graças a pequenos roubos e golpes depois de entrar para a “gangue de dois” de Jasper (Joel Fry) e Horace (Paul Walter Hauser).

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A história adianta o relógio em dez anos, e Estella sonha em realizar o sonho de infância de ser estilista. O máximo que consegue, todavia, é trabalhar como faxineira na principal casa de moda londrina, mas a sua sorte muda quando cai nas graças do maior nome da alta costura, a Baronesa (Emma Thompson) que a contrata. Estella percebe, aos poucos, que a Baronesa não é flor que se cheire e, para dar uma rasteira na patroa, decide adotar o nome de Cruella, o transgressor novo fenômeno da moda que passa a ameaçar o reinado da dona do pedaço. Enquanto as duas promovem uma batalha para saber quem ficará com o trono, Estella faz uma descoberta que transforma sua jornada, que passa então a incluir a vingança no cardápio.

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Um desfile de moda e grandes atuações

“Cruella” tem uma série de qualidades que fazem o filme valer a pena. O primeiro mérito é não se preocupar com em criar uma origem para a personagem que tenha ligação direta com as duas versões de “101 dálmatas”. A produção pega o conceito da personagem para criar algo novo, que conta a história de uma anti-heroína com quem o público pode se identificar. E aí podemos incluir a reflexão – ainda que superficial – de questões como a falta de empatia, a luta entre egos grandes demais para o mesmo ateliê, maternidade, a já citada vingança, a moda como fenômeno cultural, a apropriação da criação alheia sem os devidos créditos e o limite que transforma a pessoa que busca justiça naquilo contra o qual ela luta.

Em segundo lugar, estão as excelentes atuações. Emma Stone consegue fazer de Estella/Cruella duas personagens completamente diferentes, chegando ao limite que, se ultrapassado, transformaria a mocinha numa vilã irrecuperável. Emma Thompson também se diverte como a Baronesa; uma vez que ela precisa ser a vilania em pessoa, mesmo que resvalando na caricatura, a atriz entrega uma figura deliciosamente odiosa. Paul Walter Hauser e Joel Fry também são ótimos coadjuvantes, e é uma pena que Mark Strong e John McCrea tenham pouco tempo de tela, porque brilham quando estão em cena.

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Para complementar, “Cruella” é praticamente perfeita na parte técnica. O design de produção é capaz de recriar a Londres de quase cinco décadas atrás de forma que faz o público sentir que o ex-Sex Pistols Sid Vicious pode aparecer na próxima esquina.

A maquiagem e cabelo são outro espetáculo, mas é nos figurinos que o longa arrasa: são vestidos da melhor alta costura que dividem a tela com o visual andrógino/glam rock imortalizados por David Bowie, ao mesmo tempo que o visual punk também é representado pelas criações de Cruella. Há momentos de verdadeiras intervenções artísticas criadas pela protagonista, como na cena do caminhão de lixo ou no baile da Baronesa.

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Entre tantos predicados, “Cruella” tem três grandes problemas – ou melhor, dois e meio. Um deles é o roteiro, que se perde em alguns momentos ao seguir por caminhos desnecessários, e há situações tão inverossímeis ou esticadas na sua duração que é preciso contar com a cumplicidade do espectador. O problema com o roteiro leva à questão da duração do longa, um problema que tem afligido muitos filmes; com 136 minutos, ele poderia muito bem ter 20 minutos a menos sem que sentíssemos falta. Por fim, a trilha sonora empilha algumas das melhores canções do pop e do rock, mas são tantas atiradas contra nossos ouvidos que mal dá para curtir uma antes de começar os primeiros acordes da próxima.

Os problemas da produção, porém, são poucos quando pensamos que “Cruella” consegue apresentar uma ótima história de origem que não se preocupa com a obra original, tendo ainda como trunfos a ótima escolha de protagonistas e um figurino que já é forte candidato ao Oscar.

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