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Curtas juiz-foranos selecionados para festivais na Europa

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‘Arcádico’ mostra o cotidiano dos moradores de uma comunidade na Serra do Funil, em Rio Preto, e foi selecionado como finalista em competição na Inglaterra (Foto: Divulgação)

O cinema pode aproximar as pessoas através de histórias com as quais se identifiquem ou, por se tratar de realidades tão diferentes, provocar curiosidade. Basta, portanto, ser uma boa história e que exista receptividade. Pois foi tratando de universos que podem estar tão distantes da realidade do Velho Continente que Raysa Leite e Octavio Sampaio conseguiram ter dois documentários selecionados para festivais de cinema na Europa: “Arcádico” é finalista no First-time Filmmakers Sessions da competição de filmes independentes do Lift-Off Global Network, enquanto “Vivendo da morte” foi selecionado para o festival Cefalù Film Festival, na Itália – “Arcádico” também chegou a ser selecionado, mas foi desclassificado porque o festival é limitado a um filme por produtor.

Os dois documentários foram produzidos quando a dupla ainda cursava jornalismo no CES/JF. “Arcádico” foi realizado para o projeto experimental “A pesquisa como premissa da construção documental”, e “Vivendo da morte” foi produzido para uma disciplina da faculdade, a princípio como matéria televisiva sobre profissões inusitadas. Os dois documentários – sendo “Arcádico” em versão reduzida – ficaram, respectivamente, com as duas primeiras colocações da 5ª Mostra Audiovisual do CES/JF na categoria documentário.

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Atualmente morando em São Paulo, Octavio e Raysa estão desenvolvendo projetos de documentários e programas de TV para a programação local, ainda em fase de construção ou negociação. Já os dois curtas documentais estão disponíveis no YouTube.

Raysa Leite e Octavio Sampaio produziram os documentários quando ainda eram estudantes de jornalismo do CES/JF
(Foto: Divulgação)

Longe de tudo

Com 17 minutos de duração, “Arcádico” é um recorte do estilo de vida de uma pequena comunidade que vive espalhada na região da Serra do Funil, em Rio Preto, com personagens que levam suas vidas num ritmo muito diferente da cidade grande, com suas alegrias e dificuldades, mas que se mostram pouco dispostas a trocar o lugar que escolheram como lar, talvez até mesmo “escolhidas” por ele. Raysa Leite – natural do Rio de Janeiro e moradora de Juiz de Fora desde os 15 anos – conta que frequentava a região desde pequena mas não conhecia as pessoas da vila. Isso mudou, porém, em 2017, quando foram até a Serra do Funil a fim de produzir um material audiovisual com o intuito turístico, para uma disciplina da faculdade.

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“Chegando na comunidade, todos estavam curiosos a respeito de quem éramos e do que estávamos fazendo lá. Tudo isso por causa da criação do Parque Estadual da Serra Negra da Mantiqueira, que abrange a região, e na época estava em fase de estudo pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF)”, explica. “Em pouco tempo, todos descobriram que essa não era nossa seara e logo nos abriram as portas. Já na primeira casa, conhecemos um senhor de Cabrobó (BA), que era andarilho, e há mais de 30 anos divide a casa e cuida do seu amigo, o Zé Mané, nativo da Serra do Funil. Esse estilo de vida em que todos vivem em harmonia e se ajudam, em pleno século XXI, nos chamou a atenção.”

Essas histórias, acrescidas de pesquisas em livros como “A descoberta da Mantiqueira”, de Rodrigo Magalhães, e “Viagem às nascentes do Rio São Francisco e pela Província de Goyaz”, de August de Saint-Hilaire, de 1847, motivaram Octavio e Raysa a registrarem esse estilo de vida, preservado por pelo menos 300 anos na Serra do Funil e ameaçado com a criação de um parque que aumentaria, segundo eles, o número de pessoas e fluxo de negócios. “O August de Saint-Hilaire era um botânico francês que veio ao Brasil com o intuito de descrever as terras a Dom João VI, e fez isso com tamanha atualidade (e semelhança) às cenas que nós, em 2017/2018, estávamos vivenciando”, acrescenta Raysa.

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Da Serra do Funil para a Inglaterra

Segundo Raysa, a resposta a “Arcádico” foi tão positiva que ela e Octavio resolveram inscrever o documentário em festivais, e foi por meio da internet que descobriram o Lift-Off Global Network. “Estamos sempre atentos a festivais e concursos para divulgarmos o nosso trabalho. A expectativa para o resultado final está imensa: olho meu e-mail de cinco em cinco minutos esperando por alguma novidade.”

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A ansiedade deve ser ainda maior porque, de acordo com Raysa, não há data definida para a divulgação do resultado – ela sabe apenas que será em junho. “Não sei quantas produções se inscreveram, e não foram divulgadas as peças finalistas”, acrescenta. O que se sabe é que o projeto vencedor será exibido ao vivo no Pinewood Studios, em Londres, no próximo ano, com a associação profissional da Lift-Off Network para os cineastas e produtores envolvidos com o projeto. “A associação dá direito à equipe de produção a isenção de taxas em 25 festivais associados e a apresentações no FilmFreeway, juntamente ao pacote de suporte de produção Lift-Off no valor de US$ 75 mil.”

Filmado no Cemitério Municipal de Juiz de Fora, ‘Vivendo da morte’ foi selecionado para o italiano Cefalù Film Festival (Foto: Divulgação)

A morte sob o olhar de quem a vive diariamente

Foi também por meio da rede mundial de computadores que a dupla tomou conhecimento do Cefalù Film Festival, que tem início em junho e vai até dezembro, e resolveu inscrever os dois documentários, a princípio ambos classificados até “Vivendo da morte” ter sido escolhido pela necessidade de desclassificar um dos dois.

“Vivendo da morte” era, a princípio, uma matéria televisiva feita para uma disciplina no CES/JF, que deveria tratar de profissões inusitadas, e eles resolveram escolher os profissionais que precisam lidar cotidianamente com a morte. “Eu e o Octavio temos mania de pesquisa. Acreditamos que se vamos retratar algo, precisamos conhecer a fundo, para garantir que passemos a mensagem da forma mais clara ao espectador. Logo, fomos os Cemitério Municipal compreender o funcionamento do lugar, conhecer as pessoas que trabalhavam lá e pegar as autorizações para que pudéssemos fazer as imagens. Fomos muito bem recebidos, ao contrário de algumas funerárias, e convivemos com aquela realidade durante três dias. A matéria televisiva acabou ficando muito longa e com narrativa documental. Então, competimos com ela na categoria de documentário (na 5ª Mostra Audiovisual do CES/JF) e obtivemos um retorno muito legal”, relembra Raysa.

“As filmagens foram feitas no início de 2018”, prossegue Octavio. “Tantas memórias e sentimentos registrados ali que não tem como não refletir sobre a nossa vida. E como disse nosso amigo coveiro, Eduardo, ‘aqui a gente vê a realidade, que não adianta ser soberbo’. Mas essas reflexões ficam apenas nos enormes corredores vazios do cemitério. Com a equipe de coveiros, você vê que ali tem muita vida. São trabalhadores que começam muito cedo o dia, abrindo cova embaixo de sol e chuva. Mas o que não falta entre eles é alegria e disposição. Escutam música e jogam conversa fora, como se nem ligassem para o árduo trabalho.”

 

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