O corpo do dançarino, coreógrafo e divulgador cultural Tufic Nabak foi enterrado na tarde de domingo (28), às 16h30, no Cemitério Parque da Saudade. Segundo um de seus irmãos, Tony Nabak, ele morreu no mesmo dia, aos 45 anos, por volta das 5h30, na Santa Casa de Juiz de Fora, onde estava internado há quase dois meses por causa de um câncer no pescoço diagnosticado em dezembro de 2018. Ainda de acordo com Tony, esta foi a terceira vez que o artista havia recebido o diagnóstico, sendo a primeira delas em 2012.
Nascido em 30 de maio de 1973 na cidade de Ras Baalbek, no Líbano, Tufic logo se mudou para Beirute, a capital do país, onde teve o primeiro contato com o teatro e a dança, em meio à guerra civil (1975-1990) que assolava o país. Por causa disso, seu pai, Kamel, decidiu tirar a família do Líbano. O país escolhido foi o Brasil; a cidade, Juiz de Fora, que ele conhecera em 1986, quatro anos antes de deixarem a terra natal, numa jornada que começou num navio até a ilha de Chipre, onde conseguiram pegar o avião que os levaria para um novo país.
Em Juiz de Fora, eles primeiro instalaram-se na casa de uma tia-avó de Tufic, no bairro Bairu. “Parentes do meu pai e da minha mãe, que vieram no início do século passado, de navio, se instalaram aqui. Meu pai, quando decidiu sair do Líbano, escolheu um país onde tivéssemos alguém para nos receber. Não foi fácil recomeçar. Ficamos quase uma semana para poder acordar, porque tudo foi muito louco. Não foi fácil adaptar, porque era outra cultura, outro país. Sentia saudades. Vim com meu pai, minha mãe e meus irmãos, mas os primos, tios, avós, vizinhos e amigos ficaram lá. Meus parentes aqui são de segundo grau”, relembrou o artista em entrevista para a Tribuna, publicada em junho do ano passado.
Tendo que começar nova vida, primeiramente ele se matriculou num curso de português para estrangeiros na UFJF, mesma instituição em que ele chegou a iniciar o curso de engenharia, que posteriormente abandonou. O mesmo se deu com um curso técnico em prótese dentária. Formação universitária ele concluiu em turismo, em 2003, em Santos Dumont.
A grande mudança para Tufic em terras brasileiras, porém, aconteceu em 1998, quando conseguiu entrar para o elenco de apoio do filme “Lavoura arcaica”, adaptação de Luiz Fernando Carvalho para o livro homônimo de Raduan Nassar. Na ocasião, ele também foi consultor de língua e cultura árabe. “Ali me apaixonei por aquilo e decidi: É isso que eu quero. Foi, então, que fui fazer curso de teatro com o Grupo Divulgação, depois com o GTA e mais tarde com o Marcos Marinho. Estava focado no teatro para fundar o (meu) grupo”, disse Tufic na entrevista em relação ao Grupo Nabak, criado em 2001 no Clube Sírio e Libanês.
Desde então, Tufic passou a ministrar cursos de idioma e cultura árabe, além de dar palestras e realizar apresentações de dança pelo país. Também passou a trabalhar com a Rede Globo, e entre seus serviços para a emissora estão a novela “O clone” (2002); a minissérie “Dois irmãos” (2017), baseada na obra homônima do escritor Milton Hatoun; e, mais recentemente, o trabalho de coreógrafo e preparador de elenco para a novela “Órfãos da terra”, atualmente em exibição.
Tendo vivido mais da metade de sua vida fora do Líbano, Tufic Nabak comentou na entrevista para a Tribuna sobre o sentimento de pertencimento ao país que o acolheu. “Já sou mais brasileiro. Já moro aqui mais do que lá. Mas jamais vou me esquecer da minha terra. Nela nasci e nela me inspiro. Nem a distância, nem o tempo conseguiram apagar esse amor pelo Líbano. (…) Quando alguém fala mal do Brasil eu fico muito triste. Gosto muito desse país. Aqui tem problemas, mas nada se compara à guerra. As pessoas dão mais valor quando vivem uma guerra, quando morrem amigos, parentes e vizinhos seus, quando as bombas caem em cima de você. O Brasil, com todos os seus problemas, não tem guerras, não tem terremotos. É um país maravilhoso, que merece viver mais tranquilidade.”