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Carlos Eduardo Paletta Guedes: ‘Nossa intenção era que a escritura fosse respeitada’

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Um dos mais importantes espaços da cultura e história de Juiz de Fora, o Museu Mariano Procópio (Mapro) padece há quase 15 anos com a sua principal construção, a Villa Ferreira Lage, aguardando o final das quase intermináveis obras de reforma e restauro, dependentes de verbas que nunca são suficientes para cobrir todos os custos dos serviços.

Reportagens sobre a realização de obras, anúncio de verbas, previsão de reabertura, acervo e atividades e exposições na Galeria Maria Amália, reaberta em 2016 – além de visitas guiadas à Villa Ferreira Lage, anunciadas em dezembro de 2019 pelo então prefeito Antônio Almas para o mês seguinte -, fazem parte do acervo da Tribuna há mais de uma década.

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Este ano, porém, o Museu Mariano Procópio foi lembrado, principalmente, pelo imbróglio referente à nomeação da pessoa responsável pela direção da instituição. Em 1936, a escritura de doação do imóvel onde se localiza o museu e seu acervo, que pertenciam a Alfredo Ferreira Lage, determinava que o diretor ou diretora do Mapro deveria sair de uma lista tríplice enviada à Prefeitura pelo Conselho de Amigos do Museu Mariano Procópio, formado por 30 pessoas.

A lista, entregue no final de janeiro, tinha os nomes de Douglas Fasolato, superintendente da instituição entre 2009 e 2017; da museóloga Alice Colucci, que trabalhou no Mapro entre 2004 e 2013; e da historiadora, bibliotecária e arquivista (já aposentada) Maria Lúcia Ludolf de Mello. Um dos três nomes deveria ter sido escolhido em março, quando Antônio Carlos Duarte foi exonerado da função de diretor do Museu; a Administração municipal, entretanto, preferiu nomear, de forma interina, a atual diretora geral da Funalfa, Giane Elisa Sales de Almeida. Como argumento, a PJF justificou que enviaria à Câmara Municipal um projeto de lei a fim de alterar a estrutura administrativa do Mapro.

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Uma mesa de diálogo e mediação de conflitos sobre a gestão do Mapro foi criada, mas o impasse continuou. A questão só foi resolvida em novembro, quando a Prefeitura de Juiz de Fora nomeou Maria Lúcia Ludolf de Mello para a direção do museu. A nomeação aconteceu após o desembargador Alberto Vilas Boas – na condição de relator – rejeitar o pedido de efeito suspensivo da PJF em relação à decisão da juíza Roberta Araújo de Carvalho Maciel, da 1ª Vara da Fazenda Pública e Autarquias Municipais da Comarca de Juiz de Fora, que determinou em 27 de outubro o prazo de dez dias para que a Prefeitura escolhesse o próximo diretor do museu a partir da lista tríplice encaminhada no início do ano.

A possibilidade de mudança na estrutura administrativa do Mapro será agora discutida na Câmara Municipal. Assim, Maria Lúcia Ludolf de Mello segue na administração do Museu Mariano Procópio, respeitando a escritura de doação assinada há quase um século e a lista tríplice do Conselho de Amigos.

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Com o impasse resolvido, o presidente do Conselho, Carlos Eduardo Paletta Guedes conversou com a Tribuna na última semana a respeito dos meses de indefinição quanto à administração do Mapro.

Tribuna – Qual o sentimento entre os membros do Conselho de Amigos do Museu Mariano Procópio quando a Prefeitura anunciou o nome de Maria Lúcia Ludolf de Mello como diretora do Museu, após oito meses de impasse?
Carlos Eduardo Paletta Guedes – Nossa intenção era que a escritura fosse respeitada. Então, quando a Justiça entendeu que a lista tríplice tinha que ser observada e um dos nomes escolhido, os integrantes do Conselho ficaram bastante tranquilos, porque a escritura foi validada pela Justiça. Desde o início entendíamos que a lista tinha que ser observada, independentemente de qualquer discussão que houvesse, e a nomeação da Maria Lúcia veio como a conclusão de um procedimento que entendemos que deveria ser respeitado desde o início.

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Como foi lidar com esse período de indefinição quanto à escolha da nova diretora?
Todo período de impasse é um período de angústia, então a não nomeação de uma pessoa da lista trazia uma preocupação grande para o Conselho, mas jamais deixamos de dialogar tanto com a Prefeitura quanto com a Câmara. Mas, como eu disse, essa tentativa de atrelar um projeto de lei a uma realidade vigente, que era a questão da nomeação, para nós era incorreto, uma coisa não se mistura com a outra. A lista foi entregue e até hoje se discute uma possível alteração na lei, que está na Câmara, lembrando que qualquer alteração legislativa deve observar a escrituradedoação. O impasse precisou ser resolvido na Justiça, pois não houve outro caminho.

Houve algum diálogo com a (então diretora interina) Giane Elisa ou a Prefeitura durante o período em que ela ficou responsável pela administração do Museu, principalmente no que diz respeito às atividades em geral, as obras de reforma e restauração ainda pendentes?
Sobre a gestão, não; não houve nenhuma conversa. A conversa que houve entre nós foi até o encerramento da mesa de negociação, e depois ela se deslocou para a Câmara. Mas no dia a dia do Museu não tivemos nenhuma relação e informação durante a gestão interina.

Qual o envolvimento o Conselho passa a ter na administração do Mapro depois da escolha da diretora? Costuma haver um contato constante entre diretoria do Mapro e Conselho de Amigos a respeito das atividades, obras, prestação de contas?
Nós não temos nenhum papel de gestão e nenhuma programação para impor ao gestor, não é nosso papel. Nosso papel é trabalhar unicamente para o engrandecimento do Museu. Sempre tivemos e esperamos continuar a ter uma parceria para ajudar a Prefeitura no que for necessário. O Museu Mariano Procópio faz parte da estrutura da Prefeitura, que vai estabelecer a gestão, a programação, tudo isso é feito por meio do diretor com a Prefeitura. Quando é preciso uma ajuda voluntária, o Conselho está sempre disposto a ajudar, mas sabemos que há profissionais competentes nos quadros do Museu. Quando precisar de conselho, uma opinião, por que não? Afinal, esse diálogo pode ser importante para a administração.

Quais as expectativas do Conselho para 2022 no que diz respeito à programação, atividades e obras necessárias, levando em consideração que a pandemia ainda pode afetar a presença do público?
Com a melhora do cenário da pandemia, nossa expectativa é que o museu possa reabrir em algum momento com toda sua importância para a cidade, estado e o país, e que o quadro de pessoal seja completado por meio de concurso público. E que o Museu tenha um orçamento à altura do seu acervo.

O Conselho de Amigos do Museu costuma aparecer no noticiário apenas quando é preciso escolher um novo nome para a direção da instituição, mas pouco se sabe sobre sua estrutura e funcionamento. São quantos integrantes? Quais os critérios para escolher seus membros? Existe um mandato ou a vaga é vitalícia? E qual a periodicidade dos encontros, e quais assuntos são discutidos?
O Conselho de Amigos do Museu Mariano Procópio foi criado pela escritura de doação, de acordo com a vontade do Alfredo Ferreira Lage, e são 30 membros eleitos a partir de uma seleção feita pelo próprio Conselho. É uma eleição interna, mas não existe um mandato, a pessoa se torna um “amigo” e permanece no Conselho enquanto houver condições. São pessoas de conhecida contribuição para a cidade, em especial no campo cultural. Nós temos reuniões ordinárias anuais, além das extraordinárias conforme a necessidade.

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