Tem sido assim há mais de cinco meses, e certamente vai se repetir, no mínimo, até o final do ano: por conta da pandemia do novo coronavírus, mais um evento teve que cancelar sua realização presencial e partir para o virtual. Desta vez, aconteceu com o Ibitipoca Jazz Festival, que, depois de 20 edições consecutivas, teve de se render aos “motivos de força maior”. Por isso, a 21ª edição será realizada neste sábado (29) com um show do Dudu Lima Trio com Hérmanes Abreu, transmitido a partir das 17h30 pelo canal do trio instrumental no YouTube. Além da apresentação, o evento vai incentivar o público a fazer doações para o Abrigo Santa Helena, em Juiz de Fora.
Também em caráter excepcional, o show solitário não acontecerá no seu palco tradicional, o distrito de Conceição de Ibitipoca, em Lima Duarte. Os músicos vão se apresentar na área externa do Nave Studio, em Juiz de Fora, porém com o mesmo cenário de fundo e o responsável pela iluminação do festival. Além disso, vários artistas que já passaram pelo Ibitipoca Jazz Festival gravaram participações que serão exibidas entre uma música e outra, entre eles o percussionista Ricardo Frota e os pianistas Fabiano de Castro e Marcos Ariel.
“Temos visto, pela divulgação, que muitas pessoas estão interessadas. Inclusive de fora do país, pessoas que, por causa da live, terão o gostinho de saber como é o Ibitipoca Jazz”, diz Hérmanes, vendo algum lado positivo no cancelamento do evento no formato presencial, que também fez com que pensasse em “ampliar” a audiência para 2021, caso tudo volte ao normal.
“Estamos pensando em fazer o festival presencial e transmitir ao vivo pela internet ano que vem. Acabou servindo de lição pra gente, pois vimos uma oportunidade de ampliar esse público, porque Ibitipoca pode receber um número limitado de pessoas _ no caso do Ibitipoca Jazz, 200 pessoas por noite. Acaba sendo um passo à frente, e já comecei a trabalhar para a edição do ano que vem, que deve acontecer entre 30 e 31 de julho.”
Aproveitando a tecnologia
Para este ano, o Ibitipoca Jazz Festival estava agendado para 24 e 25 de julho, com um line-up que tinha Carlos Malta, Cristóvão Bastos, Hérmanes Abreu Grupo e Dudu Lima Trio. Porém, com a danada da Covid-19 infectando milhões e matando milhares de pessoas por dia, foi preciso cancelar o festival pela primeira vez e redimensioná-lo para a data não passar em brancas nuvens.
“Foi a maior dor ter que cancelar o festival. Eu e o Dudu Lima conversamos durante uma turnê que realizamos no exterior, em 1999, sobre a ideia de fazer um evento inspirado no Festival de Montreaux, na Suíça. Na época não tínhamos verba, patrocínio, e montamos dois shows para sexta e sábado. Começamos com uma coisa pequena, sempre mantivemos os pés no chão, conseguimos tornar o festival financeiramente viável. Depois de vinte anos, tivemos esse problema inédito, fomos forçados a cancelar”, lamenta.
“Num primeiro momento, não tive cabeça para pensar no que fazer, fiquei sem ação. Só fui cair na real quando passou a data, ‘passou o ano e não fiz a 21ª edição’, e ao conversar com o Dudu decidimos pensar em alguma coisa, então iniciamos a produção da live. Fui conversando com os artistas e eles toparam participar, mandaram os vídeos, vi um carinho muito grande por parte deles. Vamos aproveitar a possibilidade que a tecnologia oferece”, acrescenta Hérmanes.
Evento que movimenta o turismo e a economia
Entre lamentações, tombos, sacudidas de poeira e volta por cima, Hérmanes Abreu sabe que o cancelamento do Ibitipoca Jazz Festival tem impacto no turismo do distrito. “O que percebi nesses 20 anos é que a maioria do nosso público vai a Ibitipoca por causa do festival. Temos uma porcentagem que é de moradores locais, que trabalham no distrito, amigos, donos dos restaurantes, mas a maioria da audiência é de gente que muitas vezes nunca ouviu falar do lugar, mas é fiel ao jazz, vai aonde acontece algum evento. E que compra ingresso antecipadamente, reserva hotel e pousadas, pede dicas de hospedagem e gastronomia, e que este ano não foi e não ajudou a movimentar o comércio local”, reflete. “O próprio hotel onde realizamos os shows precisa aumentar a equipe (quando há o festival).”
Por fim, Hérmanes Abreu ainda comenta o ineditismo da campanha para arrecadar fundos para o Abrigo Santa Helena, com a divulgação das contas bancárias da instituição em que o público poderá fazer os depósitos. “Pensamos que alguém, além da gente, precisar ganhar também. Foi daí que surgiu a ideia de fazer a campanha para as pessoas doarem diretamente para o abrigo. Eles ficaram muito agradecidos, porque a situação tem se tornado quase insustentável. Achamos melhor fazer a campanha incentivando a doar diretamente, sem ter a burocracia de passar por nós.”