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Rita Félix: ‘Ex-escravizados tiveram que se reinventar’

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Professora Rita Félix mostra páginas em branco de seu livro fazendo referência ao apagamento do negro na história da cidade e do país após a abolição. (Foto: Fernando Priamo)

Onde estavam os negros após a abolição? Onde estavam na história, nos livros didáticos e na narrativa de Juiz de Fora? As perguntas precediam o silêncio, o que provocou e estimulou a cientista social Rita de Cássia Souza Félix Batista numa das mais vultuosas pesquisas sobre a memória negra em Juiz de Fora após 1888. Sua dissertação de mestrado em etno-história latino-americana tornou-se o livro “O Negro: Trabalho, sobrevivências e conquistas – Juiz de Fora (1888 – 1930)”. E seu doutorado em educação brasileira resultou na tese sobre os clubes sociais negros da cidade. Sua intenção era estudar uma história que não era pautada apenas por dor, tortura, trabalho forçado e falta de cidadania, ajudando, assim, na reescrita de uma narrativa, mais inclusiva e, portanto, mais justa.

Qual era a situação dos negros em Juiz de Fora no momento pós-abolição? Como viviam?
Embora muitos já se encontrassem em situação de alforriados, a situação de abandono por parte do poder político foi marcante, uma vez que não houve uma preocupação em acolher os trabalhadores na nova ordem existente. Com isso, os ex-escravizados tiveram que se reinventar para sobreviverem e manterem suas famílias. Buscavam integração à sociedade que os rejeitava de todas as formas.

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Juiz de Fora viveu o crescimento da industrialização e o desenvolvimento do centro urbano neste mesmo período. Qual é sua avaliação da inserção dos negros neste cenário?
Devemos avaliar a exclusão da população nesse cenário. O Poder Público e demais setores da sociedade se mantiveram com o firme propósito de criar uma sociedade voltada para os padrões europeus em que os valores brancocêntricos deveriam ser incentivados e inseridos em nossa sociedade. O trabalhador ex-escravizado estava distante desses interesses.

A que se deve e como se deu o “apagamento” da maioria negra que residia em Juiz de Fora neste período de nossa história? Encontra paralelos de invisibilidade com o presente?
“O apagamento da maioria negra” é um termo que devemos relativizar. Houve uma tentativa de “apagamento”. A população negra se fez presente à sua maneira, mesmo vendo negados os seus valores, seu trabalho, suas atividades culturais, seus rituais religiosos, dentre outras formas de se expressarem. Algumas conquistas aconteceram. Mas ainda há muito o que fazer.

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