Foram necessários 16 dias para subir uma escultura que vai poder ser vista, praticamente, por Chácara inteira. Sidney Moura, mais conhecido como Todynho, só tinha como base uma imagem: uma projeção fruto de um trabalho que durou cerca de um ano. Uma ideia do artista que foi sendo projetada com arquitetos e engenheiros, sob o amparo da prefeitura da cidade. A estrutura de ferro estava ali, indicando a base de um novo cartão postal. Ele e um ajudante tiveram então que esculpir com a massa branca a forma do Cristo Redentor: a nova escultura do lugar, que está a menos de 30 km de distância de Juiz de Fora, e tem previsão de ser inaugurada ainda em março. O trabalho de Todynho já está concluído. Faltam os arremates finais da obra que promete ser um novo ponto de encontro para os chacarenses e, mais que isso, para os turistas que podem ser atraídos pelo Cristo.
Um lugar bem no alto da cidade poderia ser propício para atrair outras pessoas. É ocupando que esses espaços são ressignificados. Por causa disso, seria mesmo interessante que fosse um Cristo, imagem já tão usada pelo Brasil inteiro, a ocupar o mirante. Todynho já tinha feito escultura semelhante em Olaria, cidade onde reside. Por ter sua arte já conhecida em Chácara, onde sua família mora, ele foi chamado a projetar o monumento e, então, esculpir.
Ele explica o processo: “A ideia foi minha. A gente contou com os arquitetos e os engenheiros para fazerem os cálculos. A partir disso, a gente fez uma estrutura de ferro bem reforçada e colocou camadas de tela. E, depois, foi chapando a massa, enchendo e já esculpindo”. Esse processo, que é todo manual, de olhar e ir preenchendo espaços, dá para ser realizado, de acordo com o artista, em obras de até 18 metros. O Cristo de Chácara tem 12 metros. Pelo tamanho, ele considera que executar o trabalho em 16 dias é bem rápido. Ainda mais tendo apenas a imagem como base. “Eu fiz olhando uma imagem. É difícil, e você tem que ter uma boa percepção de tamanho, porque foi uma foto, uma impressão de modelo, e dalí fui tirando a base.”
Mas isso de do pouco fazer muito é comum na trajetória de Todynho, que tem 37 anos. A partir dos 11, ele se entendeu como artista, passando a frequentar cursos das mais diversas artes, sobretudo com madeira. “Eu fugia da aula para fazer o curso”, brinca. A partir disso, ele já teve seu nome exposto em diversas mostras. A primeira, aos 12 anos, foi no Rio de Janeiro. “Já teve peça minha que foi para Portugal”, conta.
“Eu fui desenvolvendo cada vez mais e aprendendo. Tenho, hoje, diversos diplomas e já ganhei alguns prêmios. É um processo bem legal. Na arte, eu faço de tudo. Eu estudei até a sétima série, porque tive que trabalhar. Mas o meu forte sempre foi a arte. Eu tenho um dom puxado para a arte. Antigamente, eles falavam que o artista que fica muito em um mesmo lugar não é artista 100%. A minha mente funciona mil coisas de uma vez. Eu estou aqui, mas estou pensando em uma coisa, e depois em outra.”
Todynho fez o Cristo com massa, mas seu forte é a madeira. Em casa, por exemplo, fabricou vários itens. “Eu faço de tudo um pouquinho: faca, tábua, coisa decorativa. Muita coisinha. Minha casa você pode falar que é de artista, porque o que mais tem lá é coisa diferente.” Mas, com motosserra, é que faz suas melhores esculturas. “Meu forte é a escultura com motosserra. Eu tiro uma arte da madeira. Eu sou muito curioso, procuro aprender tudo. Eu transformo qualquer coisa. A pessoa tem uma ideia e eu a transformo em prática, em arte.”
Apesar de pensar quase que o dia inteiro em arte, Todynho não consegue, ainda, viver dela. “Hoje, eu não posso trabalhar por conta da arte. No Brasil, é complicado, ainda mais na nossa região, em cidade pequena, que não é tão valorizado. Mas eu sempre faço alguma coisinha”, afirma. De acordo com Bilim (PL), prefeito de Chácara, ter Todynho como o artista responsável pela obra é, também, uma forma de valorizar o que se tem na cidade.
Turismo em Chácara
O prefeito ainda explica que o monumento foi idealizado sobretudo com a ideia de fomentar o turismo na cidade. Ele aponta que, no município, o turismo é voltado principalmente para as belezas naturais, como as cachoeiras. “A nossa proposta é, com o Cristo, alavancar o turismo e atrair investimentos para a cidade. É um espaço tanto para os chacarenses aproveitarem quanto para aqueles que vêm de fora.”
Por enquanto, o espaço, que é também um mirante, conta apenas com o monumento, mas a ideia é usá-lo de outras formas, provendo, por exemplo, eventos e feiras para atrair ainda mais pessoas.