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O que falta para o consumo cultural amplo? Professora responde

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Em 2019, 322 títulos nacionais levaram 20.152.269 espectadores às salas de cinemas brasileiras, somando uma renda total de R$ 276.107.928,66. Enquanto o público caiu em 5,8%, o impacto econômico cresceu em 7,6% em relação ao ano anterior. Ainda segundo dados do Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual da Agência Nacional do Cinema (Ancine), o número de produções lançadas em 2019 foi 11,5% menor do que em 2018. A participação do filme nacional no mercado audiovisual ainda é marcadamente inferior à das produções estrangeiras. Este ano, apenas 12% do público total das salas do país assistiram aos filmes nacionais. É preciso considerar, ainda, que apenas 36% da programação incluiu títulos brasileiros.

Esta semana o governo Federal determinou uma quantidade mínima de dias e de diversidade de títulos para as salas do país em 2020. A cota estabelece, por exemplo, que uma empresa com apenas uma tela deverá exibir ao menos 27 dias com longa nacional e um mínimo de três títulos distintos. Já para um complexo com até 200 telas a quantidade de dias passa a 54, e a diversidade passa a 24 filmes nacionais. A determinação entra em confronto com um cenário cada vez mais desalentador e repleto de complexidades. No Mapa de Complexos cinematográficos da Ancine, que mapeia os espaços para exibição de filmes no país, apenas dois endereços possuem previsão de abertura. Enquanto isso, este ano foram 15 os espaços que fecharam as portas, e outros cinco estão temporariamente paralisados. A concentração das salas no país está na Região Sudeste.

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Se os números divulgados pela Ancine confirmam a existência de uma produção, apontam, no entanto, para uma distribuição incapaz de acessar os 210 milhões de brasileiros. Para reforçar a premissa, basta acessar as listas de livros mais vendidos no país. De acordo com a listagem da PublishNews, portal especializado no mercado editorial, o livro brasileiro com maior número de exemplares comercializados em 2019 foi “Seja foda!”, de Caio Carneiro, na terceira posição, com pouco mais de 188 mil vendidos. Num ranking promovido pela agência Nop World com 30 países onde mais se lê, o Brasil aparece no 28º lugar, perdendo para Venezuela, México e Argentina dentro do continente. Ainda que o mercado sustente uma perspectiva de crescimento para o varejo no próximo ano, o setor não é dos mais fortes no globo.

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E se ampliar o raio e considerar todo o mundo? Como está a produção cultural brasileira? O governo Federal reconhece a urgência do debate e, na última semana, o secretário de cultura, Roberto Alvim, anunciou o projeto para criar um instituto de cultura capaz de promover a realização de projetos com outros países que incentivam a cultura, aos moldes dos populares institutos Goethe, da Alemanha, e Cervantes, da Espanha. E circular é dilema não apenas para as produções nacionais, mas, sobretudo para as locais. Há anos a classe discute a necessidade de criação de um mecanismo capaz de organizar e fomentar a distribuição dos produtos gestados na cidade. Na terceira reportagem da série “Cultura amanhã”, a Tribuna questiona a professora e produtora de cinema Marília Lima, representante do audiovisual no Conselho Municipal de Cultura, sobre a importância da distribuição para o pensamento da cultura.

Como ser propositivo quando a produção da cultura não se vincula à distribuição e ao consumo culturais?

Marilia Lima responde

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Professora do Instituto de Artes e Design da UFJF, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação na Universidade Anhembi Morumbi. Realizadora e produtora de cinema, integra o Luzes da Cidade – Grupo de Cinéfilos e Produtores Culturais, entidade cultural sem fins lucrativos que organiza o Primeiro Plano – Festival de Cinema de Juiz de Fora e Mercocidades desde 2002 e produz mostras de cinema, oficinas, laboratórios de roteiros e debates. Titular da cadeira do audiovisual no Conselho Municipal de Cultura (Concult), é vice-presidente do órgão.

Hoje valorizam-se o patriotismo, a identidade nacional, busca-se o orgulho de ser brasileiro, tudo isso em detrimento daquilo que mais pode criar identificação com um conceito de nação: a cultura brasileira. As produções audiovisuais perpassam esse estado de desvalorização, seja nas realizações mainstream ou nos filmes independentes. Mesmo diante desse cenário, a produção audiovisual não caiu em função do barateamento das tecnologias de realização, da criação de cursos de cinema e audiovisual, das facilidades de exibição possíveis com a internet e com os resistentes festivais e mostras de cinema.
O aumento das produções, no entanto, não é acompanhado pelo crescimento do número de espectadores. Há tanto um problema de planejamento eficiente para que estes produtos audiovisuais cheguem ao público, como também do pouco interesse do público pelos trabalhos nacionais. É um problema histórico que data do início da nossa produção cinematográfica que desde sempre tinha que disputar o mercado com os filmes estrangeiros. Aos poucos, o audiovisual brasileiro encontrou seus espectadores na esteira do streaming, dos festivais e mostras de cinema.
Em meio a escassez de incentivos públicos, na prática, é estratégico fazer bom uso da verba da produção para planejar a distribuição e o acesso ao público. Já no campo político, é importante entrar no embate a favor de políticas públicas de proteção ao mercado brasileiro nos cinemas e na televisão e do incentivo às produções audiovisuais. Estamos nessa luta há anos, mas o que parece mais claro hoje é que só é possível alcançar as vitórias se houver a união de todo o setor audiovisual.

“Aos poucos, o audiovisual brasileiro encontrou seus espectadores na esteira do streaming, dos festivais e mostras de cinema. Em meio a escassez de incentivos públicos, na prática, é estratégico fazer bom uso da verba da produção para planejar a distribuição e o acesso ao público” – Marilia Lima

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