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Exposição virtual sobre percepções da pandemia se desdobra ganha leilão beneficente

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“Olhos”, de Isabela Heluey é a primeira obra da série “Percebo” a integrar leilão beneficente. (Foto: Rodrigo Ferreira/Divulgação)

Fruto da percepção de que os olhos passaram, durante a pandemia, a falar mais que as bocas, cobertas por máscaras, a obra “Olhos” reúne diferentes desenhos do órgão. Como lágrimas, o escorrido próprio da aquarela confere a dramaticidade de um trabalho com outras camadas. Uma delas faz referência à própria raiz da arte executada pela autora, Isabela Heluey. “Olhos” reúne colagens de folhas de desenho deixadas pelo avô, Ney, também artista. Há um ano, a jovem de 24 anos começou a usar pincéis, tintas e papéis que pertenceram ao ancestral. Diluindo, fazia aquarela com tinta acrílica, como ele. Pouco a pouco foi encontrando a própria expressão, sem com isso deixar de mirar os afetos que a inspiraram.

Primeiro trabalho da exposição virtual “Percebo”, produzida com os recursos do edital Na Nuvem, promovido pela Funalfa, “Olhos” é, também, a primeira obra a ser leiloada pela campanha que se desdobrou da mostra de estreia de Isabela. Intitulada de “Do ‘eu’ para o ‘outro'”, a iniciativa busca reverter recursos para a Sociedade Beneficente Sopa dos Pobres, que atende cerca de 200 pessoas diariamente. “Queria fazer alguma coisa com a exposição, porque foi muito intenso colocar minha arte no mundo. Quando comecei a dividir, senti prazer em receber o retorno, senti que estava comunicando com o mundo. A mostra foi o ápice. Não queria que isso acabasse e quis fazer algo maior. Por que não fazer uma campanha que beneficie pessoas vulnerabilizadas pela pandemia?”, explica a artista.

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“Solidão”, de Isabela Heluey, entra em leilão na próxima segunda, 30, na conta do Instagram @umdesenhoeumjazz (Foto: Rodrigo Ferreira/Divulgação)

Sensações pandêmicas
Na série “Percebo”, Isabela Heluey, estudante de jornalismo, articula percepções provocadas pela pandemia, transpostas para texto e traduzidas em imagens. Da solidão ao sufocamento, ativa diferentes reflexões que, por sua vez, desdobram-se em imagens de linguagens distintas, a maioria delas produzidas em aquarela. “O grande desafio foi traduzir minhas percepções para o visual, para uma folha, para um desenho. ‘Camuflagem’, sobre o sentimento de pertencer a um ambiente e não mais notá-lo, foi um trabalho que fiquei louca para fazer, porque não sabia como traduzir”, conta ela.

Aprovada no Na Nuvem, em um mês Isabela produziu a exposição, que inclui sete ilustrações. E vai leiloar cinco delas. O lance inicial de cada obra é de R$ 90. Cinco empresas apoiadoras do projeto dão o lance mínimo e ajudam a divulgar o projeto, que segue até 23 de dezembro na conta do Instagram @umdesenhoeumjazz. “Olhos”, a primeira obra, em menos de um dia no ar já chegou ao valor de R$ 120. Na próxima segunda (30), entra no ar “Solidão”, um dos mais belos trabalhos, no qual agrupa quatro registros de uma mesma face. “Percebo que, no momento em que a solidão toma conta, é quando menos me sinto só, me encontro sempre rodeada de mim, na companhia de várias faces que agora se reconhecem e reúnem pra tomar café. Completamente imersa em um vazio preenchido”, filosofa.

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“Camuflagem”, segundo Isabela, foi um dos maiores desafios na transposição da percepção sobre a pandemia para o papel. (Foto: Rodrigo Ferreira/Divulgação)

O refúgio nas artes
“A quarentena foi meu refúgio e meu ponto de potência nas artes”, sintetiza Isabela Heluey, que passou a se dedicar com afinco à criação artística durante o período. Autodidata, a jovem desde muito cedo vive o que chama de “treinamento de ver o mundo”. Arte era palavra de casa. O avô, juiz de direito, pintava por hobbie, como o pai e a tia, que, ainda, administrava a galeria de arte do Ritz Plaza. “Todo mundo tem uma ligação com as artes. Minha família toda é de artistas. Nunca fiz um curso, nem uma aula relacionada”, assegura ela, com completo domínio da técnica e dona de um sensível discurso.

“Comecei a mostrar no Instagram algumas ilustrações bem despretensiosamente. O pessoal foi gostando e, quando fui ver, já estava imersa. A técnica é que me escolheu. A aquarela é uma tinta muito independente, vai tomando as formas, e o resultado nunca é o que esperamos”, aponta a artista, dizendo-se atenta ao cotidiano que a todo momento pode oferecer-lhe ideias e referenciais. “Hoje, quando olho pessoas e expressões, já penso numa luz bonita, em como desenhar. Isso veio com o tempo, depois que comecei a desenhar com mais frequência.” Enquanto “Percebo”, sua exposição de estreia, é prova dessa concentração, a campanha “Do ‘eu’ para o ‘outro'” é prova de seu compromisso com esse mundo que lhe serve de estímulo.

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