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Pesquisadores lançam nesta sexta livros sobre cultura pop

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O LabCult (Laboratório de Pesquisas em Culturas Urbanas e Tecnologias), grupo que reúne pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFF (Universidade Federal Fluminense), comemora 15 anos de atividades com o lançamento de dois livros de seus integrantes: “Música Pop-Periférica Brasileira: videoclipes performances e tretas na cultura digital”, de Simone Pereira de Sá, e “Vida Pop: Representações e reconhecimentos da cultura pop em ficções de Nick Hornby”, de Thiago Pereira Alberto – atualmente professor na UFJF -, ambos publicados pela Editora Appris.
O lançamento oficial das publicações será nesta sexta-feira (27), às 19h, por meio da plataforma Zoom (), onde será realizado um bate-papo sobre cultura pop mediado pelos também pesquisadores Thiago Soares (UFPE), Nísio Teixeira (UFMG) e Gegê Albuquerque (UFPE). Os livros estarão à venda no site da editora, mas também poderão, num primeiro momento, ser adquiridos com preços promocionais diretamente com os autores por e-mail (thiagopereiraalberto@gmail.com para “Vida Pop” e livromusicapopperiferica@gmail.com para “Música Pop-Periférica Brasileira”). No caso do livro de Simone Pereira de Sá, ele terá a renda revertida para o projeto Mães da Favela, da Central Única de Favelas (CUFA).

Aficionado por cultura pop, Thiago Pereira analisa o chamado sujeito pop por meio dos livros de Nick Hornby (Foto: Maria Clara Pereira/Divulgação)

O Rob Fleming que habita em nós

Os dois livros têm pelo menos dois pontos em comum: a cultura pop em geral e a música em particular. Porém, enquanto o livro de Simone Pereira de Sá tem como objeto de pesquisa o audiovisual que abriu portas para os artistas da periferia, Thiago Pereira Alberto dedicou-se à obra do escritor inglês Nick Hornby, um dos autores mais cultuados entre os fanáticos pela cultura pop, tema da sua dissertação de mestrado. Ele baseou sua pesquisa em dois livros: “Juliet, nua e crua”, de 2011, e “Alta fidelidade”, de 1995, até hoje a mais celebrada obra do escritor.
A partir dessas duas publicações, Thiago propôs uma análise sobre a influência da cultura pop na vida das pessoas, em especial aquelas que, de alguma forma, teriam suas vidas “mediadas” pelo pop por conta da fruição de discos, filmes, livros e séries de TV, entre outros, a ponto de se tornarem sujeitos – ou “sujeites” – pop, que podem se identificar com Rob Fleming, protagonista de “Alta fidelidade”, ou Duncan, personagem principal de “Juliet, nua e crua”. Basicamente, sujeitos que podem se identificar no primeiro instante com uma determinada música, personagem ou artista, e veem na cultura pop uma forma de autoafirmação, identificação com outros indivíduos (“As pessoas mais infelizes que conheço são as que mais gostam de música pop”, diz Fleming no livro de Hornby) e até mesmo bússola moral – e que podem pautar amizades, julgamentos de valor e outras questões pelos discos que a outra pessoa diz gostar.
Thiago conta que leu “Alta fidelidade” pela primeira vez aos 16 anos, em 1998, quando o livro ganhou tradução no Brasil, e, apesar da diferença etária entre ele e o protagonista – Rob já havia entrado na casa dos 30 -, a identificação foi imediata, assim como tantos outros que leram e leem o livro até hoje. “Desde os 12 anos eu vinha me descobrindo como um sujeito roqueiro, viciado na MTV, e ‘Alta fidelidade’ surgiu quase como um romance de formação. Eu me vi naquele sujeito, pois começava a me ver como sujeito pop que ouvia Nirvana e Radiohead, queria ter uma banda de rock, passei a fazer listas como os personagens do livro. O Nick Hornby escrevia sobre mim e meus amigos, que ficávamos discutindo cultura pop o dia inteiro”, relembra. “O ‘Alta fidelidade’ foi um incentivo para levar a cultura pop a sério e mergulhar nesse universo, e até minha primeira escolha profissional (jornalismo) foi influenciada por ele.”

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Idealizadora do LabCult, Simone Pereira de Sá lança livro sobre o uso do audiovisual pela música pop-periférica brasileira (Foto: Júlia Passos/Divulgação)

A periferia abre espaço na Web

No caso de Simone Pereira de Sá, idealizadora do LabCult e professora do Departamento de Estudos Sociais e de Mídia e da Pós-graduação em Comunicação da UFF, o livro “Música Pop-Periférica Brasileira: videoclipes performances e tretas na cultura digital” busca discutir como artistas periféricos, com pouco acesso à mídia tradicional, passaram a utilizar a partir da década retrasada o audiovisual e plataformas digitais como o YouTube para circular sua produção. Na publicação, ela destaca o que classifica como gêneros musicais pop-periféricos, como o funk e derivados, que têm seus videoclipes no topo das listas de vídeos mais vistos no Brasil na última década.
Simone explica que sua pesquisa há muitos anos é voltada para a música no ambiente digital e como isso vai provocando mudanças, inclusive estéticas, na própria música. Por isso, a primeira parte do livro traça a trajetória da MTV no Brasil de seus primórdios até o final de sua primeira fase no país, que coincidiu com o período em que o videoclipe perdeu importância. “Ao mesmo tempo, temos o surgimento do YouTube, por volta de 2005, e entre 2006 e 2008 começamos a perceber essa mudança de sistema, inicialmente com os primeiros vídeos da ‘Batalha do passinho’”, contextualiza. “Isso me fez perceber como a periferia do Rio de Janeiro estava usando as redes, em especial o YouTube, para produzir vídeos com coreografias e construindo uma rede de artistas em que um citava o outro, com características como low tech – de equipamentos baratos -, e colocando os vídeos na rede, mostrando as forças e as possibilidades da plataforma para circular essa produção audiovisual de artistas que não tinham acesso às grandes mídias, trilhas de novelas, ao contrário de artistas de outros gêneros.”
Se o funk foi o ponto de partida para a pesquisa, Simone lembra que o conceito de cultura pop-periférica é muito amplo. “Estou me referindo a gêneros musicais brasileiros que têm origem nas periferias e subúrbios das grandes cidades, e não só no Rio de Janeiro, que são estigmatizados na hierarquia da música brasileira, que não tinham acesso ao jornal e à TV e sempre sofreram preconceitos do tipo ‘isso não é música’, mesmo que tenham muitas inovações técnicas. E é nisso que as plataformas digitais são importantes, assim como o barateamento dos equipamentos, permitindo aos artistas gravarem em celulares e tablets, por exemplo.”
Sem cair no que chama de “discurso deslumbrado de ‘viva as plataformas’”, o livro da pesquisadora defende que elas foram importantes para que o funk deixasse de ser um fenômeno local, em que eventualmente um ou outro artista, como o Bonde do Tigrão, conseguiam alcance nacional. “Com essa visibilidade (por meio das plataformas digitais), o funk vai se desdobrando em outros gêneros como o funk ostentação, o brega funk, a partir dessa rede sociotécnica surgida pela ação desses artistas e das tecnologias. Hoje, o funk é a principal música pop-periférica do Brasil”, defende.

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