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Nara Pinheiro lança seu primeiro disco, “Tempo de vendaval”

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Disco, lançado nesta sexta-feira, está disponível nas plataformas digitas (Foto: Marcela Calixto)

Enquanto banhava seu primeiro filho, também grávida do segundo, chovia do lado de fora da casa de Nara Pinheiro. O vendaval fazia balançar as árvores. Dentro, ela entoava um acalanto para acalmar a si mesma e ao seu menino. Em tempos dos mistérios da maternidade, a flauta, seu instrumento-companhia de tanto tempo, já não podia ser prioridade: ela ocupa a casa inteira. E é preciso, muitas vezes, que haja silêncio. Mas sempre há espaço para a música: essa mesmo entoada em momentos de ninar. Um solfejo que saiu da boca de Nara naquele dia, através de uma audição atenta de seu companheiro, o também músico Márcio Guelber, tornou-se a primeira canção de Nara. Primeiro pensada instrumental, “Tempo de vendaval” já trazia uma ambientação dessa observação e desse momento íntimo. Com letra, virou quase um anúncio do que seria concretizado com o seu primeiro disco, lançado nesta sexta-feira (27), nas plataformas digitas, que leva o nome da música-primeira não à toa. “Invento o arremesso/ Canto para plantar/ Vento ao que virá/ Quando existir é ser/ Trovoada em tempo de vendaval.”

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A canção “Tempo de vendaval” surgiu como grande parte das nove músicas que compõem o disco, através da parceria dela com Márcio. Dividindo vida, casa e projetos, elas vão nascendo naturalmente e intuitivamente, muitas vezes relatando os cenários que envolvem o cotidiano, das paisagens que os rondam ao dia a dia de descobertas. Além dessa, eles também assinam juntos “Clareia”, que abre o disco, “Despertar” e ” Mago”, que já foram lançadas como singles, e “Ilusão”, a única instrumental e que fecha a obra. “Serena” também surgiu em Nara primeiro toda instrumental, e só depois ganhou letra de Juliana Stanzani. As outras três não foram compostas pela flautista, mas conversam diretamente com toda a história que “Tempo de vendaval” conta: “A lô” (Marcelo Gehara/Victor Guelber), “Parto” (Antônio Loureiro/Thiago Amud) e “Miragem” (Marcelo Gehara/Arthur Ferreira).

Outra vida

Vendo o disco agora, pronto, é como se ele fosse outro, diferente de uma ideia inicial de primeiro trabalho. Nara, quando decidiu lançar sua carreira solo, depois de passar por vários grupos, seguiu na música instrumental. A partir de 2015, começou a rodar com um grupo seu em festivais por Minas Gerais. E, em 2017, decidiu que faria seu primeiro disco. “Sempre trabalhei como flautista. E, quando fui mãe, senti que minha técnica instrumental ficou um pouco enferrujada. Comecei a tocar menos a flauta e mais o violão, que era o instrumento possível, que conseguia tocar depois que as crianças dormiam. Comecei a me debruçar no violão e naturalmente foram aparecendo mais canções, fui compondo com letras e comecei a cantar através das minhas músicas.”

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A ideia primeira era de um disco instrumental que, com o tempo de maturação, passando pela gestação de dois filhos e a pandemia, acabou se tornando um disco majoritariamente de canções. Ainda assim, Nara não larga a mão da flauta, o instrumento que a conectou com a música. “Acaba que é um disco de canção, mas tem temas instrumentais. Tem uma música que é toda instrumental, e todas as outras tem uma parte instrumental muito forte. Eu uso muito as flautas como contraponto das vozes, dobrando, criando harmonias com elas. Dentro dos arranjos do disco tem instrumentalização muito forte.” É por isso que letra e música conversam tão bem e ajudam a construir os cenários sugeridos. “Tem uma ideia que eu trago para as músicas que elas sejam também um retrato da minha natureza humana, das coisas que eu gosto de fazer. Eu queria que as pessoas, quando escutassem o disco, sentissem isso. Eu já tentava isso com a música instrumental, que é mais difícil. Claro que com a palavra tem uma ponte mais direta com as ideias. Mas eu sempre quis passar o que me faz enquanto mulher, mãe, musicista, jardineira, cozinheira, enfim, todas as coisas que permeiam o cotidiano e que eu acho que também tempera o que a gente faz. Eu gostaria que as pessoas escutassem e pensassem a paisagem, a atmosfera e o cotidiano retratados.”

O que também contribui para contar essas histórias através de “Tempo de vendaval” é a continuidade e a unicidade que as músicas selecionadas para compor o disco trazem. Isso foi um trabalho principalmente de Antônio Loureiro, que ficou responsável pela direção musical do trabalho. “Ele teve esse olhar de ver o que combinava”, conta Nara. O processo foi feito, em grande parte, à distância, ainda por causa da pandemia. A vontade de Nara mesmo era gravar tudo ao vivo, levar todos os instrumentistas que fazem parte do disco para o estúdio. “Mas eu já estava doida para lançar logo o disco, ver o trabalho nascer. E fizemos à distância.” O que deu certo e chegou no lugar desejado.

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Novos caminhos

Nesse tempo, ainda, outras surpresas. Em 2022, ela ganhou o 21º prêmio BDMG Instrumental com suas composições e arranjos – o que mostra que, de forma alguma, Nara não abandonou seu trabalho enquanto instrumentista. “Só abriu mais caminhos”, afirma. Ao mesmo tempo, foi finalista do Prêmio da Música de Minas Gerais, como cantautora.

Mesmo com tantas transformações, “Tempo de vendaval” é o retrato de Nara agora. Do que faz sentido para ela nesse momento: traz à tona uma carreira que ela vem construindo com base no que sente e vive há tanto tempo e aponta para os caminhos possíveis cultivados por uma mulher, mãe, instrumentista, cantora e compositora. Para ela, o disco significa mudança: “Revirar por dentro e por fora os fatos. Tanto os pessoais, que são bem individuais, quanto os que acontecem no mundo, a loucura política que a gente viveu na pandemia, as incertezas do governo. Esse tempo de vendaval vem pra remoer tanto por dentro quanto por fora as nossas transformações internas e externas que afetam nossa vida enquanto pessoas e sociedade”.

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Agora, Nara quer circular ainda mais. Apresentar seu disco ao vivo. Um show, em Juiz de Fora, está previsto para acontecer em março, com data ainda a ser definida. É uma oportunidade ainda de ela apresentar a versão física de “Tempo de vendaval”, que ela fez questão de fazer pela fisicalidade do CD e das memórias afetivas que ele carrega. Tudo isso foi possível graças à Lei Murilo Mendes, à Lei Aldir Blanc e a um financiamento coletivo, apoiado por centenas de pessoas que ajudaram a construir esse lançamento. Já o Sensorial Centro de Cultura é responsável pela distribuição das músicas.

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