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Com novo disco, Vanguart expõe a maturidade entre amores e desamores

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Foto: Divulgação

De cenho fechado, Fernanda Kostchak, violinista do Vanguart, relembra como o encontro com o produtor Rafael Ramos, no Rio de Janeiro, colocou a banda a se movimentar em direção a um novo disco, o quarto da carreira, quase três anos e meio depois de Muito Mais Que O Amor, o mais solar dos trabalhos do grupo nascido em Cuiabá. “E, então, quantas músicas vocês têm?”, quis saber Rafa, como o carioca é chamado pelos integrantes da banda. Tinham 10, 12 canções, no máximo. Para Ramos, era o bastante para um disco – e ele tinha uma semana livre no estúdio Tambor, no Rio. Para eles? Nem tanto. “Ele nos fez voltar para São Paulo correndo. Assim começou o disco. Foi o timing que a gente não esperava”, explica Helio Flanders, vocalista e um dos compositores da banda.

“Assim, criamos o compromisso”, segue Kostchak, integrante do grupo desde o segundo e mais melancólico álbum da banda, Boa Parte de Mim Vai Embora, de 2011. “E isso favoreceu certas punções naturais que estavam acontecendo com a gente. Foi quando decidimos realmente entrar de cabeça nesse disco e começar a se dedicar exclusivamente. Digo, com foco nisso (o disco), porque sempre somos dedicados, né?”

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Ela sorri. Flanders, jocoso, dá uma piscadela, como se a dedicação não fosse tão constante assim. Kostchak ri alto, acompanhada pelo restante da banda, Reginaldo Lincoln (baixo e voz) e David Dafré (guitarra). É uma brincadeira, entre tantas, que surge espontaneamente na dinâmica do agora quarteto durante a entrevista cedida ao Estado, no restaurante Casa Tavares – o local para papo e sessão de fotos foi sugerido pela violinista, aliás. Eles mostram, sentados ali ao redor de duas mesas, a tal “coisa de curtir nós quatro”, como diz ela.

Beijo Estranho, o novo álbum da banda, é o primeiro da atual formação, sem a presença de Douglas Godoy (bateria) e Luiz Lazzaroto (teclado). As baquetas, no disco, foram divididas entre Loco Sosa e Julio Nganga e o último deve seguir com a banda na turnê subsequente. A ser lançado pela Deck nesta sexta-feira (28), o disco tem sua estreia celebrada com duas apresentações no Sesc Pinheiros, nos dias 13 e 14 de maio. O álbum foi gravado ao longo de 30 dias no Rio de Janeiro, diluídos em duas viagens, em julho e novembro do ano passado.

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“Havia um consenso de que já era hora de começarmos a trabalhar em um novo disco”, admite Flanders, deixando as brincadeiras de lado. Por sinal, duas das músicas presentes em Beijo Estranho, Quando Eu Cheguei na Cidade e Quente É o Medo, assinadas por Flanders e Lincoln, respectivamente, já estavam presentes nos shows do Vanguart – no disco, Quando Eu Cheguei na Cidade é roqueira, preenchida, com Thiago França (Passo Torto e Charanga do França) no sax e na flauta.

Como diz o vocalista, essas duas canções que representam bem as duas metades compositoras da banda. Dois opostos. Nelas, encontram-se as duas forças responsáveis por provocar a faísca: o lirismo melancólico de Flanders e a doçura pop de Lincoln. Ambos, assim como o guitarrista Dafré, experimentaram projetos solos nos quais suas identidades próprias se escancararam. “E ajudou a ter saudade da criação coletiva”, explica Flanders. Kostchak concorda: “Ajudou a separar certas coisas e valorizar coisas com que estávamos habituados”. Voltaram todos, com o impulso de Rafael Ramos, às canções que já reuniam para aquele que seria seu quarto disco.

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Beijo Estranho, tal qual seus antecessores, nasce desse embate, das canções de Flanders, das canções de Lincoln, das canções erguidas da colaboração de ambos. Com os quatro integrantes da banda tendo ultrapassado a terceira década de vida, o álbum traz uma visão não tão trágica da vida, como em Boa Parte de Mim Vai Embora (2011), nem tão solar e florida, como do trabalho mais recente, Muito Mais Que O Amor (2013). Descobriram, na maturidade, o sossego. A certeza de que o mundo ao redor não precisa, necessariamente, ser cinza ou iluminado. Aceitam-se, sem anseios desnecessários, os amores e desamores. As palavras “amor” e “medo” surgem com frequência ao longo das canções e não estão lá despropositadamente.

É o tal “beijo estranho” que dá nome ao disco e à primeira canção do álbum. Lançada semanas antes do disco, a música assinada por Flanders não é considerada single, no sentido de “música de trabalho”, embora tenha sido a primeira revelada do álbum, e causa impacto. “É a canção que mais traz estranhamento para o fã do Vanguart”, analisa o vocalista. “Fomos entendendo que esse não é um disco que será fácil para alguém que costuma seguir o nosso trabalho. O disco anterior era uma espécie de ‘beijo menos estranho’. Esse é estranho”, brinca.

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A canção nasce com urgência e, ao abrir o álbum, apressa o ouvinte a se posicionar na cadeira para assimilar as informações a seguir: o violino aflitivo de Kostchak, em descendente, o piano martelado de Flanders. Há angústia à espreita, pronta para ser liberada, em versos como “espera eu te contar, espera eu te dizer / nunca mais vai fazer, o que você já me fez”, mas, por fim, encontra-se a paz. “Vivi todos os meus dias em ti, mas hoje eu vivo, vivo em mim”, diz o fim da canção.

É como se o Vanguart respondesse a ele mesmo, aos seus discos anteriores. Como diz o verso que abre Pancada Dura, a faixa que encerra o disco: “Ainda não entendo o amor, mas já tenho medo dele”. O amor segue incompreensível, ainda amedronta, mas já não se foge dele: “Eu vou viver o que for, mesmo que me faça chorar”, canta Flanders. “Esse disco é a antítese do trabalho anterior”, diz Lincoln. O anterior já era a antítese do antecessor. Ao completar-se o ciclo, na antítese da antítese, o Vanguart deveria estar de volta ao mesmo lugar. Não estão. Encontram-se noutro ponto. Mais felizes e seguros de si.

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