Poucos artistas fazem tanta falta quanto David Bowie. O cantor e compositor inglês morreu em 10 de janeiro de 2016, aos 69 anos, dois dias depois de seu aniversário e lançar seu derradeiro álbum, “Blackstar”, mas deixou um legado musical incomparável que sempre poderá ser ouvido enquanto houver sol e a humanidade não for à extinção por conta de sua própria ignorância ou um vírus sem cura – ou uma mistura dos dois, o que não é impossível.
Aproveitando que todos estão em casa, a Tribuna dedica o #fiqueemcasa desta quinta-feira (26) ao “camaleão do rock”, relembrando três de seus melhores e mais importantes álbuns. São trabalhos que mostram o talento criativo e a ousadia de David Bowie, que em sua carreira viajou pelas mais distantes galáxias musicais.
Boa música.
“The rise and fall of Ziggy Stardust and The Spiders from Mars” (1972)
David Bowie já havia lançado grandes músicas (“Space Oddity”) e álbuns (“Hunky Dory”, “The man who sold the world”), criado personagens como Major Tom, porém seu quinto trabalho de estúdio é considerado por parcela considerável da fãs e críticos como o ápice de sua carreira, rivalizando com “Heroes”.
A ópera rock do artista inglês teve como inspiração o seu mais famoso alter ego, o alienígena Ziggy Stardust, que vem à Terra alertar a humanidade que o mundo está condenado e tem apenas mais cinco anos de existência. Ziggy, porém, entra numa espiral de drogas, sexo a autodestruição e acaba embriagado pela fama ao se tornar um rock star.
O disco tem alguns dos maiores clássicos do glam rock: “Ziggy Stardust…” apresentou ao mundo standards do nível de “Starman”, “Ziggy Stardust”, “Suffragette City” e “Rock ‘n’ roll suicide”. Muito do sucesso do álbum se deve à Spiders from Mars, banda que acompanhou Bowie nas gravações e que tinha o absurdo Mick Ronson na guitarra.
“Earthling” (1997)
Poucos momentos na carreira de David Bowie exprimem de forma tão clara porque ele merece a alcunha de “camaleão do rock”. Dois anos depois de lançar o experimental “1.Outside” (1995), quando voltou a trabalhar com o produtor Brian Eno, o cantor inglês abraçou a música eletrônica alternativa com “Earthling”.
O vigésimo álbum da carreira de Bowie era inspirado pelo drum and bass e grupos como Prodigy, Underworld e Nine Inch Nails. O resultado foram faixas com “Little Wonder”, “I’m afraid of americans” (sobra de “1.Outside”, era conhecida em outra versão, usada na trilha do filme “Showgirls”), “Dead man walking”, “Seven years in Tibet” e “Battle for Britain (The Letter)”, com batidas alucinadas e guitarras no talo, quase sempre para fazer o ouvinte dançar; mesmo quando o ritmo era mais lento, sempre havia uma guitarra para avisar que a onda, ali, era bem diferente.
Assim como em “Ziggy Stardust…”, “Earthling” contava com uma senhora banda de estúdio – e depois shows -, com o guitarrista Reeves Gabrels (que hoje integra o The Cure), a baixista Gail Ann Dorsey, o baterista Zachary Alford e os tecladistas Mike Garson e Mark Plati.
“The next day” (2013)
Quando todo mundo pensava que David Bowie estava aposentado, o inglês anunciou em janeiro de 2013 que lançaria o primeiro álbum em uma década. “The next day” foi revelado ao mundo em março e já chamou a atenção pela capa, um “remix” de “Heroes” com um quadrado branco com o título do novo trabalho cobrindo o rosto de Bowie, e o “Heroes” original riscado.
Seria muita ignorância dizer que David Bowie fez apenas “mais um disco de rock”. Trabalhando na produção do álbum com Tony Visconti, o artista inglês fez um estupendo álbum de rock – ou art rock, para os que gostam de rótulos mais específicos. A bolachinha já começava com a vigorosa faixa-título, daquelas que seriam capazes de levantar o público em estádios (caso ele tivesse feito uma turnê promocional), e seguia com a agitada “The stars (are out tonight)”, a melancólica balada “Where are we now”, “Valentine’s Day”, “If you can see me” e tantas outras.
“The next day” foi o penúltimo álbum de estúdio lançado por David Bowie, seguido pelo sombrio e excepcional “Blackstar”, marcado pelo câncer que levou o artista tão cedo. Além da surpresa do lançamento inesperado, o disco mostrou um artista em grande forma, num dos melhores trabalhos de sua carreira e da década, daqueles que dão gosto de ouvir até hoje.