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Outras Ideias com Augusto Costa de Oliveira Vale

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Embora aposentado, Augusto é atuante no bairro onde mora, o Bairu (Fernando Priamo)

Na última segunda, Augusto Costa de Oliveira Vale, 70 anos, estava em Juiz de Fora, em casa. Não estava entre os 25 torcedores do Tupi que viajaram até Alagoas para ver o time subir para a Série B. Mais uma vez, Augusto estava distante do grupo efusivo. O ‘torcedor solitário’, como é conhecido no meio esportivo da cidade, estava apenas na companhia de sua faixa e de suas bandeiras, como sempre é. “Não posso ver jogos fora daqui porque sou aposentado, e o dinheiro é pouco. Se eu tivesse condições, teria ido a Arapiraca, até porque é um currículo para o torcedor”, brinca, entusiasmado com o título que considera merecedor. “É fora de série”, diz ele, que assiste a todos os jogos no Estádio Municipal Radialista Mário Helênio sempre num canto longe das pessoas.

“Eu costumava ficar debaixo da cabine, mas era comum encherem um saco de mijo ou água e jogarem. Quando olhava para trás, todo mundo estava sério, ninguém tinha jogado. Não concordo com desrespeito. Aí decidi ir para o canto, onde ninguém me perturba. Estendo as faixas e fico torcendo. Não xingo jogador, árbitro, nada. Ali todos estão exercendo uma função, estar no campo é profissão”, defende o homem baixo, de cabelos brancos, que só se sentiu à vontade para hastear uma bandeira quando deixou para trás o papel de árbitro de futebol.

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“Um conhecido meu me convidou, fiz o curso de arbitragem e logo comecei. O último jogo que arbitrei foi em 1º de maio de 1992. Uma vez, um diretor me disse que muitos não acreditavam em mim por eu ser pequeno, mas isso não tem a ver, já tive avaliação máxima”, orgulha-se o homem que mediava o futebol amador em diferentes bairros da cidade, como Jóquei Clube e São Benedito, além de cidades da região, como Visconde do Rio Branco, Miraí e Leopoldina. Aposentado dos Correios, onde desempenhou as funções de carteiro e auxiliar administrativo, nunca ganhou dinheiro com o esporte. Uma vez, em Ubá, chegou até a receber um bom ordenado, mas foi um momento isolado. “Era mais um passatempo.”

Bexiga de porco

Antiga, a paixão pelo futebol é dos tempos de Divino, cidadezinha da Zona da Mata onde nasceu e da qual se despediu aos 15 anos. A convite de um padrinho, seguiu sozinho para Juiz de Fora, deixando para trás os cinco irmãos e os pais, que mais tarde seguiram seus passos. “Naquele tempo, quando não tinha bola, pegávamos a bexiga de um porco morto e chutávamos para jogar. Marcávamos o gol com tijolos, na rua, no chão batido”, recorda-se. Após passar dez anos trabalhando no Rio de Janeiro, Augusto retornou, prestou concurso público e, em 1976, tornou-se árbitro. “Só fiz o primeiro grau, até tinha a meta de estudar mais, mas foi preciso trabalhar”, lamenta. Quando abandonou os campos, em 1992, foi para as arquibancadas, para onde leva uma faixa com os seguintes dizeres: “Torcedor solitário não vaia/ Torcedor solitário aplaude/ Avante Tupi”.

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Dinheiro demais e de menos

Há cerca de dez anos, Augusto desistiu de assistir à partida entre Tupi e Cruzeiro momentos antes de começar. Um funcionário do clube pediu que ele retirasse a velha faixa do guarda-corpo do estádio e chegou, até, a acionar a polícia. “Tirei e fui ver o jogo em casa. Escrevi uma carta para a imprensa, e o diretor de futebol leu, veio me pedir desculpas e mandou essa faixa, que ficou melhor que a outra”, comenta, vaidoso da tira de plástico que já exige uma nova troca, ainda sem previsão para o ‘torcedor solitário’. A camisa também foi doação: em 2006, quando foi contratado pelo Tupi, Romário autografou e presenteou Augusto. Tudo tem um valor inestimável, diz, principalmente os ingressos (entre eles o primeiro da decisão contra o Santa Cruz, na Série D). “O preço aqui não pode ser alto, porque não há conforto”, reclama. O dinheiro, inclusive, é, para ele, o maior adversário do esporte. “Está difícil de acompanhar, porque o futebol no Brasil hoje é na base do ganha quem tem mais”, alfineta ele, que acompanha pelos jornais, TV e rádio cada passo de seu clube.

1997

O marido da Hebi e pai da Bianca não para. Com suas muletas, devido a um problema no fêmur, ajuda a divulgar os eventos da paróquia do Bairu, integra a Associação de Moradores do Bairu e do Manoel Honório, o Conselho de Saúde de Juiz de Fora, é voluntário da Defesa Civil e frequentador assíduo do Centro de Convivência do Idoso. Nunca está só, garante. Seu lugar na arquibancada é só uma forma de se concentrar mais para não perder nada, para poder guardar tudo numa memória que elege a formação de 1997 como a melhor do Galo Carijó. “O melhor Tupi foi o daquele ano, apesar de ter perdido para o Sampaio Corrêa. Quando o Avaí veio jogar no Estádio, no primeiro tempo, foi 4 a 0 e terminou em 8 a 1 para o Tupi. E o Avaí era da primeira divisão, enquanto o Tupi, da segunda, em seus estados. Naquele ano, só eram precisos três empates, mas ele conseguiu perder as três partidas. Uma pena”, analisa, certo de que a atual vitória é sua melhor companhia daqui para frente.

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