Depois de 15 anos e meio, 38 segundos e 2 milésimos de casada, Milonga lê numa carta do marido Everaldo sua decisão pela separação. A história de ruína transformou-se em tratado do riso pelas mãos da humorista Loló Névves, que há 20 anos encena as desventuras da dona de casa em “A vingança de Milonga”. “A Milonga é uma mulher de meia idade e se veste daquele jeito para ir a uma festa surrealista. O personagem é caricato por conta disso, mas ela é uma mulher comum, uma dona de casa”, ressalta a atriz, que no palco traja um vestido branco com bolas vermelhas e uma maquiagem igualmente exuberante. “Trato de um cotidiano que a maioria das pessoas não para para ver por estar ligada em outras coisas. Como sou autora, estou muito conectada nesse dia a dia, que é muito engraçado, mas as pessoas não veem esse humor. Elas estão preocupadas em ganhar dinheiro, em ter para ser. Faço o exercício contrário, para que as pessoas se toquem de que a vida é um grande pastelão”, ri a humorista, comemorando 35 anos de estrada. De volta à cidade, o espetáculo tem apresentação nesta quinta (26), às 20h, no Teatro Solar, com renda revertida à Associação dos Amigos (Aban).
Autora, produtora, diretora e atriz de “A vingança de Milonga”, Loló diz ser fiel ao texto inicial. “A gente acha que na casa dos outros não acontece muita coisa, mas todo mundo se vê um pouco no Everaldo e na Milonga. Muito pouca coisa mudou no passar desses anos por conta disso, há uma identificação”, constata ela, que atualizou pouca coisa, como a comparação da relação com o World Trade Center, que agora dá lugar a outra imagem, mais irreverente. “Não conto para não estragar a surpresa”, brinca. “Tem gente que já viu a peça umas 30 vezes e ri do mesmo jeito. Tem gente que viu no início e voltou e gostou muito novamente. Em São Luís do Maranhão, a Milonga foi aplaudida em cena aberta. O povo chorou de rir. É um texto simples, de fácil entendimento, que fala do nosso cotidiano”, afirma ela, recém-chegada do Maranhão, onde levou o espetáculo para o agigantado Teatro Arthur Azevedo.
Para Loló, a “peça é viva” e nunca a mesma. “Por causa do público, é sempre outra. Quem é o termômetro é a plateia. Jogo para ela, sinto se está mais aberta ou não. Cada dia entro em cena pela primeira vez, com a mão gelada e ansiosa para ver como vai ser a receptividade. Graças a Deus, há 20 anos sempre sou muito bem recebida”, conta ela, lembrando-se de uma situação vivida recentemente. Do palco, Loló ouviu uma menina de 7 anos, sentada na primeira fileira, virar-se para a mãe e perguntar: “Mãe, ela está falando do papai?”. Era a Everaldo que Milonga se referia, mas, Everaldo pode ser muitos. Da mesma forma acontece com Milonga, universalmente possível. “Não pretendo tirar ela de cena”, enfatiza a humorista, juiz-forana, aluna do Tablado de Maria Clara Machado e radicada em São Paulo. Já internacional, Milonga embarca, em novembro, para Portugal, para apresentações em Lisboa, Porto e Leiria.
A VINGANÇA DE MILONGA
Nesta quinta-feira (26), às 20h, no Teatro Solar (Avenida Itamar Franco, 2.104). Ingressos antecipados à venda no Estacionamento Dom Orione (Rua São João 65) e Lanchonete Caju Cajá (Rua Henrique Surerus 26)