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Silviano Santiago participa de seminário sobre Murilo Mendes em Juiz de Fora

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Murilo Mendes em Paris, em 1955, 20 anos antes de sua morte

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É tempo de Murilo Mendes. Não apenas do poeta que ressurge nas prateleiras com a reedição de sua obra completa, mas daquele que vivendo e escrevendo registrou um momento da literatura brasileira, um passeio pela refinada Europa e uma época em Juiz de Fora – definida por ele como um “trecho de terra cercado de pianos por todos os lados”. “Não sei em que momento minha mãe apresentou seu álbum de moça a Murilo. Ela sempre me disse que ele passara dias a escrever, e que alguns poemas lhe foram depois ditos em voz alta. Quando conheci Murilo, ainda não havia sido apresentada a esse caderno de versos. Só fui tomar conhecimento dele anos depois, já no Rio, e não lhe dei nenhuma importância. Estava em plena fase modernista, contestatória, e os versos ali escritos não pareciam sair do mundo que eu imaginava ser o de Murilo Mendes, para mim o herói da transgressão, aquele que abria guarda-chuvas nos concertos quando ‘assassinavam’ Mozart”, conta a escritora Rachel Jardim em seu “Num reino à beira do rio”, livro no qual resgata um caderno com transcrições de poemas feito por Murilo para sua mãe, trabalho que revela gostos menos eruditos de um escritor que se tornou sinônimo de hermetismo.

Relatos como o de Rachel, dotados de emoção profunda e lucidez marcante, integram a programação do seminário “Murilo Mendes: o poeta revisitado”, que acontece hoje e amanhã, no Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm), festejando o lançamento das novas edições de “Poemas”, “A idade do serrote” e “Convergências”, livros referenciais do poeta, e uma inédita antologia organizada pelos pesquisadores Júlio Castañon Guimarães e Murilo Marcondes de Moura. Os títulos fazem parte do projeto de reedição da obra completa do juiz-forano e são publicados em parceria entre a editora paulista Cosac Naify, a Editora UFJF e o Mamm.

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De acordo com Nícea Helena Nogueira, professora da Faculdade de Letras da UFJF e diretora do museu que preserva o acervo do escritor, essa é uma oportunidade para reconhecer o criador em sua multiplicidade. “Ele dialoga com as artes, a psicologia, a sociologia e com muitas outras áreas do conhecimento. Murilo é completo”, comenta. É o que irá mostrar a leitura da jovem poeta Laura Liuzzi, autora de “Calcanhar”, do experiente Francisco Alvim, que começou sua trajetória na poesia marginal da década de 1970, e do repórter do programa “GloboNews Literatura” Claufe Rodrigues, que já soma mais de 30 anos dedicados à escrita.

Em casa

“Sempre julguei que a crítica literária, ao ler e analisar a poesia de Murilo Mendes, passava ao largo da importância da conversão do poeta ao cristianismo”, pontua o professor, pesquisador e crítico Silviano Santiago, no posfácio da nova edição de “Poemas”, obra de estreia do juiz-forano, lançada pela primeira vez em 1930. Convidado do seminário, Silviano defende, ao lado do pesquisador e professor da USP Murilo Marcondes de Moura, o devido espaço do poeta na literatura nacional. “Vale dizer que a crítica e os historiadores não abordavam a originalidade maior de sua poesia dentro do primeiro Modernismo brasileiro. Na verdade, Murilo deslocava o centro da atenção da ruptura estética insuflada pelos manifestos futuristas de Filippo Marinetti e pela vanguarda das artes brasileiras modernas a uma postura construtivista e minimalista”, analisa, ressaltando que o escritor “difundia uma poética pessoal e única”.

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Como mostra Maria Betânia Amoroso, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) , em seu “Murilo Mendes: o poeta brasileiro de Roma” (Editora Unesp e Selo Mamm) – livro finalista do Jabuti desse ano -, ainda há muito a se descobrir na produção do escritor. Thiago Amud, cantor, compositor e violonista carioca, por exemplo, encontrou uma potência que o inspirou a criar algumas de suas canções, refletindo uma “atmosfera delirante”, o que apresenta em concerto hoje. “É muito difícil se inspirar em um poeta como Murilo Mendes de modo programático. O que funciona comigo é uma espécie de sistema de comunicação que me faz imantado pelos poemas dele. Sou impregnado por ele, pelas imagens e pela força do que ele fez”, destaca o músico sobre o escritor caracterizado por ele como um “poeta metafísico profundo”.

Uma dessas descobertas pode ser o jeito afável do personagem do curta-metragem “Murilo Mendes: a poesia em pânico”, dirigido pelo pesquisador Alexandre Eulálio, que conviveu com o poeta na Itália, quando ambos ministravam aulas na Universidade de Roma. Lançado em 1977, dois anos após a morte de Murilo, o filme mostra o cotidiano dele e de sua esposa, Maria da Saudade, pelas ruas da capital italiana, folheando fotos antigas no apartamento, dissertando sobre a paixão pelos quadros, a relação com os alunos, e o encontro com os amigos Glauber Rocha e Rafael Alberti em fevereiro de 1974. A voz do poeta pode ser ouvida, bem como seus gestos e seus efêmeros sorrisos. A presença de Murilo se faz.

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Quinta – dia 25

15h30 – Palestra com Murilo Marcondes de Moura e Silviano Santiago

16h30 – Apresentação dos grupos de pesquisa sobre o poeta

17h – Exibição de depoimento de Rachel Jardim

18h – Palestra com Maria de Lourdes Abreu de Oliveira e Luiz Fernando Carvalho

19h – Thiago Amud canta poemas de Murilo Mendes

20h – Exibição do documentário “Murilo Mendes: a poesia em pânico”

Sexta – dia 26

15h – Mesa-redonda com Cleusa Rios Passos, Júlio Castañon Guimarães e Maria Betânia Amoroso

17h30 – Homenagem a Leila Barbosa e Maria Timponi

18h30 – Leitura de poemas de Murilo Mendes, por Claufe Rodrigues, Francisco Alvim e Laura Liuzzi

19h30 – Coquetel de lançamento das reedições

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