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Espetáculo on-line sobre Stonewall lança Semana Rainbow da UFJF

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“Tem todo o exercício da intimidade, achei superpertinente convidar o espectador para entrar dentro da minha casa, falar diretamente com ele, contando a história da maneira que é possível”, diz Thiago Mendonça. (Foto: Divulgação)

“Tem certas coisas que a gente não pode deixar de celebrar, e a existência é a principal delas.” Em tempos em que a morte é companhia, o alerta do ator Thiago Mendonça soa na urgência da constatação de que todo ato de resistência é, por excelência, um desejo de vida. A celebração reivindicada pelo ator carioca radicado em São Paulo foi iniciada há um ano, resgatando uma resistência de meio século. “Stonewall 50”, espetáculo que ele apresenta neste sábado, no lançamento da Semana Rainbow da UFJF, exalta todo o desejo de vida que tomou as ruas de Novas York logo após a invasão do bar Stonewall Inn, localizado no bairro de Greenwich Village, em Manhattan.

“Eu tinha a fantasia de fazer 50 apresentações. Ano passado, desde que a peça estreou, justamente no dia 28 de junho, na exata data do cinquentenário, experimentamos bastante e fizemos quase 30 apresentações. Este ano estava marcada a reestreia para o dia 27 de março, mas já havia começado a coisa toda da quarentena”, conta ele, que ainda se apresentou duas vezes em formato on-line. “Tem todo o exercício da intimidade, achei superpertinente convidar o espectador para entrar dentro da minha casa, falar diretamente com ele, contando a história da maneira que é possível”, diz o integrante da Companhia de Teatro Íntimo, com trabalhos em TV e no cinema, onde já interpretou Renato Russo, no filme “Somos tão jovens”, e o sertanejo Luciano, em “2 filhos de Francisco”.

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A montagem íntima ganha a rede na véspera do Dia do Orgulho de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Queers e Intersexos (LGBTQI+). Além da peça, o “Esquenta Rainbow” terá, na conta do Instagram do evento (@semanarainbowufjf), a partir das 20h, a roda de conversa “StonneWall 51 anos e os diálogos com a história do movimento LGBTTIQ+ no Brasil”, com a participação do historiador e ativista norte-americano James Green, além de uma performance do artista Michael Beau, crooner e mestre de cerimônia do Stonewall Inn. A Semana Rainbow da UFJF acontece entre os dias 10 e 16 de agosto, em formato on-line.

Tribuna de Minas – O que Stonewall representa na sua vida e na sua arte?
Thiago Mendonça – Representa uma importância histórica, um marco, uma resposta à repressão, um grito por direitos. Por mais que seja uma coisa que tenha acontecido lá nos Estados Unidos, reverbera na minha vida e na de toda a comunidade como um símbolo da luta por direitos. Na minha vida ele chega através do Renato Russo, daquele disco dele “The Stonewall Celebration Concert”, em que ele celebrava os 25 anos (do protesto). Foi a primeira vez que ouvi falar do bar (Stonewall Inn). É um disco fundamental. A revolta aconteceu lá, onde eles têm uma relação diferente com a memória, com o preservar da história. Não que aqui não façamos, mas é muito difícil manter vivo um valor cultural para os acontecimentos históricos, principalmente os da dita minoria de direitos. Daí a necessidade de falar e fazer, para não deixar esquecer, para celebrar. Para mim se tornou um pretexto para falar de mim, da minha vida. Passo pelo o que aconteceu lá, mas falo de Phedra de Córdoba, da Vange Leonel, como uma tentativa de celebrar essa galera.

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“A revolta aconteceu lá, onde eles têm uma relação diferente com a memória, com o preservar da história. Não que aqui não façamos, mas é muito difícil manter vivo um valor cultural para os acontecimentos históricos, principalmente os da dita minoria de direitos. Daí a necessidade de falar e fazer, para não deixar esquecer, para celebrar”

Thiago Mendonça: “Sou um homem gay cisgênero com total respeito a todas essas mulheres, que foram a linha de frente de Stonewall, as travestis marginalizadas, as transgressoras, que para nossa comunidade são heroínas” (Foto: Divulgação)

A Phedra é uma personagem muito representativa dessa luta em nosso país e sempre teve que resistir muito.
Em vários níveis. Ela resiste por ser um corpo trans, uma travesti. Resiste por ser artista. Resiste por ser imigrante. Depois resiste por ser velha, porque a Phedra faleceu com 70 e tantos num país em que a expectativa de vida das meninas (trans) é de 30 e poucos. E sempre foi uma pessoa muito vibrante, potente e alegre, até onde pôde ser. A vivência dela no Teatro Oficina até a despedida foram lindas. A vida dela foi sobrevivência e também festa e celebração. Uma vida que talvez não seja a da maioria das travestis do nosso país. É muito diverso, e a peça celebra a diversidade e tenta incluir o maior número de pessoas nessa celebração. Sou um homem gay cisgênero com total respeito a todas essas mulheres, que foram a linha de frente de Stonewall, as travestis marginalizadas, as transgressoras, que para nossa comunidade são heroínas. Neste momento estranho de repressão, é importante falar. A gente tem voz porque essas pessoas lutaram e conquistaram essa voz.

Como é trabalhar sua exposição em cena? É necessário dosar o que cabe ou não levar para a peça?
A dosagem é particular e pessoal, mas não tenho uma preocupação muito grande com isso. Por mais que eu fale de mim, é um roteiro pensado, e a dosagem está aí, na história que acompanha aquele traçado. É um rito, uma homenagem, uma citação a certas pessoas que existiram e com as quais tive muito cuidado para não me apropriar. Conto a história da Marsha (Johnson) e da Sylvia (Rivera), mas em nenhum momento tenho a pretensão de “ser elas”. Por isso parto de mim, da minha vivência.

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Alguns críticos definem o espetáculo como uma palestra performática, e outros, como um teatro documental. Consegue definir esse trabalho?
É difícil. Definir é limitar, e acho que ele transita entre muita coisa. Às vezes não consigo definir nem se uma obra é drama ou comédia. Uma obra bacana passeia, pode ser séria e cômica ao mesmo tempo. Eu definiria como uma celebração. Tem um karaokê no meio. É palestra? É, porque conto fatos. É performativo? É, porque estou falando de mim. É documental? É, porque falo de algo que aconteceu. É um pouco de tudo, uma manifestação plural.

“A Parada aqui abraça nossa cultura de brasileiro, de um povo muito “festivo”. Nossa forma de celebrar é diferente. Lá eles chamam de marcha, com seções, aqui tem trios elétricos e festa. E está tudo bem. É preciso celebrar. É a forma que encontramos de dizer que estamos aqui”, defende Thiago Mendonça. (Foto: Divulgação)

Juiz de Fora extinguiu a Parada Gay na defesa de que, hoje, a luta deveria seguir outras direções. Neste momento muito se fala de direitos cassados silenciosamente. Acredita que a luta ainda deve se dar em todos os níveis, em todos os espaços e em todas as direções?
Em 1970, quando nasce a primeira passeata em Nova York, não existiam essas mídias todas que temos hoje, por mais que a rebelião de Stonewall tenha saído nos jornais da época. A passeata era a forma que existia de mostrar que estamos vivos, existimos e resistimos. Aqui não temos muito dessa cultura da passeata política. Tem coisas que acontecem bastante na Paulista e no Anhangabaú, mas tem outro caráter. A Parada aqui abraça nossa cultura de brasileiro, de um povo muito “festivo”. Nossa forma de celebrar é diferente. Lá eles chamam de marcha, com seções, aqui tem trios elétricos e festa. E está tudo bem. É preciso celebrar. É a forma que encontramos de dizer que estamos aqui. É importante que se mantenha. É preciso manter a luta em todos os níveis.

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Esquenta Rainbow
Neste sábado, 27, a partir das 20h, no @semanarainbowufjf

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