As coisas, pessoas, lugares, ganham novas significações e importâncias com o passar do tempo, por sua vez indiferente a como nós, mortais, o encaramos. Basta observar, por exemplo, a Praça Dr. João Penido, a Praça da Estação, que por muitos anos teve importância particular na história da cidade pelas construções em seu entorno e por ter, logo à frente, a antiga Estação Ferroviária de Juiz de Fora, principal ponto de chegadas e partidas até a inclemente decadência do transporte ferroviário. Hoje é ainda área movimentada, principalmente durante o dia, para quem procura os pontos de ônibus a fim de seguir para seus bairros. A estação, sem seus passageiros, passou a ser ignorada, ainda que tenha ganhado sobrevida com o Museu Ferroviário e suas atividades.
Mas é logo ali na calçada onde se localizam os pontos dos coletivos, ocupando um dos antigos prédios da estação, que se localiza uma das mais antigas instituições ligadas à cultura local: a Associação de Belas Artes Antônio Parreiras, que de portas abertas de segunda a sexta-feira costuma ser pouco notada pelos pedestres/passageiros ocupados e preocupados em chegar em casa apesar de ter em seu acervo obras de alguns dos mais importes nomes das artes plásticas surgidos em Juiz de Fora e que, apesar das dificuldades financeiras, mantém uma série de atividades durante o ano.
Criada em 6 de setembro de 1934 como um desdobramento do Núcleo Hipólito Caron, o então Núcleo Antônio Parreiras ganhou esse nome em homenagem ao pintor fluminense (1860-1937) por conta de sua passagem pela cidade e teve entre seus mestres e alunos nomes como Ângelo Bigi, integrantes da família Bracher (como Décio, Carlos e Celina Bracher), Wanda e César Turatti, Manoel Carriço, Dnar Rocha e Inimá de Paula. Depois de passar por diversas sedes, a Antônio Parreiras ocupa o prédio que pertencia à antiga Rede Ferroviária Federal (atual MRS) desde 1999, renovando periodicamente e que abriga o local de exposições (segunda a sexta-feira, das 9h às 17h) mais as salas de aula pela manhã, tarde e noite, também de segunda a sexta-feira, e ateliês, que podem ser utilizados pelo artistas e alunos.
Dificuldades financeiras
E é aí que se encontra o grande desafio da Associação de Belas Artes Antônio Parreiras: manter as atividades do espaço e sua conservação com a única fonte de renda que possui: as mensalidades pagas pelos alunos, que de acordo com a instituição são cerca de 50 atualmente, revertidas para o pagamento de professores e contas de água, telefone e luz, entre outras, além dos professores e demais funcionários. Atual presidente da Associação, Miguel Ângelo Trindade diz que a principal luta, atualmente, é para não fechar o espaço – um risco que não é novidade para eles, e que só não aconteceu no final da década de 1990 quando, segundo ele, o então prefeito Tarcísio Delgado, junto com a Funalfa, conseguiram a cessão do prédio que pertencia à antiga estação, que inclui o ainda operacional relógio da torre e tem no piso os famosos ladrilhos hidráulicos da fábrica de Pantaleone Arcuri.
– A Antônio Parreiras está em vias de ser tombada como patrimônio imaterial da cidade, mas as dificuldades financeiras são grandes – alerta Miguel, apontando que ele e outros associados buscam formas de manter não apenas as atividades da Associação, mas também para fazer as reformas necessárias na construção, como a troca de toda a parte elétrica do edifício. “A situação melhora um pouco durante o ano, quando o número de alunes aumenta”, salienta.
Professora desde 1997 da Associação, a vice-presidente Marli Barra do Nascimento reafirma a necessidade imperiosa de se obter mais recursos para manter e restauras as instalações da Antônio Parreiras, que ainda vê como referência na cidade. Somos procurados por jovens, crianças, adultos e idosos. É uma instituição das mais antigas de Juiz de Fora, enquanto outras fecharam continuamos em atividade.”
Também professora, Maiza Kaprini lembra de quando chegava a ter 65 alunos por turma, sendo necessário cadastro de reserva, e vê com tristeza a pouca procura, numa época em que chegava a fazer duas exposições individuais por ano. “É preciso ter outros espaços para exposições, pois a maioria fechou as portas. Como as pessoas vão se sentir estimuladas (a aprender) se não veem exposições pela cidade? Como que pode Juiz de Fora não ter uma galeria de arte? Quem vem até nós vem por vocação mesmo.”
Exposições e excursões entre as atividades
Professora há quase 40 anos da instituição – e também coordenadora -, Sônia Rezende destaca o “acervo espetacular” mantido pela Associação de Belas Artes Antônio Parreiras. “Temos muitos artistas de renome que começaram nas belas artes por aqui, como o César Turatti, Carlos Gonçalves. Por isso, a cada mês mudamos as obras em exposição, para aproveitar essa variedade. Muita gente não sabe o quanto a Associação Antônio Parreiras é importante para a história e a cultura da cidade, o quanto acompanhou todo esse crescimento”, diz.
Além das mostras com o acervo próprio, alguns meses são dedicados a exposições especiais. Uma delas é o Salão Oficial Municipal, que acontece em maio para coincidir com as comemorações do aniversário de Juiz de Fora, e que recebe obras de alunos e professores da instituição e também de artistas de todo o país que participam do processo de seleção. Também fazem parte da programação oficial o Salão Primaveril, um Salão com tema livre e o Salão da Marinha, com obras inspiradas pelo mar. É possível ainda para os artistas reservar datas para exposições temporárias.
Outra atividade realizada pela instituição são as excursões para visitar exposições e museus em outras cidades. A próxima está marcada para 23 de fevereiro e vai levar um grupo para visitar o Solar do Jambeiro, o Museu Janete Costa de Arte Popular, o Museu de Arte Contemporânea (MAC) e o Museu do Ingá, em Niterói (RJ). As excursões são abertas para os interessados em geral por arte.