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Paulo Guilhon lança romance ‘Ndzinji’

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Hipólogo com mais de 30 anos de ofício, Paulo cria atmosfera fictícia para retratar ensinamentos transmitidos pela equitação (Foto: Fernando Priamo)

Cavalo de potência não é apenas uma medida bastante utilizada na indústria automobilística, mas uma força de vida. “As ordens de cavaleiros, existentes no passado, como a Ordem dos Cavaleiros Templários, eram escolas iniciáticas, nas quais ingressavam homens que queriam fazer trabalhos sobre si mesmos. O cavalo sempre foi usado como escala de medida. Ele reflete nossa ação sobre ele. Tem uma frase da cavalaria medieval que diz: traga-me seu cavalo para que eu possa saber quem você é”, explica Paulo Guilhon, que, em seu “Ndzinji” (Chiado Editora), leva os cavalos do trabalho diário para a literatura ficcional. “Enxerguei isso logo, é uma reminiscência, porque já fui cavaleiro muitas vezes, em outras vidas. Não tenho a menor dúvida disso. Tem coisas que escrevo aqui e não sei de onde tiro, não tenho pesquisa, sento e escrevo. Obviamente, trago à tona uma série de arquivos que estão comigo há muito tempo. Já frequentei essa escola várias vezes, essa ‘Escola chamada cavalo'”, diz, referindo-se ao título do primeiro volume do que imaginava ser uma trilogia, com “A escola chamada cavalo” e “O livro dos estereogramas”, ambos contemplados na atual publicação, e “Islândia”, já escrito e à espera de uma edição.

O despertar do romance de Paulo é, ironicamente, com uma paralisia. Um coma, palavra que representa imobilidade e, também, a crina do cavalo. Na história, um jovem em coma é transportado, por afinidade eletromagnética, para outro plano dimensional e encontra um conselho formado por 13 mestres da cavalaria, um deles faz homenagem a Dom Quixote, conduzindo o aprendiz às suas missões. “Num aspecto metafórico, o aprendiz e esse personagem, o Mestre Cavaleiro Andante, são duas metades de um mesmo ser. O aprendiz é a personalidade em busca de aprimoramentos. O Cavaleiro Andante é a consciência convidando a personalidade a superar seus limites. É um tratado esotérico bastante profundo”, classifica o autor.

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Já no segundo livro, incluído em “Ndzinji”, o jovem volta paralítico do coma, sem a memória do que aconteceu no outro plano, e começa um tratamento com a medicina ayurvédica e, quando seu médico viaja, deixa com ele “O livro dos estereogramas”, onde cada um dos 13 estereogramas, que se relacionam com os 13 mestres, levam-no a 13 portais distintos de aprendizado. Num dos portais, ele encontra o Mestre Cavaleiro Andante, que o apresenta ao Castelo dos Prazeres, metáfora da vida urbana, onde acabam se tornando prisioneiros. “É um Matrix medieval esse livro”, comenta Paulo, que logo na nota de abertura referenda as homenagens que se espalham pelas páginas da obra, a autores clássicos da literatura universal, como Miguel de Cervantes, Dante Alighieri, Victor Hugo, Leonardo Da Vinci.

“Sou escritor, estou no cavalo. Nasci escritor. Minha via de expressão é a escrita. Sempre me utilizei dela, desde criança”, conta o escritor, que se expressava em diários, cartas e, agora, em romances. “Uso o cavalo como pano de fundo porque é o meu elemento. Se fosse piloto de helicóptero, usaria aquilo como pano de fundo para escrever a mesma obra. O livro é um romance cavaleiresco fictício, de cunho filosófico, e todo o argumento é de linguagem metafórica, com grande parte do conteúdo de natureza autobiográfica. Daí vem o título, que é um vocábulo de origem africana, que significa o primogênito”, explica.

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‘Fui salvo pelo cavalo’

Aos 4 anos, Paulo Guilhon ganhou seu primeiro cavalo. “Com 14, comecei a domar cavalos. Com 20 anos, comecei a dar assistência para criadores de cavalos, o que faço até hoje. Minha prestação de serviços inclui todo o meio equestre, com palestras, clínicas, cursos, programas de treinamento, assistência técnica e consultorias”, conta o homem com 33 anos de estrada na hipologia, “o conjunto de ciências acerca do cavalo e das atividades que o inclui”. “No Brasil, devemos ter meia dúzia de profissionais”, pontua o colunista, por sete anos, da revista especializada “Horse” e colaborador de tantas outras, além de livros técnicos como o novo “Equitação educacional”, no prelo.

Dizendo estudar “medicina há 30 anos, pedagogia há 30 anos, filosofia, esoterismo e outras coisas mais”, Paulo é um autodidata de muitos interesses. “No livro, um mestre diz ao aprendiz: O verdadeiro aprendizado sempre é autodidata, porque ele demanda um movimento do aprendiz na direção daquilo que quer ser apreendido”, comenta ele, certo da potência (de muitos cavalos) do conhecimento. Por isso se permite explorar o universo literário. “De alguns anos para cá, minha relação com o cavalo já não é mais direta. É indireta. Uso o cavalo como ferramenta para ajudar as pessoas.”

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“Essa ciência, em muitos momentos, é esporte, noutros, lazer, em alguns, regozijo e, em todos, deveria ser a mais refinada arte. Ingressar nos mistérios da equitação é iniciar viagem sem retorno e sem fim. Nenhum de nós jamais afirmou ter finalizado o processo. Ele é a própria marcha da evolução retratada na fantasia da simbiose entre duas espécies habitantes desta escola que navega pelo espaço sideral sem deixar rastros”, escreve o autor na primeira parte da obra. “Passei por essa escola. Eu era um delinquente. Tive problemas na infância e na adolescência, de ordem familiar, e era o sujeito mais revoltado desse mundo, uma pessoa de difícil adaptação a qualquer contexto. Fui salvo pelo cavalo. Silenciosamente ele me resgatou e me reeducou. Agora, minha retribuição é passar isso a outros.”

Publicada pela portuguesa Chiado, já com sede no Brasil, a retribuição literária de Paulo – que autografa o título na Bienal do Rio, no estande da editora, no próximo dia 3, às 11h – é, também, sua particular e afetiva continuação de um gigante. “Isso é um ‘Dom Quixote'”, diz ele, batendo a palma da mão no livro que traz na capa um desenho do famoso personagem. “Fiquei muito revoltado quando o Cervantes matou o Dom Quixote. Fiquei de luto por meses. Precisava ressuscitá-lo. Mas esse é um ‘Dom Quixote’ futurista.”

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Lançamento da obra de Paulo Guilhon, nesta quinta, 24, às 18h, na Livraria Leitura (Av. Rio Branco 2.161)

 

 

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