Com a pandemia do coronavírus a se espalhar pelo país, restou à classe artística em geral paralisar as atividades em quase 100%. Não dá para fazer show, encenar peças, expor em galerias; o possível e necessário é ficar em casa e, se possível, aproveitar o período para criar _ influenciado ou não pelo isolamento social forçado. Em alguns casos, dá até para lançar um livro, um disco…
Para Igor Silveira, a quarentena já rendeu pelo menos um fruto: o single “Lembra como é bom”, lançado na última sexta-feira (19) nas plataformas de streaming. A música foi composta pelo artista na casa de seus pais, em sua terra natal, Santos Dumont, para onde foi logo no início da disseminação da Covid-19, e que tem servido de base para a criação de novos e futuros sons.
Uma das inspirações para o single foi a música “Me conta da tua janela”, da dupla Anavitória, que serviu de gatilho para colocar em letra e melodia todos os sentimentos, angústias, ansiedades, esperança e lembranças dos tempos em que era possível encontrar os amigos, ir à rua… Foi a partir do refrão “lembra como é bom andar na rua” que ele pegou o violão, ligou o microfone no computador e gravou a versão inicial da música, que busca passar uma mensagem positiva para todos que estão, de alguma forma, no mesmo barco.
“O início da gravação se deu ali no dia 19 de abril, cerca de um mês após o início do isolamento social no Brasil, tempo que já foi suficiente para me deixar borbulhante de sentimentos precisando de um escape. A válvula para aliviar essa confusão dentro de mim foi escrever uma música que falasse um pouco sobre o que estava sentindo naquele momento. Foi logo depois que ouvi a música da Anavitória que me senti pronto para lavar a alma escrevendo minha canção de quarentena“, relembra.
Distante das ruas, dos amigos…
Antes do single, Igor chegou a lançar no final de março, em seu canal no YouTube, uma apresentação de seu EP “Sozin”, no esquema voz e violão. Desde então, tem encarado o isolamento social e dá suas impressões sobre os últimos tempos. “Acredito que ninguém estava pronto para estar distante, porque, no fim das contas, a gente, como sociedade, cresce para estar perto um do outro”, reflete. “Como músico, devo dizer que depois de dois anos consecutivos tocando em todos os fins de semana do ano, tem me feito uma falta danada não fazer shows. Além de músico, sou também estudante de Letras na UFJF, e outra das coisas de que mais sinto falta é a certeza de toda semana poder encontrar meus amigos. Essa coisa de conversar, abraçar, sair, passar o aniversário por perto faz uma falta danada no coração da gente.”
Projetos a partir de casa
Igor Silveira tem aproveitado o tempo para trabalhar em novas composições; porém, o objetivo é continuar com os singles e pensar em algo maior. “Venho me dedicando – e isso vem desde antes da quarentena – à composição e produção de músicas novas que penso funcionarem bem numa lógica de álbum ou EP, que muito me agrada, pois me remete aos grandes discos lançados por meus artistas favoritos, como os Beatles. Quero muito lançar até o fim do ano um trabalho que traga um conjunto de ideias que conversem entre si, não deixando de lado ao longo do segundo semestre o lançamento de singles, essas músicas soltas que fico ansioso para compartilhar com as pessoas e que nos mantém conectados.”
Sobre seguir compondo em tempos de pandemia, Igor destaca o fato de ser responsável por todo o processo, da criação à finalização. “O processo de gravação e mixagem das músicas demanda certo trabalho, e isso me toma bastante tempo de dedicação, o que não é nenhum problema, pois acho essa etapa de estúdio uma parte mágica da criação musical. Pelo fato de meu estúdio ser meu próprio quarto, tenho me sentido confortável nesse processo de trabalho, me sentindo assim menos aflito pela obrigação de ficar em casa, medida que sem dúvida alguma precisamos tomar agora.”
Clipe
Além de trabalhar em novas composições, Igor lança na próxima quinta-feira (25), em seu canal no YouTube, o videoclipe colaborativo de “Lembra como é bom”. A namorada de uma amiga do compositor deu a ideia para o vídeo, que reúne registros pessoais de amigos espalhados pelo país que representassem afeto pelos momentos cotidianos. No total, participaram mais de 30 pessoas. “A gente encontra ali imagens de amigos, família, da rua, do verde, de festas, aniversários, dos bichinhos… Para mim, ainda que não sejam nossos aqueles momentos, eles são. Assistir ao clipe é entrar em conexão com memórias nossas que são coletivas, apesar de tão particular para cada pessoa que enviou um vídeo.”