Lançado na tarde desta quarta (24), o manifesto de apoio ao Bloco Meu Concreto Tá Armado circulou pelas redes sociais e mobilizou cerca de 400 internautas nas primeiras quatro horas do abaixo assinado pela permanência do grupo na programação oficial do carnaval de Juiz de Fora. Segundo Antônio Moreira, um dos organizadores do bloco, a esperança é de que a concentração na Praça Jarbas de Lery Santos e o desfile pelas ruas do Bairro São Mateus mantenham-se como o agendado, para o sábado dia 3 de fevereiro. “Já tentamos fazer uma denúncia no Ministério Público, mas não foi aceita, por considerarem que não há um caráter público no pedido”, revolta-se. “O bloco teve uma anuência dos vereadores, que foi promulgada pelo Poder Executivo, e vem uma associação de moradores derrubar isso. É incoerente”, acrescenta o organizador, referindo-se à inserção do evento no calendário oficial de Juiz de Fora, em lei de autoria do vereador Betão (PT), sancionada pelo prefeito Bruno Siqueira (PMDB) e publicada em abril de 2017.
Sem chegar a um consenso com a Associação de Moradores do Bairro São Mateus, o bloco é o segundo na cidade a ser impedido de desfilar ou concentrar por decisão de entidades de moradores. Após dois anos de duras negociações, o Come Quieto não ocupou as ruas do Alto dos Passos em 2017 pela negativa de autorização da Sociedade Pró-Melhoramentos (SPM) do bairro. “Há uma lei em Juiz de Fora que diz que quando há o fechamento de rua tem que ter anuência das associações de moradores. Por esse motivo, sempre exigimos que os blocos tragam a anuência. Infelizmente (o pedido de apoio para) dois ensaios do Bloco Domésticas de Luxo e o Meu Concreto Tá Armado não foram deferidos. O Domésticas de Luxo vai desfilar normalmente, descendo o Calçadão do Parque Halfeld até a Praça da Estação”, explica o superintendente da Funalfa, Rômulo Veiga.
A gestão do espaço público em xeque
Em 2017, o Meu Concreto Tá Armado levou à praça cerca de três mil foliões, número que, segundo estimativa da organização, poderia crescer em mais de 30% em 2018. De acordo com Homero Adário, presidente da Associação de Moradores do Bairro São Mateus, “ano passado houve apenas um incidente de roubo, mas os moradores reclamaram da urina nas lojas e nos prédios do entorno da praça”. Alvo de crescente interesse de organizadores de festas e feiras, o local inspirou a criação, conforme Adário, de um departamento de eventos na associação de moradores. “Vários moradores do entorno fazem parte dele. Ano passado ficou decidido que não teria mais eventos grandes na praça, porque trazem transtornos para os moradores. Há venda de bebidas e nunca tem banheiros químicos na quantidade adequada. No fim das contas vemos muita urina no chão e nas paredes”, reclama o presidente da entidade, apontando, ainda, a quebra do acordo de término da folia no último ano.
“Ficou acordado de terminarmos às 21h, mas é impossível que o bloco tenha controle sobre a ocupação da praça. É injusto creditar ao bloco a permanência das pessoas”, pondera Antônio Moreira. Para o organizador do bloco criado em 2007, no Instituto de Ciências Exatas da UFJF, tendo como integrantes diversos acadêmicos do curso de arquitetura e urbanismo, o que está em jogo é o uso do espaço público. “De certa forma, essa associação está definindo uma ação da política cultural da cidade. E pelo que entendo, eles não têm essa autoridade. Tentamos outras formas, outros lugares no bairro, mas em lugar nenhum foi permitido”, diz, referindo-se ao desejo de o bloco ocupar, como a feira livre, a Rua Coronel Pacheco. “Eles foram irredutíveis. Também sugerimos criar um corredor para os prédios da praça”, acrescenta Moreira, morador de uma das construções que compõem a paisagem do local, na lateral da Jarbas de Lery Santos.
Segundo Homero Adário, da entidade dos moradores, o local é atípico por contar com prédios em seu interior. “Bloco nenhum valoriza praça”, defende ele, para logo justificar a autorização cedida a apenas um grupo durante os 15 dias de folia. “Eventos de menor impacto estão permitidos, como o Blocão, feito por empresas que vendem ração e lojas de pet shop, na parte da tarde, sem bagunça, num movimento de até cem pessoas”, aponta, afirmando a incapacidade de a praça acolher milhares de pessoas. “Ninguém manda mais na porta de casa do que outros moradores da cidade. O espaço é de todos”, argumenta Antônio Moreira, para logo enfatizar a posição rígida do Meu Concreto Tá Armado: “Não podemos e não vamos desistir do espaço público”.