“Computadores fazem arte
Artistas fazem dinheiro
Computadores avançam
Artistas pegam carona
Cientistas criam o novo
Artistas levam a fama”
Canção presente no clássico álbum “Do caos à lama”, que marcou a estreia de Chico Science & Nação Zumbi no mercado fonográfico brasileiro, “Computadores fazem arte” era uma das pedras fundamentais do movimento mangue beat. Ainda que diga muito a respeito de vários “criadores”, ela não traduz a realidade por completo: há artistas, e muitos, que fazem arte e que nem sempre ganham dinheiro com seu ofício. Mas que gostariam – e mereciam. Em Juiz de Fora mesmo, há toda uma geração emergente com disposição para mostrar sua arte e viver do seu trabalho como criadores não pelos ditames do capitalismo selvagem, mas sim por merecimento e desejo de confirmar o valor presente em sua criatividade. É essa turma que participa, a partir desta sexta-feira (24), do “Mercado de Arte Lampejo”, que ocupa o espaço da Hiato – Ambiente de Arte até 2 de dezembro.
São oito artistas (Guilherme Melich, Ingryd Lamas, Thiago Britto, Daniel Rzdr, Mariana Procópio, Henrique Gonçalves e Dalton Carvalho), que vão apresentar seus trabalhos na coletiva, que engloba expressões como artes plásticas, fotografia, macramê e design, com o objetivo de facilitar não apenas o consumo de obras de arte a preços mais acessíveis, mas incrementar a relação entre o artista plástico e o público, seja ele consumidor ou apenas admirador. Serão obras de vários formatos e valores, com a intenção de incrementar o mercado de trabalho dos artistas locais. Além dos expositores, o evento terá discotecagem dos DJs Gramboy nesta sexta-feira (24) e Kureb no dia 2 de dezembro. Ainda na sexta-feira, Marina Barbosa, da Maricota Confeitaria, foi “desafiada” pela produção do evento a criar pratos “ousados esteticamente”.
O Mercado de Arte é mais uma iniciativa da Lampejo, projeto criado por Ingryd Lamas em 2015 e que tem entre suas realizações a mostra de sketchbooks, realizada em 2016, e o lançamento da “Revista Lampejo”, previsto para 10 de dezembro, além de um perfil no Instagram em que um artista fica responsável por apresentar durante uma semana suas referências artísticas, entre outras. Já a ideia da exposição surgiu no início do ano, a partir da percepção de que faltam espaços para os artistas emergentes apresentarem e comercializarem seus trabalhos.
“Resolvemos fazer um evento coletivo, tanto em termos de organização quanto de realização”, explica Ingryd, ressaltando que um dos objetivos é que o Mercado seja realizado duas vezes ao ano. “Queremos apresentar os artistas que estão à margem, comendo pelas beiradas, pois vemos como é difícil trabalhar sozinho. A atuação em conjunto fortalece nossa exposição.”
Obras até R$ 1.000
Ingryd destaca, entretanto, que o “Mercado de Arte Lampejo” não é um “supermercado da arte”. “Queremos ajudar a mudar essa ‘mística’ de que obra de arte é cara, inacessível, e mostrar que é possível comprar, sim, e sermos a ponte que facilite a intermediação e que o público seja um mecenas também. Ao mesmo tempo, queremos que as pessoas saibam que elas não devem vir apenas para comprar, também queremos que elas conheçam nosso trabalho.”
Nesse ponto, Guilherme Melich, um dos artistas participantes da exposição, lembra que muitos nomes da área cultural chegam a ter vergonha de comercializar suas obras. “Não podemos ter medo de precificar o que fazemos, fazer o público se acostumar com o comércio de trabalhos e não se assustar com os preços.” O discurso é reforçado por Dalton Carvalho. “É importante que a galera saiba que artista é um profissional que também tem contas a pagar.” No caso da exposição, Ingryd diz não haver um limite mínimo ou máximo obrigatório, mas que será possível encontrar trabalhos abaixo de R$ 100 e que nenhum vai ultrapassar a barreira dos R$ 1.000 reais.
Para a primeira edição, Ingryd Lamas procurou nomes que tivessem produção coesa e consistente dentro do mercado emergente de arte na cidade, e que a adesão foi praticamente total entre os convidados, com uma diversidade marcante de estilos. “Trabalhar junto fortalece nossa proposta de viver da arte”, acrescenta Mariana Procópio.
MERCADO DE ARTE LAMPEJO
Abertura nesta sexta-feira (24), às 19h. 25 de novembro, das 10h às 19h, 27 de novembro a 1º de dezembro, das 9h ao meio-dia e das 14h às 18h, e 2 de dezembro, das 10h às 19h. Hiato – Ambiente de Arte (Rua Coronel Barros 38 – São Mateus). 3216-4727.