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Profissão: digital influencer

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Layla Hallack, Helena de Sá e Ca Villas fazem parte da geração de blogueiras profissionais de JF (Foto: Marcelo Ribeiro)

Não precisa ser lá muito conectado para já ter ouvido palavras como digital influencer, blogger, Youtuber e outros estrangeirismos que se referem a atividades que nasceram e estão cada vez mais em alta na internet. Em português claro, as duas primeiras significam “influenciador digital” e “blogueiro” e a última se refere a quem produz conteúdo para o Youtube  (maior plataforma de vídeos do mundo, mas isso certamente você sabe). 

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Na próxima terça-feira (25), Juiz de Fora terá a segunda edição do Encontro de Blogueiros de JF e região, que busca formar redes de contatos e fortalecer a atividade (para quem faz isso profissionalmente ou não).

” Sem parcerias e uma cadeia de contatos com outros influenciadores, nenhum blog vai para frente. Não se aprende sozinho, não se chega aos contatos de marcas que podem se tornar anunciantes sozinho, é preciso estar em contato com os outros”, explicou a Helena de Sá, do blog Garotas Rosa Choque , uma das organizadoras do evento, que se juntou a Camilla Villas e à Laila Hallack para um papo comigo sobre a profissionalização do mercado de influenciadores digitais, o que a carreira exige e os desafios do dia a dia.

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Cheguei ao bate-papo com as meninas cheia de questionamentos sobre a vida de digital influencer ( Foto: Marcelo)

Também na organização, Camilla, do Blog da Ca, destacou que, como cada blog costuma ter um público  específico, conhecer pessoas de diversos nichos permite “indicar e ser indicado”. “Por exemplo, outro dia uma marca me procurou para falar sobre moda plus size. Eu disse que poderia falar do meu ponto de vista de blogueira de moda, que estudou e tem formação no assunto. Mas indiquei a Helena, que tem um blog que é específico sobre mulheres plus size, autoestima, empoderamento e teria muito mais propriedade para fazer uma parceria com a marca do que eu.”

Para a Laila, que tem o blog  Laila Hallack só há dois meses, iniciativas como o encontro são também uma oportunidade para quem está começando, como ela, aprender os paranauês deste mercado digital com quem já está nele há mais tempo. ( A Ca e a Helena, por exemplo, são veteranas, a primeira com cinco e a segunda com seis anos de conteúdo on-line). “Apesar das dificuldades, quem tá começando agora chega num mercado e um ambiente melhor, já preparado por influenciadores que atuam há mais tempo com profissionalismo.  Estou ansiosa para trocar experiências, conhecer quem também está produzindo conteúdo, ver perspectivas e mostrar para o mercado que existe sim, uma rede sólida de influenciadores digitais na cidade”, opinou.

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Para  contar melhor um pouco do que este povo que estará no encontro faz profissionalmente, fizemos um vídeo com as meninas, explicando tim-tim por tim-tim o que é ser uma influenciadora digital, como se ganha dinheiro com isso,  as dificuldades e a rotina, entre outras coisas. Confira aqui:

 

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[su_youtube url=”https://www.youtube.com/watch?v=GPAFC5Iyue8&feature=youtu.be”]

 

Tá, e daí?

Quando os blogs surgiram, lá no comecinho dos anos 2000, havia um tom muito de registro pessoal, de um cantinho para publicar o que se pensava e/ou produzia, muito mais em um sentido de satisfação pessoal do que com qualquer sentido empresarial. Hoje, com a evolução das tecnologias,  das plataformas de conteúdo como os blogs, a explosão das redes sociais e o aumento massivo do acesso ao meio digital (quase todo mundo tem um smartphone, tablet, computador ou qualquer coisa que se conecte à internet), estes canais de comunicação ganharam novas funções, novos papéis, novas possibilidades, e uma delas foi se tornar um mercado.

A facilidade de produzir e acessar conteúdo via smartphone deu mais visibilidade aos digital influencers (Foto: Marcelo Ribeiro)

 

Como assim?

Com o aumento do público na internet e a popularidade de blogs e outros canais de comunicação, postagens com indicação de produtos, serviços, viagens e mil outras coisas se tornaram comuns. O mercado, espertão que é, ficou de olho, e começou a patrocinar postagens ( em blogs, Instagram, Youtube, Snapchat e diversas outras plataformas) ou, como se diz em digitalês, promover publiposts (veja o vídeo que as meninas explicam tudinho)  e chamar estas pessoas para palestras, workshops e demais eventos relacionados a seus nichos, recebendo para tanto.

“As pessoas tendem a pensar que as marcas procuram quem tem muitos likes, muitos seguidores, muitos views. O barato da internet é esta aproximação com o público, esta sensação de que ‘estou indicando isso aqui para você, minha amiga’, que é muito mais eficiente para uma empresa, atingindo seu público-alvo, do que um anúncio massivo ou um post com merchan descarado“, explicou Helena.

Funciona assim:  a Helena tem um blog que fala, entre outros assuntos, sobre moda plus size.  Então marcas deste segmento a procuram tentando fazer uma parceria financeira em que ela anuncie seus produtos na plataforma, sendo paga para isso. “Procuro sempre deixar claro quando é uma indicação minha mesmo e quando é um publipost e estou recebendo. O leitor tem direito a saber”, opinou, Helena, levantando outra questão inerente à relação entre blogueiros, marcas e publicidade.

 

Vale tudo por dinheiro?

A Laila ilustrou bem como acredita que deve funcionar a relação entre a publicidade e a identidade dos influenciadores. ” Um dos assuntos que trato é a culinária sem glúten porque sou celíaca. Então, não posso me associar, por exemplo a uma marca de farinha de trigo.  Só pelo dinheiro? É preciso manter uma coerência, ser fiel ao que atraiu os leitores ao meu blog em primeiro lugar, que é a identidade dele e a minha própria, a maneira como trato os assuntos”, opinou a blogueira.

A Helena conta que nem a possibilidade de ter parceria com grandes marcas nacionais a desviou do seu papel de empoderamento e autoestima das mulheres plus-size. “Fiz parceria com uma marca de lingerie, o que já é um avanço, claro, pela proposta de se associarem a uma mulher gorda. Mas no post, contei como foi legal participar disso, como adorei vestir a marca, mas que esperava que eles desenvolvessem mais modelos e peças plus size, porque a maioria não vestia manequins acima de 54 e havia poucas peças de cada modelo. Se eu só dissesse como tudo era lindo, corria o risco de perder a credibilidade com seguidoras que fossem à loja e não encontrassem o produto de seu tamanho. Para um influenciador, perder a confiança do público é a morte digital”.

 

Helena tem mais tempo de blog , e falou sobre a evolução da profissão em JF, apesar de ainda haver dificuldade (Foto: Marcelo Ribeiro)

 

Não dá para falar qualquer bobagem

Camilla destacou que muitas pessoas, em busca apenas de projeção e dinheiro, levam a um descrédito da profissão de blogueira. “As pessoas acham que não há trabalho, estudo por trás do que fazemos. Há pesquisa de público, estudo formal os assuntos de que falamos. Acham que blog é selfie, look do dia e salão”, disse ela, que ainda argumentou sobre os perigos disto. “Quem não conhece o meio e começa a postar apenas assim, sem conteúdo, sem estudo, só para para se autopromover, exerce uma influência muito negativa sobre o público, que acha que ter blog é sinônimo de glamour.  Isto reforça padrões de beleza, vida e estéticos irreais e nocivos, é uma irresponsabilidade com a autoestima e até a saúde de quem lê. Ninguém fica montado ou feliz o dia todo, o blogueiro também não tem que estar.”

Para Helena, muitos influenciadores contribuem para a perpetuação de preconceitos e equívocos. “É como alguém que posta no Snapchat ‘Atenção gordinhas, o Passatempo está em promoção’, ou quem posta no Instagram que ‘jacou’, ou a menina que deita em uma maca de uma clínica de estética e põe uma legenda como ‘Para ser bonita, tem que sofrer’. Estes discursos são sexistas, gordofóbicos, só reconhecem um tipo de beleza e podem ter efeitos graves”, pontua. “E as marcas estão de olho nisso, né? Uma clínica que vende tratamentos estéticos indolores jamais vai querer (ou deveria) se associar com a ideia de sofrer para ser bonita!”, completou Camilla.

Para Laila, não dá para perder de vista o poder das ferramentas de comunicação que os influenciadores têm em mãos. “Temos que pensar em como isto vai atingir o público. O discurso tem que ser verdadeiro, refletir o que pensamos, mas jamais reproduzir preconceitos ou não levar em conta de que estamos falando de pessoas com histórias, condições financeiras, aparências, enfim, vidas muito diferentes. É preciso ter muita responsabilidade.”

 

Profissional, sim!

Para as meninas, a profissionalização da função de blogueira aconteceu mais ou menos da mesma forma. “Senti que virou profissão quando meu tempo todo era dedicado ao blog e que eu estava sendo procurada pelas marcas, e não ao contrário. Foi aí que criei uma empresa  como microempreendedora individual e passei a tratar tudo como negócio. Hoje tenho uma equipe com contador, programador, fotógrafo, relações públicas e, ocasionalmente, assessor de imprensa”, contou Ca Villas.

A Helena aprendeu a se virar sozinha: sabe programar, diagramar, editar vídeos, faz maquiagem, contabilidade, design e tudo mais que aparecer. “Minha equipe sou eu e o fotógrafo. Acho que porque tenho muito tempo de mercado, faço as coisas de uma forma mais old school,  mais ‘bloco do eu sozinho'”, brincou ela, também microempreendedora individual, revelando que, além do apelo comercial, outro fator que a levou a se perceber como profissional quando começou a tocar a vida das pessoas.

“Quando um discurso meu, por mais simplista que seja, ajuda alguém a ter autoconfiança, a se amar mais, vejo que realmente estou influenciando vidas e isto é maravilhoso. Aliás, os comentários sempre são um termômetro do alcance de um blog, mesmo quando tem haters. Quer dizer que você está sendo lida e notada”, opinou. Para ela, uma das maiores dificuldades da profissão é ser reconhecida como tal aqui em Juiz de Fora. “É impressionante e lamentável que a gente seja cahamada para eventos em grandes centros como Rio e São Paulo, e aqui, os cursos de marketing, os eventos de moda e outros ignorem nossa influência. Isto está mudando, algumas marcas e iniciativas estão atentas a este processo e não coincidentemente, são os líderes em seus segmentos.”

A Laila, que está em processo de registro como microempreendedora,  viu tudo acontecer muito rápido. “Mal lancei o blog e tive a sorte de começar a ser procurada por algumas marcas e eu não estava preparada para isto: não sabia preço,  ainda não havia identificado um nicho, traçado estratégias, mas como a demanda surgiu rápido, logo procurei me planejar para atendê-la e passei a ver o blog como minha empresa mesmo”, explicou ela, que tem duas consultoras (que atuam na parte de planejamento comercial, negociando as parcerias), um programador e fotógrafos contratados por projeto.

(Conteúdo exclusivo para assinantes)

 

 

 

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