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‘O segundo original’ reflete sobre a arte da reprodução no Espaço Cultural Correios

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(Foto: reprodução)

Colaborativismo e apropriação de conteúdo acontecem a todo tempo, são premissas da cybercultura. Tudo está disponível. Baixa, copia, salva, passa por um aplicativo de filtro, se faz colagem, vira de cabeça para baixo, joga uma mensagem de rap por cima e mescla com um beat original. A mistura do que já existe é o novo. Saber criar essas conexões é fazer bricolagem, tem tudo a ver com a cultura punk, hip-hop, e, se for analisar, com toda forma de criação artística. Sobre tudo se originar de algo pronto, todo mundo já sabe, mas os mashups deixam à mostra, de forma íntegra, em forma de citações em música, cliques de fotografias com mesmo ângulo e olhar, cenas refilmadas e intervenções em pinturas clássicas.

Venina Sparano é artista plástica e foi figurinista durante anos de sua experiência com tecidos. Em suas mais recentes obras, faz remixes de um recorte da história da arte. Os pós-impressionistas situam-se em 2017 com menos pinceladas e mais alinhavos. São os (re)toques de Venina, que busca perfeição nos detalhes, em obras reunidas na mostra “O segundo original: influências do pós-impressionismo”, aberta ao público nesta quarta-feira, 23, no Espaço Cultural Correios.

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“Já que se muda completamente o material, busco criar de forma real o que o pintor fez, é praticamente uma reprodução”, esclarece a artista, que há mais de dez anos cria reproduções utilizando tecidos e materiais de costura. Pela primeira vez, ela expõe na cidade e conta que é interessante que os quadros estejam aqui, já que apesar de viver no interior do Estado do Rio, compra seus tecidos e materiais de armarinho em Juiz de Fora.

“Segundo original”

“A dançarina de ballet”, de Henri Matisse. (Foto: reprodução)

Seu questionamento principal é: “No mundo atual, onde tudo é remix, o que difere um original de uma cópia?” A partir disso, aparece o “segundo original”, conceito que conheceu por meio de Celina Sodré, diretora de teatro. Muito se transfere de uma mídia para outra, um livro que vai para o cinema, um poema tão tocante que recebe melodia. Mas em Venina, a tela continua sendo a plataforma de criação, o que difere são os materiais para essa arte. Desde criança aprendeu a costurar e tingir tecidos com sua mãe e avó, o figurino virou seu ofício. A exposição, segundo ela, sintetizou tudo, “continuo fazendo roupas, sapatos, só que agora representando”.

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Klimt e Matisse são artistas têxteis, faziam experimentações em tecidos e com tecidos, assim como Vuillard, muito presente entre as 16 obras que a artista traz em sua exposição, sob curadoria de Jeanne Duarte. “Faço no tecido o que eles viram, olho para os quadros e penso: esse tecido que ele representou só pode ter sido cetim”, comenta Venina. A experiência de fazer o espectador sentir-se olhando para o mesmo objeto que o pintor encarava enquanto criava é uma das propostas dessa viagem ao pós-impressionismo. Henri Rousseau, Paul Gauguin, Toulouse-Lautrec, Félix Vallotton, Pablo Picasso, Diego Rivera, assim como Edouard Vuillard e Henri Matisse serão facilmente identificados por quem visitar “Segundo original”.

Quartos originais

Além disso, foi escolhido o quadro “O quarto azul”, de Suzanne Valadon, uma das únicas pintoras mulheres pós-impressionistas. Suas pinturas subversivas eram reflexo de seu estilo de vida, que fugia aos padrões da época. Sendo, por exemplo, a primeira artista mulher aceita pela Société Nationale des Beaux Arts. Outra obra reproduzida é o “Quarto em Arles”, de Van Gogh. Venina o viu originalmente e, após algum tempo, descobriu que, apesar de a parede pintada ao fundo estar, hoje, em um tom de azul, como é reproduzida em gravuras, Van Gogh pintou de roxo, e com o desgaste do tempo, a matiz se tornou azulada. Dessa forma, sua recriação é feita resgatando o roxo original.

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Sobre seu questionamento, talvez a resposta esteja na dialética da palavra: o “segundo”, no sentido de instante, no lampejo que se transformou naquela criação, que deixa de ser a única original no segundo seguinte, quando passa a pertencer ao campo de referências do mundo, podendo se transpor a um novo original a qualquer momento. “Na natureza nada se perde, nada se cria. Tudo se remixa”, finaliza a curadora, em uma frase metalinguística, que remixa Lavoisier, ao passo que fala sobre o processo em si.

 

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