No início, João não colocou muita fé que poderia participar da feira “The other art fair”, em Chicago, nos Estados Unidos, mas mesmo assim decidiu tentar. Fez a inscrição e escolheu fotos de outra feira, a de São Joaquim, que fez em Salvador, na Bahia, para mostrar o seu trabalho aos curadores. O resultado, positivo, foi inesperado, e agora o artista vê a participação na exposição como ponto de partida para começar a solidificar a carreira, para então poder viver da fotografia. “Realmente não esperava que isso fosse acontecer. Eu me esforço bastante, busco sempre o aprimoramento, e para isso demando muito tempo dos meus dias estudando e pesquisando fotografia”, diz o jovem João Victor Medeiros, de 21 anos, estudante de jornalismo na Faculdade de Comunicação da UFJF.
Para viabilizar a viagem aos Estados Unidos e participação do evento, João está promovendo uma vaquinha on-line, vendendo rifas, produzindo colagens, entre outras alternativas, tudo isso para tentar arrecadar R$ 16 mil. Os recursos serão usados para pagar os custos necessários para expor as obras, como estande, design, iluminação, impressão e emolduramento das fotos, além dos gastos com passagens e alimentação.
O incentivo para a aventura de João surgiu depois que a professora do ensino médio Renata Caetano enxergou no jovem a possibilidade de ter seus cliques exibidos. “Ela viu que era uma feira que busca artistas novos, emergentes, e dá espaço para essas pessoas que ainda não estão inseridas em grandes galerias, museus, e disse que eu tinha potencial”, conta João.
Da intuição para o aperfeiçoamento
A fotografia apareceu na vida de João em 2013, em um dos eventos promovidos pelo coletivo de hip-hop Vozes da Rua, do qual participava. No ano seguinte, em um encontro de MC’s, houve um contato mais forte com as lentes. Um colega, Pedro Henrique (Oldi), levou o flash novo que tinha acabado de comprar e foi aí que João se sentiu instigado. Pediu para fotografar. “Oldi me ensinou coisas básicas, mas nada de técnicas específicas. Eu fotografei, achei que fui bem esse dia. Mas hoje eu vejo que as fotos não estavam tão boas assim”, relembra.
Aquele evento foi o start para o juiz-forano registrar as primeiras imagens. De 2014 até a metade de 2015 ele fotografou com câmeras emprestadas. Ainda em 2015 João comprou seu próprio equipamento e pôde fazer cliques com mais frequência. A partir de 2016 começou a estudar técnicas e se aperfeiçoar para conseguir chegar às referências que trazia da sua paixão pelo cinema. “Antes era só intuição e a linguagem, por conta de consumir muitos filmes. Minha formação foi muito autodidata, conversando com amigos que conheci ao longo do caminho.”
Outras histórias por outros olhares
João pretende, com seu trabalho, contar histórias que geralmente não são registradas pela grande mídia. Para ele, quando se trata de fotografar grupos marginalizados, na maioria das vezes as imagens estão ligadas ao sofrimento, à dor e à miséria. E ele quer mostrar que essas pessoas também se apaixonam, sorriem, têm sonhos. “Eu pretendo contar outras histórias sobre essas pessoas. Nunca com a pretensão de ser um salvador, mas de estar próximo e poder contar outras histórias mostrando a beleza que tem, por exemplo, um trabalhador de feira”, disse. O jovem afirma que essa visão vem em parte por influência do fotógrafo João Roberto Ripper, que diz: “Quero que as pessoas queiram bem aos meus fotografados”.
Sobre a feira
A The other art fair (em tradução livre, A feira de uma outra arte) apresenta trabalhos de 130 artistas independentes e emergentes, cada um escolhido por um Comitê de Seleção de especialistas do mundo da arte, e é realizada em várias cidades, como Bristol e Londres, na Inglaterra, e Melbourne, na Austrália. Nos Estados Unidos, terá exibições de obras em Los Angeles, Nova York e em Chicago, entre 28 e 30 de setembro.